Atualmente somos bombardeados com notícias de violências de todos os tipos, crimes dos mais inesperados aos mais chocantes; violações de toda ordem; maus tratos até de familiares; guerrilhas de facções; confrontos entre policiais e bandidos; milícias clandestinas pretensamente justiceiras... E a violência mais covarde, a violência moral, encoberta por títulos e cargos que deveriam ser honrados por seus titulares, mas que lhes servem de ferramenta de abuso e exploração indébita...
E existe ainda outra violência: a imposição de um sistema exacerbado de consumo, gerando uma escala de valores deturpada, onde o homem vale pela roupa de marca, pelo carro importado, pelo cartão bancário, pelo título, pelo poder através de seu cargo, de suborno, chantagem, ou pelo medo que espalha...
Allan Kardec alerta: “Até que a humanidade haja crescido suficientemente em perfeição pela inteligência e pela prática das leis divinas, as maiores perturbações serão causadas pelo homem e não pela natureza, isto é, serão mais morais e sociais do que físicas” (1). E é o que vimos constatando face a esses graves transtornos ético-fraternos...
Todavia, a Espiritualidade esclarece que o “senso moral existe, em princípio, em todos os homens, apenas pode não estar desenvolvido; e é ele que os transforma, mais tarde, em seres bons e humanos” (2). Esclarecem-nos ainda que, em nosso patamar evolutivo, “É preciso que haja excesso do mal, para fazer o homem compreender a necessidade do bem e das reformas” (3).
Assim, sentimos crescer a indignação contra tais situações; atitudes nocivas a um semelhante já faz brotar em milhares de nós o anseio de proteger o atingido, seja direta ou indiretamente. Por isso, afirmam também os Espíritos: “O sentimento de justiça é de tal modo natural na criatura que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça” (4).
Já sabemos que a “justiça consiste no respeito aos direitos de cada um” (5) e que “esses direitos são determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural” (6). Mas, existe ainda uma distância considerável entre essas duas leis, visto que muitas das leis humanas visam interesses pessoais – Kardec explica que “sob a influência de suas paixões, o homem criou, muitas vezes, direitos e deveres imaginários, condenados pela lei natural” (7).
Nessas condições que, de um modo geral, ainda vigem na nossa sociedade hodierna, torna-se imprescindível enfatizar-se a necessidade de uma educação esclarecida, onde se cuide do homem como um ser integral, criatura de corpo e alma, alma imortal e responsável direta por seu destino, propiciando-lhe desde o berço uma base moral e fraterna, oferecendo-lhe escolas onde a instrução vá além da transmissão de dados e conhecimentos visando interesses pessoais, meios de competição desmedida e sucesso a qualquer custo. Lembramos ainda o mestre Kardec quando esclarece (e certamente lamenta): “Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato? (...) A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. (...) nisso está o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos” (8).
Se de um lado essa “necessidade do excesso de mal” parece prejudicial, dando a ideia de banalização da violência, por outro, provoca o anseio intenso de mudança, fazendo com que os bons propósitos antes tímidos agora se firmem, transformando-se em ações concretas para o estabelecimento de condições mais justas para todos.
Estamos em ano de eleições e o nosso voto é a ferramenta pacífica e cidadã para a edificação de uma sociedade mais equilibrada. Precisamos analisar com cuidado todos os candidatos e suas posturas ao longo do tempo – não apenas durante a campanha, muito menos se se trata de um amigo, parente ou de alguém que nos possa beneficiar pessoalmente. É indispensável analisar seus feitos a benefício da coletividade – “O reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justiça para todos, e o da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças” (9).
Bibliografia:
(1) A Gênese – Cap. IX – item14; Allan Kardec
O Livro dos Espíritos, seguintes questões: (2) 754 – (3) 784 – (4) 873 – (5) 875 – (6) 875a – (7) 795 – (8) 685a; Allan Kardec
(9) Obras Póstumas – Questões e Problemas, Allan Kardec