
Neste ano de 2015, o movimento espírita comemora os 150 anos do lançamento do quarto livro da Codificação Kardeciana, O Céu e o Inferno, lançado em setembro de 1865. Contudo, é relevante notar-se como esse livro, de extrema importância para a compreensão esclarecida das condições em que nos encontraremos como Espíritos em caminhada evolutiva, seja tão pouco estudado ou mesmo comentado nos grupos e casas espíritas em geral...
Talvez porque ainda produza algum desconforto para uma boa parcela de espíritas que ainda trazemos ressonâncias, atavismos e, muitas vezes, até um certo gosto pela religião convencional precedente, à qual, durante muitos séculos, nos afiliamos; na qual, durante tanto tempo, acreditamos, comodamente certos de que ela, com o nosso menor esforço possível, nos conduziria pela estrada da vida sem grandes atropelos, sem grandes consequências, sem praticamente nenhuma responsabilidade pela nossa “salvação”, visto que outros podiam nos “livrar disso tudo e de maiores penas com sua absolvição e remissão dos pecados”...
Talvez ainda porque, conforme especifica José Herculano Pires, na sua Introdução – Notícia Sobre o Livro, “lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E, diante dos confrontos necessários, o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia”.
E quem de nós não teme esse julgamento, sobretudo diante do juiz mais severo quando em ação, a nossa própria consciência, uma vez desperta? Sabemos que se hoje, ainda encarnados, podemos ludibriá-la com justificativas infundadas e desculpismos forjados, uma vez despidos da capa de carne, vestimenta grosseira que nos ajuda a escamotear nossa verdadeira individualidade, já não mais será possível nos enganarmos e muito menos enganarmos nossa consciência, onde reside a lei maior, a lei divina, ainda que tantas vezes e por tanto tempo sufocada...
E Herculano considera mais ainda: “Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior”. Estamos aí, novamente, diante de uma situação constrangedora para nós, vivendo atualmente aqui na Terra um tempo em que já não conseguimos distinguir praticamente nenhuma seriedade e lisura nas nossas instituições de todo tipo, instituições que são, nada mais, nada menos, do que resultantes da gerência e condução de homens que, no entanto, deveriam postular princípios éticos e morais.
Mas nosso ilustre companheiro de ideal ainda esclarece: “A evolução do homem na Terra está sujeita às vicissitudes da superposição periódica de camadas populacionais inferiores que precisam aflorar na superfície cultural para se beneficiarem”. Raciocínio absolutamente lógico, absolutamente em conformidade com a lei de progresso que rege toda a Humanidade, bem como todo o Universo. Não fora isso, os mais primitivos, os retardatários, jamais teriam ocasião de poder usufruir de oportunidades de novos e edificantes ensinamentos, propiciando assim avanço intelectual e moral a todos.
“Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura (...) O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida.”
Não poderia dissertar melhor sobre esse precioso livro da nossa Codificação, melhor destacá-lo como leitura e estudo imprescindível para nós, desejosos de conhecer, mediante comprovações incontestáveis, as consequências inevitáveis de nossas escolhas e opções, regidas pelo nosso próprio livre-arbítrio, a partir do momento em que nos tornamos “seres inteligentes da Criação” (LE q.76). Volto ainda ao nosso querido Professor Herculano: “A leitura e o estudo sistemático deste livro se impõem a espíritas e não-espíritas, a todos que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra”.
De minha parte, acrescento: recomendado mesmo a todos, quaisquer sejam suas filosofias e seus postulados, pois que necessitamos, todos, aprender a escolher com mais discernimento e bom senso a rota que desejamos trilhar para alcançar o destino a que somos fadados, a felicidade e a perfeição relativa à criatura, de modo mais seguro e tranquilo.