
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” Chico Xavier
Essa uma grande verdade expressa pelo nosso querido companheiro Chico – nada do que foi feito pode ser modificado, apagado; toda a nossa história, a de cada um de nós, está impressa nos anais cósmicos e, um dia, poderemos acessar o nosso próprio histórico, nosso currículo indelével, onde se encontram milênios e milênios de vida, existências de todo tipo e todo tipo de experiências.
Certamente, aí chegados, nossas opções, atos e posturas não mais nos espantarão; já não mais teremos medo de conhecer o mais obscuro e remoto passado de nós mesmos; já nem mesmo teremos vergonha ou algum sentimento de culpa. Isso porque já teremos atingido sabedoria capaz de compreender que tudo que escolhemos e vivenciamos, com suas inexoráveis consequências, foi-nos absolutamente necessário para um aprendizado eficaz e seguro com relação ao nosso progresso espiritual.
Entenderemos que era tudo o que podíamos fazer àquelas épocas – ainda intrinsicamente ignorantes, recém-saídos dos reinos precedentes que nos forjaram instintos e sensações fundamentais, engatinhávamos no beiral da nossa longa estrada evolutiva; depois, já caminhando, embora ainda cambaleantes e vacilantes, chegávamos ao ponto em que começávamos a adquirir capacidade de discernimento e, com ele, a possibilidade de fazer nossas próprias escolhas; assim, atingíamos mais um grau na escala ascensional – o da responsabilidade. Ainda incipiente, falha, mas já em ação...
Analisando e refletindo sobre tudo isso, compreendemos o que quis dizer Chico Xavier, particularmente no que se refere a elaborarmos um novo fim... Hoje já temos um pouco mais de entendimento, já estamos um pouco mais esclarecidos face a tantos ensinamentos e recomendações, quedas e avanços, no decorrer desses milênios... Consequentemente, podemos começar agora a reestruturar as nossas bases, fortalecendo-as à luz da razão, do bom-senso e da caridade bem compreendida; reavaliar nossos conceitos e valores; mergulhar em nosso íntimo, tanto quanto nos for possível, “perscrutando a natureza e o móvel dos nossos atos” (LE q.919a); empenharmo-nos finalmente, de forma consciente e lúcida, sem fugas nem desculpismos, ao autoconhecimento, há tanto tempo indicado como “a chave do melhoramento individual” (idem).
E, embora nos pareça difícil por tantas e tantas vezes, embora tantas e tantas vezes tivéssemos preferido estacionar, não sair da nossa “zona de conforto”, mesmo quando essa “zona” nem esteja assim tão confortável, a lei de progresso é inevitável, rege todo o universo, toda a criação; mais cedo ou mais tarde nos vemos compelidos a prosseguir, ainda que aos “trancos e barrancos”, porque já não suportamos mais o tédio que a inércia vai gerando dentro de nós, a insatisfação, o incômodo mental, intelectual e espiritual que não nos permite encontrar serenidade e bem-estar em nenhum momento, em nenhuma situação.
Daí então, criamos fantasias, tomamos ilusões como verdades incontestáveis, elaboramos conceitos os mais enganosos e até absurdos, a fim de tentarmos nos esquivar de realizar uma avaliação justa e imparcial de nós mesmos, temerosos certamente de não nos aceitarmos, de nos rejeitarmos e cairmos na baixa estima acentuada, nos levando inúmeras vezes à depressão profunda, psicopatologia tão comum nos dias de hoje...
Entretanto, se envolvidos nessa situação, poderemos sempre revertê-la, por mais prolongada e dolorosa tenha sido; poderemos sempre procurar o incentivo e a sustentação que nos ajudará a dar o primeiro passo, ainda que inseguro, no sentido de estabelecer não um novo começo, mas um novo recomeço, livre a cada novo passo das teias que o medo e o comodismo teceram em torno de nós. Esse incentivo, essa sustentação, os encontraremos, por meio da prece e da meditação, junto aos nossos amigos espirituais superiores, junto aos nossos mentores, que através de suas emanações e conselhos nos auxiliarão a despertar nosso potencial crístico, a “luz em nós” da qual nos falou o Mestre Jesus de Nazaré.
Assim é que, a cada nova descoberta de mais uma faceta desse imenso potencial que jaz dentro de nós e no qual se encontra a divina semente, passaremos a elaborar um novo fim, com uma autoanálise sincera e a nossa subsequente reformulação de valores.
N’O Livro dos Espíritos, q.628, a Espiritualidade nos adverte: “Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas.” Diante dessa afirmativa, não mais podemos vacilar, visto termos em mãos um rico e poderoso ferramental para a nossa reconstrução, com a certeza da vitória alicerçada na fé e na confiança – em Deus e em nós, seus filhos, criados simples e ignorantes, porém destinados à perfeição possível à criatura.