Estabeleceu Kardec, de forma absolutamente inclusiva, n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, parâmetro básico para que se possa denominar espírita, independente dos vínculos e ações pretéritas.
Recordemos:
Reconhece-se o verdadeiro Espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações (Allan Kardec, ESE., XVII, 4).
Sendo assim, alcança-nos o sentimento, o codificador, ao afirmar que o Pai nos receberá em Sua seara, pela dedicação no esforço renovativo, independente dos gravames infelizes que carregamos, dos encargos da culpa.
Porque o Deus que Doutrina Espírita reconhece, é o Deus da oportunidade. Possivelmente, tenhas trafegado a tua alma em eventos infelizes da história do planeta, arrebatando para as tuas mãos, pelas tuas próprias deliberações, o lodo sujo de episódios infelizes da humanidade. Muitos de nós, partícipes da insânia do pretérito, nos reencontramos com a finalidade de restabelecer com o trabalho devotado à sentença de novos sentimentos ao coração, sempre pelo caminho dos esforços individuais, nas trilhas da renúncia anunciada.
A grande maioria de nós, espíritas, carrega na alma o espólio nas derrotas morais do passado. Talvez, tenhamos nos perdido nas grandes guerras ou, quem sabe, produzido a violência de toda ordem nas cruzadas; provável, ainda, estivéssemos presentes na noite de São Bartolomeu; deturpado, pela própria conveniência, a mensagem Cristã nos primeiros séculos do cristianismo, nos colocando na condição de perseguidor cruel dos seguidores do Mestre; ou até mesmo, sujado as mãos diante do mais puro ser deste planeta, nos episódios da crucificação.
É possível, sejas tu, escrito em teu passado, prova viva do amor do Pai, através da santa oportunidade de redimir teus erros nas trilhas do trabalho incessante, no atendimento incessante ao próximo, pois o Deus que a Doutrina Espírita reconhece, é o Deus da fraternidade.
Portanto, muito provavelmente, encontrarás companheiros de jornada á feita de espinhos ferinos. Outros te solicitarão a renúncia absoluta, seja do teu tempo, seja do teu orgulho, consumindo e requisitando teus esforços indeterminadamente. Avança sempre, sem jamais desanimar, pois, para vestir o traje de mártir é necessário ter as mãos limpas, condição que ainda não conseguimos oferecer.
Assim, jamais devemos levar aos pés de Deus reclamação alheia, muito menos abandonar tarefas do coração, quando nos sentirmos injustiçados diante da crítica, dando voz ao melindre. O passado oculto ainda não nos dá direito a tal ação.
Quando a atividade fraterna impor implacável, quando irmãos deixarem aos teus pés o respectivo trabalho ou a crítica te parecer mordaz, prossegue assim mesmo, caminha na certeza de que os atritos fraternos te são necessários ao processo de purificação, para que te filtrem resquícios indesejáveis e buriles teus sentimentos na prova árdua que o Pai te confere e te confia, como forma de servirdes a ti, servindo teu irmão.
Identifica, pois, em Deus, um Deus do trabalho.
Diante da incúria, da violência, da injustiça, reapresenta-te prontamente ao campo de batalha moral, como o soldado a retornar da missão que lhe foi conferida. Não faltarão obstáculos, contudo confia e prossegue, na certeza de que, nunca sozinho, não te faltarão as guarnições necessárias à tua vitória, através das mãos invisíveis da providência. Renova teu íntimo, purifica a tua alma e desequipa do passado perturbador. Recorda-te sempre, enquanto serves aos propósitos do teu soerguimento moral, o Pai usará de ti para consolar aflitos e atender corações.
Possível, seja a lágrima tua companheira mais assídua na jornada, mas acredita e prossegue, pois o Deus que acompanha, é o Deus do amor.
Paz a todos.
Bibliografia:
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Cap. XVII, 4