Deolindo Amorim, ilustre espírita, profundo estudioso e divulgador da Codificação Espírita, fundador do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, em dado momento, em seu livro Allan Kardec (1), pergunta qual o objetivo do estudo de uma biografia do codificador, ao que responde: “Naturalmente um objetivo didático: tirar a lição de que necessitamos aprender com ele, através de sua vida e de sua obra, aplicando essa lição às diversas circunstâncias da vida”.
Muito significativa essa assertiva de Deolindo. Realmente temos muito a aprender com o homem e o missionário Allan Kardec. Desde muito jovem dedicou sua vida à educação, e não apenas à instrução, à transmissão de informação destinada somente ao cultivo e ao desenvolvimento intelectual. Ainda como Professor Rivail, já preconizava a educação integral, ou seja, a intelectual e a moral, visando assim ao desenvolvimento pleno do ser. Não se deixou jamais seduzir pelo brilho de nomes e títulos ilustres, mantendo, diante de todas as situações e condições, uma atitude equilibrada pela razão esclarecida e moderada por sentimentos lúcidos e nobres.
Foi justamente por tudo isso que, na elaboração de O Evangelho Segundo o Espiritismo (2), Kardec, assessorado pelos Espíritos Superiores e pelo Espírito de Verdade, escolheu o que ele designou como a “quinta parte, o ensino moral, porque, se as outras quatro partes têm sido objeto de discussões, essa última permanece inatacável”. Verdade absoluta, inquestionável – não há contradições com relação aos ensinos morais contidos nas leis divinas, onde não há meias verdades.
Foi por isso tudo, também, que Deolindo Amorim ainda afirma, no mesmo livro, que “não podemos dissociar Allan Kardec da Doutrina Espírita. Claro que a Doutrina não é dele, como ele próprio fez questão de acentuar. Todavia, e esta é a verdade, não se pode separar muito a pessoa de Allan Kardec da Doutrina que codificou: se não foi ele o autor, e é certo, foi o elemento escolhido pelo Alto, inegavelmente. Teve uma participação pessoal inconfundível e valiosa. Exatamente por causa de suas interferências, sempre oportunas, muitas questões doutrinárias foram elucidadas pelos mentores espirituais no trabalho de elaboração da Doutrina. Não foi apenas, como às vezes se diz, mero colecionador ou compilador. Não!”
E Deolindo ainda recomenda que, para compreendermos bem o papel de Kardec, precisamos reler Kardec, observando e avaliando bem suas perguntas e seus comentários, sempre criteriosos e valiosos para bom entendimento das respostas e instruções dos Espíritos Superiores.
Então, nós que nos dizemos espíritas, agora, mais do que nunca, precisamos começar a conhecer Allan Kardec, dar-lhe o devido valor e prestar-lhe o devido respeito como mestre espírita, cujo ensinamento e particularmente esclarecimentos, em todos os sentidos, são de fundamental importância para a nossa boa compreensão da Doutrina Espírita. Damos, em geral, muita atenção e até admiração a transcrições mediúnicas, a médiuns e palestrantes muitas vezes pomposos, esquecendo-nos de cotejá-los com os princípios doutrinários, esses, sim, base segura para nosso crescimento espiritual.
É necessário que não nos lembremos de homenagear Allan Kardec apenas no mês de outubro, devido à data de seu nascimento – 03 de outubro de 1804 –; mas que o levemos sempre em consideração em tudo o que possa se relacionar com a Doutrina Espírita, cuja luz, clara e inconfundível, é guia seguro para nossa caminhada evolutiva e, ainda, em tudo que isso tudo possa contemplar em nossa vida.
Portanto, parabéns, Kardec! Parabéns não pelo seu aniversário, mas por todo seu trabalho, esforço, seriedade, lucidez e discernimento na elaboração da Doutrina dos Espíritos. E a nossa eterna gratidão por tudo.
- Deolindo Amorim – livro Allan Kardec.
- Allan Kardec – livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Introdução”.