Caía o início da madrugada, as densidades da noite prenunciavam as desditas das horas. Caminhava o Mestre acompanhado dos Seus em lugar denominado Horto das Oliveiras. O encanto natural do Mestre se fez em angústia grave. Afasta-se curta distância dos discípulos e prostra-se sobre o rosto, sendo amparado por anjo fraternal a acolher-lhe.
Já não mais o branco brilhante das vestes, ao invés, o sangue consumido pela areia. Estabelece conexão direta ao Pai, tratava-se de momento íntimo, rogando que, se lhe possível fosse, afastasse o cálice, contudo, reafirmando a fé e confiança na sabedoria divina, se fizesse a vontade de Deus.
Sublime e rica é a analogia do cálice.
Poderíamos aplicar os conceitos do dever do trabalho em todas as horas e dimensões da vida. O ser humano, onde quer que esteja, tem deveres, obrigações, responsabilidades e afazeres os quais devem executar, cabe a cada um posicionar-se conforme as leis da consciência. Contudo, como proposta, avaliemos as responsabilidades e comportamentos diante da charrua do trabalho na seara reencarnatória.
Apesar do lenitivo e bem-estar que a atividade edificante proporciona, sabemos que as dificuldades e angústias atravessam a mente dos trabalhadores do Cristo por diversas vezes. Cabe a reflexão.
Adentrando nos escaninhos do sentimento diante do trabalho cristão, não ignoramos que as atividades assistenciais do corpo e do espírito atendem a corações na casa dos milhares, recuperam almas em melancolias profundas, restabelecem perispíritos e reformam almas. Então, diante de tanta luz, por que alguns ainda torcem o nariz à atividade, preferindo o conforto descompromissado do descanso, enquanto a alma pede o buril? Talvez creiam-se desimportantes? Certamente, como nos diz o nosso Chico, diante do universo de bondade, somos um cisco, contudo, apenas nós podemos promover a elevação a nós mesmos. Existem irmãos carentes de simples palavras de consolo enquanto, na mente repleta da Boa Nova, adota o repasto como escolha. Adotemos o amor como bússola.
Ajuda-nos ó Senhor a entender os próprios sentimentos e afasta de mim o cálice da indolência. Que não seja eu a letra morta no espetáculo da multiplicação da tua mensagem.
Ainda trazemos restrições no coração, talvez a sintonia de outras vidas com o irmão do mesmo teto não seja plena, contudo, nada justifica o escárnio, a crítica perversa, a maledicência, a impolidez e a perseguição. Se falta-nos o conhecimento dos vértices do passado, que não nos falte jamais a consciência cristã. Alguns companheiros de jornada simplesmente não conseguem dialogar por não se tolerarem, consideramos o quanto tais atitudes entristecem a companheiros encarnados e espirituais, além de advogar contra os objetivos reencarnatórios?
Diante da inconformidade para com o próximo, que se afaste o cálice da intolerância, que meu coração processe a paz e dilua em mim os maus sentimentos.
O Mestre, antes de percorrer a jornada sublime da mensagem do Evangelho, trabalhou por 16 anos na carpintaria de seu pai José. Jesus, espírito perfeito da escala crística há mais de 4 bilhões de anos, cumpriu, dentro do próprio lar, o labor que Lhe coube até o momento de surgir como o enviado de Deus. Como podemos nós, filhos de um planeta de provas e expiações, maldizer a própria rotina? Como estabelecer linha lógica na reclamação das atividades cotidianas, sabendo que o Cristo dedicara-se à carpintaria? A lição que fica, diante do exemplo do Mestre, é que todo trabalho deve ser cumprido, desde que digno. Não somos melhores ou maiores que o trabalho que se mostra à frente, diante da charrua, o esforço; na necessidade, a entrega; surge a escassez, segue-se o serviço; diante do fracasso, o recomeço. Cumpre-nos o tempo divino em todos as situações da vida, agradáveis ou não.
Diante da oportunidade do trabalho, afasta de mim o cálice da vaidade e do orgulho. Que eu consiga penetrar pacientemente no íntimo do ofício que se oferece às minhas mãos, agradecendo e beneficiando, sempre.
Espalhai as boas novas, trabalhai com o amor e afinco, afastando o cálice da negligência diante do trabalho, seja este dentro ou fora das paredes do lar, calejando o espírito sob o arado da paciência, ou experimentando, serenamente, as rudes refregas a reclamar o concurso físico, para que se processem em nós a vontade soberana e infalível de Deus.