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Artigo do Jornal: Jornal Outubro 2013
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     O Dia de Finados ou Dia dos Mortos é um feriado religioso cujo objetivo é reverenciar a alma dos mortos que, se não lembradas pelos que vivem, podem se tornar perigosas. Nas mais diversas culturas, no Dia de Finados fazem-se grande romaria aos cemitérios; preparam-se comidas especiais para os mortos e em alguns casos fazem-se também danças em honra aos antepassados. Estas cerimônias, embora muito antigas, continuam a ser praticadas até em nossos dias.

     Entre algumas tribos da África, os espíritos dos mortos continuam a viver em um mundo à parte e, posto que não possamos vê-los, eles nos podem ver muito bem e mesmo nos vigiar. Se alguma coisa vai mal em uma família, um espírito desencarnado pode pedir ajuda a um outro espírito que lhe seja superior, a fim de resolver o problema. No Dia de Finados, os membros de uma família buscam homenagear seus mortos a fim de acalmá-los. A refeição ritual deve ser vista como uma espécie de comunhão entre os vivos e os mortos.

     Na velha Índia, existe também esta preocupação com os mortos e a homenagem aos ancestrais que já se foram são dedicados não um dia, mas dez. Conforme algumas religiões indianas, a alma deve fazer uma longa caminhada por dez regiões infernais para que possa sobreviver. Por este motivo, se inclui na homenagem aos mortos certa quantidade de comida para que possam se alimentar durante a grande viagem. Em alguns grupos religiosos, as festas dos mortos devem começar na primeira lua de outono. Nessas oportunidades são homenageados, além dos mortos recentes, aqueles que já morreram há três gerações.

     Os chineses tradicionais, em particular escolheram o outono, o verão e a primavera para realizar cerimônias aos mortos. Aqui cabe uma explicação: esses chineses acreditam em dois tipos de alma, a espiritual e a animal, sendo a primeira superior à segunda. Nessas festividades, a alma inferior é acalmada para que não perturbe a vida dos vivos e à alma superior se implora que vele pelos parentes que ficaram na Terra.

     Nessa cultura existe um personagem chamado Alma Faminta, que precisa ser apaziguada e, para isso, no outono, se realizam cerimônias que duram duas semanas. Esses fantasmas famintos são as almas daqueles que não possuem parentes e que, por isso, ninguém cuida deles. Durante o festival, as pessoas oferecem alimentos aos fantasmas famintos, mas representados por lanternas luminosas feitas com a flor de lótus, ou por velas de pequenos barcos, colocados em um riacho ao cair da noite.

     Na cultura japonesa, o Dia dos Mortos é chamado Obon e acontece nos dias 13 e 16 de julho. Nessas datas, as almas que partiram da Terra, durante o Obon voltam do Mundo das Sombras para receberem alimentos e participarem das brincadeiras organizadas para eles. O Obon também é chamado de A Festa das Lanternas, porque é costume colocar nas portas das casas lanternas especiais para orientar os mortos.

     Nos Estados Unidos existe uma festa relacionada com o Dia dos Mortos que se chama Halloween. Esta palavra deriva de All Hallow E ou All Hallows Eve, palavras que significam Dias de Todos os Santos. O Halloween era o dia dos mortos para algumas comunidades da Europa, e veio para a América com os colonizadores ingleses. Nesse dia, se acreditava que a distância ou separação entre os encarnados e os desencarnados era diminuída, ou mesmo eliminada, permitindo aos segundos a visita aos primeiros.

     Desde a sua origem, entre os séculos I e VI, a Igreja Católica se preocupou em cristianizar determinadas festas pagãs como, por exemplo, o Natal, que era a festa do Sol Invencível. O mesmo se deu com o com o antigo Dia dos Mortos dos romanos, chamado Feralia, que se transformou em All Hallows Eve, Dia de Todos os Santos, e passou a festejá-lo no dia 1º de Novembro. Este dia criado pelo Catolicismo, como sempre acontece nessas trocas culturais, se fundiu com antigas crenças bárbaras do norte da Europa, associando este dia com as potências do mal. É comum nesse dia, nos Estados Unidos, encontrarmos crianças fantasiadas batendo de porta em porta a pedir comida. Este é uma lembrança das antigas práticas europeias de pedir alimento para os mortos.

     Com o passar do tempo, o espírito primitivo do Halloween foi, pouco a pouco, sendo esquecido e se afastando de sua origem primeira. Conforme James R. Lewis, em sua Enciclopédia da Vida Depois da Morte, foi no México que a essência do Halloween foi mantida. Os povos mexicanos pré-colombianos tinham suas crenças nas almas dos mortos e essas crenças foram fundidas com o material trazido pelos espanhóis. Assim, as crenças populares e ritos funerários primitivos foram associados aos mártires santos do Cristianismo. El Dia de los Muertos (O Dia dos Mortos) passou a ser festejado no dia dois de novembro, data introduzida pelos conquistadores europeus, mas que se adequou muito bem à cultura local, porque nesta época se davam as festas pela colheita do milho.

     No Dia dos Mortos, as crianças vêm alegres para comer os doces e outras iguarias que se oferecem aos anjinhos ou angelitos. Uma festa semelhante é realizada para a alma dos mortos mais velhos, que devem chegar à festa ao raiar do dia. Naturalmente, a comida para os ancestrais (os mais velhos) deve ser diferente da comida dos angelitos, sendo bem mais temperada. O altar onde a comida é servida é bem maior e decorado com caveiras pintadas, feitas de marzipã ou de um tipo especial de pão.

     Essas festas, ao contrário de nosso Dia de Finados, não são motivo de tristeza ou de reflexões nostálgicas. Muito pelo contrário. O Dia dos Mortos para os mexicanos é de alegria e de comer à tripa forra. Estas festas não são uma desonra para o morto, pois as almas desencarnadas se alegram com a alegria dos encarnados. Nessas oportunidades, é costume contar histórias sobre os mortos que, segundo se acredita, se reúnem para ouvir as histórias sobre a vida deles. Todos os mortos da comunidade devem ser lembrados, pois, se um deles ficar esquecido, poderá se tornar zangado e vingativo.

     A finalidade deste arquivo é mostrar ao leitor como a noção de imortalidade da alma é expandida por todo o mundo e em todos os tempos. Assim, a imortalidade não é uma ideia inventada pelas religiões, uma simples ilusão no dizer de Freud, mas um fato concreto que faz parte do patrimônio da humanidade.

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