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Artigo do Jornal: Jornal Maio 2020
Escrito por: Redação Correio Espírita
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Sua história merece ser aplaudida de pé. Berenice Piana de Piana, mãe, ativista e espírita, conseguiu aprovar a lei federal 12.764/2012 por meio de processo legislativo participativo.

Segundo conceitos científicos, o autismo é uma condição neurológica de base neuronal de desenvolvimento onde a herança genética tem grande peso e acompanha o indivíduo do nascimento até a morte. É caracterizada por alterações na comunicação não-verbal (por exemplo, déficit no contato visual, expressões faciais e gestos usados para a interação social), comunicação verbal (variando de um entendimento mais literal, uso de ecolalia, frases repetidas, seja ela imediata ou citações, completa ausência de comunicação verbal).

Sabemos também pela grande mídia que o autismo é entre 2 a 4 vezes mais comum em meninos do que em meninas, e a ONU estima que cerca de 1% da população mundial seja autista, ou seja, cerca de 70 milhões de pessoas. O autismo coexiste com diversos níveis de inteligência, cerca de 38% dos autistas têm deficiência intelectual associada, embora o número preciso é difícil de ter certeza, pois os testes de QI não são confiáveis devido aos problemas de comunicação. Leia abaixo entrevista.

CE – Como foi aprovar uma lei em defesa dos menos favorecidos?

Esse foi um trabalho muito difícil e complicado, do ponto de vista político e levando-se em conta o cenário na Terra, no Brasil, na época em que precisei fazer isso. No âmbito espiritual, nunca me faltou apoio. Lidar com diferentes partidos, sendo que ninguém sequer sabia o que era autismo e a grande maioria também não estava interessada em saber, o foi talvez meu maior obstáculo.

A união das famílias, identificando-se pela dor e pela necessidade urgente de ajuda, foi o que fortaleceu essa classe e essa causa. Percebi logo que isso faria a diferença no Congresso Nacional e tratei de uni-las, chamando-as para a luta em defesa de nossos filhos, usando para isso todos os meios de comunicação. O resultado foi incrível e rápido. Eu não era mais uma mãe solitária lutando por seu filho e seus pares. Éramos muitas mães e pais unidos e dispostos a não desistir. Por isso vencemos!

CE – Quando tomou conhecimento que seu filho era autista?

Aos dois anos meu filho mudou o comportamento drasticamente, de um dia para o outro. Falava poucas palavras, mas era um bebê alegre e carinhoso, que tinha um comportamento compatível com sua idade. Um dia acordou diferente e passou horas sentado num cantinho olhando para as mãos sem olhar para ninguém nem corresponder ao chamado. Parou de falar, de sorrir, de comer, de socializar. Isolou-se por meses e quando voltou a se alimentar ele não era mais o mesmo. Nunca mais o foi... Eu tentei muitos médicos mas ninguém encontrou o problema e não achavam que ele tivesse qualquer problema. Fui pesquisar em livros de psiquiatria e psicanálise e logo percebi que ele era autista. Oficialmente o diagnóstico só veio aos seis anos.

CE – Você pode nos dizer em grandeza de números quantos alunos com transtorno do espectro autista, conhecido como TEA, estão matriculados aqui no Brasil?

Não é possível dizer pois o Brasil não tem estatística de autismo. Só em 2019 a lei Romeo Mion foi aprovada e sancionada. Isso quer dizer que autistas estarão incluídos no Censo daqui para frente.

CE – Quantas unidade de ensino existem operando aqui no Brasil?

Especializadas em autismo, eu tenho conhecimento de uma única, em Itaboraí RJ, fundada por mim na rede pública municipal. Clínica Escola do Autista. Na rede privada não acompanho, pois minha luta foi sempre para que todo atendimento, seja educacional ou terapêutico, fosse gratuito.

CE – Sabemos que o acaso não existe e que Deus é todo amor e justiça. Dentro da aceitação reencarnacionista, você tem conhecimento do porquê dos nascimentos de crianças autistas? Há alguma orientação dos benfeitores a esse respeito?

Esse tipo de orientação tem chegado recentemente através de Divaldo Franco, com quem tenho contato mais ou menos frequente, trazendo conforto e esperança.

Joana de Angelis vem dizer, através do nobre médium, que “Autismo vem ser uma nova maneira de ser e ver o mundo”. Diz também que “são o biótipo do homem do futuro, com uma memória privilegiada e a comunicação pela telepatia que ficarão no planeta através da genética. A ausência da malícia e da compreensão do duplo sentido das palavras, vem ensinar muito aos homens do futuro”.

Em uma conversa, perguntei sobre o número elevado de pessoas com TEA no mundo. Respondeu-me que há um grande número de reencarnantes vindo da segunda guerra mundial. Estão em zona de muito sofrimento no mundo espiritual e devem ser acolhidos com muito amor.

CE – Com a evolução do planeta, bem como de seus habitantes, você acredita que o autismo poderá aumentar como válvula regeneradora para depuração do Espírito que busca reparar seus erros? Há estudos sobre isso?

É impossível não se melhorar quando recebemos seres tão especiais como os autistas. Sabemos bem que não são perfeitos e, como todos nós, têm muito a reparar, a corrigir; mas as famílias, espíritas ou não, de forma geral, sempre me relatam a grande mudança operada em sua maneira de ver o mundo. Acredito mesmo que a transformação é gigantesca em todos os níveis. Ainda não há estudos sobre isso, mas esse caminho nós temos que construir. Minha vivência de 25 anos como mãe de um deles traz uma frase que ouço com frequência das mães que conheci em todo Brasil. “Eu era uma antes do autismo. Hoje sou outra completamente diferente”, e a maioria delas não quer voltar a ser a de outrora.

CE – Qual é e como funciona a relação de crianças autistas com o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente?

Na teoria deveria ser igual a qualquer outra criança ou adolescente, mas na prática não é o que acontece. Não funciona. Os autistas ainda são rejeitados e discriminados por serem diferentes. É uma discriminação camuflada e basta a família levantar a necessidade de adaptar o ambiente, seja escolar ou de lazer etc. para que a inclusão se faça, e imediatamente a rejeição aparece. É absurdo ver e sentir isso em ambientes que deveriam acolhê-los e compreendê-los. Peça-lhes para abrir mão de qualquer coisa, como não comer na frente deles, devido ao que é restrito pela dieta alimentar, e verá a máscara da benevolência cair.

CE – Como implementar a lei nº 12.764, que assegura o acesso dos autistas a serviços de saúde e à educação, sem a contribuição dos municípios, os quais alegam sempre falta de recursos?

É muito simples. Primeiro, vencendo-se a corrupção. Vai sobrar dinheiro para todas as demandas por mais dispendiosas que sejam. Segundo, quando se investe em capacitação dos profissionais da rede pública, os recursos já usados nos pagamentos desses profissionais não alteram as contas públicas. Realocando esses profissionais para o estabelecimento adequado, adaptado, eles terão tratamento e educação de excelência, como consegui aqui em nossa cidade.

CE – Você é personalidade em assuntos de autismo, com viagens e entrevistas. O que tem observado em relação ao autismo diante da sociedade?

Observo que ainda estamos distantes de vencer o preconceito camuflado, mesmo nas casas espíritas. Também observo que, em todos esses anos de luta, só tocamos na “ponta do iceberg”. Há um longo caminho a percorrer, mas já começamos e hoje se fala de autismo, se passeia com o filho na rua, nos parques, em vários lugares. Ainda que tenhamos que andar com a lei debaixo do braço para garantir esse direito e outros, já podemos livrá-los do cárcere privado e buscar um tratamento humanizado.

CE – Qual sua mensagem aos leitores do Correio Espírita?

Eu faria um apelo aos leitores. Um apelo de um coração de mãe que já sofreu toda sorte de problemas pela complexidade do autismo e a incompreensão da sociedade. Quando encontrar uma criança autista, não julgue, ame-a! Autistas precisam de doses maciças de amor e suas famílias de compreensão e carinho.

As mães de pessoas com TEA, nunca, nunca, nunca desistam! Porque não se desiste de um filho, JAMAIS!

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