Analisando as traduções bíblicas, o professor Severino Celestino nos leva a refletir sobre as mensagens de Jesus
O professor de ensino superior e pesquisador de hebraico e religiões, Severino Celestino tem-se dedicado ao estudo profundo da Bíblia, o livro mais lido pela Humanidade. Seu trabalho tem como objetivo maior ajudar as pessoas a compreenderem melhor os ensinamentos do Cristo, ao demonstrar, a partir de seus estudos em língua original, o hebraico, os erros contidos nos processos de traduções dessa obra tão importante e as distorções nas interpretações da mensagem de Jesus.
Ao buscar as origens do Cristianismo e sua essência, o professor Severino Celestino, que é também apresentador do programa Abrindo a Bíblia, na Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior, e autor de livros importantes, como Analisando as Traduções Bíblicas, O Evangelho e o Cristianismo Primitivo e o Sermão do Monte, revela-nos, em seus estudos, uma ligação com o pensamento do Cristo em sua profundidade.
Como aconteceu o seu despertar para o caminho de estudo do Cristianismo?
SC: Começou em 1964, quando ingressei no Seminário Arquidiocesano da Paraíba. A teologia católica foi a minha primeira escola. Ganhei a minha primeira Bíblia do nosso reitor e ela me despertou para o estudo da religião.
Por onde começou seu estudo?
SC: Foi precisamente em torno do estudo do capítulo 5 do Evangelho de Mateus, o Sermão do Monte pronunciado, vizinho ao Mar da Galileia, e o capítulo 10, escolha dos discípulos, em que tudo começou.
Essas duas partes do Evangelho de Mateus me despertaram, pois me levaram à grande emoção, e passei, desde então, a buscar tudo que se relacionava com Jesus. O início da sua vida, da sua história, sua terra e tudo mais que se refere a Ele me enternece e sensibiliza. As aulas no seminário me levavam às lágrimas e eu me via na Galileia com Jesus. Não sei bem explicar como eram aquelas visões e sensações. Todos os meus estudos e buscas aprofundados acerca do Cristianismo me levaram, juntamente com outros professores da Universidade Federal da Paraíba, a fundar um curso de Ciências das Religiões, no qual me tornei professor de Judaísmo e Cristianismo Primitivo. Sinto que tudo isso representou um prêmio de Jesus pela minha incessante busca por Ele.
Suas obras apresentam um estudo profundo da mensagem de Jesus?
SC: Minhas noções de grego e latim adquiridas no seminário e depois a aquisição da minha proficiência na língua hebraica auxiliaram bastante as nossas buscas. Essa base tem funcionado como um suporte importante para minhas pesquisas. Depois, a realização de um pós-doutorado em Ciência das Religiões foi muito importante para minha condição acadêmica.
A produção de dois livros foi marcante nesse sentido: o primeiro foi a tradução do Livro do Gênese. Ela me colocou nas raízes do judaísmo, pois juntamente com o israelense Gad Azaria, trabalhamos cinco anos nessa tradução. São 1532 versículos que nos colocaram em contato com o conhecimento da Primeira Aliança ou Velho Testamento. O segundo livro que reputo de grande valia foi a tradução do Sermão do Monte que está contido nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus. Essa obra representa minha ligação com o Novo Testamento e nela apresento Jesus explicando para o povo judeu o verdadeiro significado moral do Talmud.
Naturalmente procuro colocar Jesus observando sua conduta e ensinamentos entre o seu povo e sua terra, especialmente na sua condição de judeu. Estudando judaísmo, você encontra mais facilidade de entender os ensinos de Jesus, sobretudo, porque conhecendo o idioma hebraico, que é a língua litúrgica e também o idioma dos hebreus, é possível captar melhor a sua mensagem e os seus costumes.
O senhor visitou Israel e refez os caminhos de Jesus?
SC: Inicialmente, no ano 2000, visitei Israel pela primeira vez, apenas com minha esposa e meu filho mais velho. Passei mais de um mês explorando a história, a arqueologia e a identificação geográfica com os Evangelhos. Foi a realização de um sonho.... Indescritíveis as sensações perante as descobertas realizadas.
A primeira vez na Galileia foi um reencontro com Jesus e comigo mesmo. Em Cafarnaum, diante do Mar da Galileia, sinto que foi, incontestavelmente, um presente do próprio Jesus para mim. Revelações que jamais saíram, desde então, de minha memória. Era como se eu houvesse voltado para casa. A minha vontade era não sair mais dali. Caminhei a esmo pelas ruínas da antiga cidade, procurando o que eu nem sabia o que era; no entanto, era grande a alegria. Eu me sentia matando saudades de um lugar que eu já conhecia, porém, sem entender todas as sensações que me envolviam. Um verdadeiro “déjà vu” – já visto.
Me emocionei, chorei lágrimas de saudades, perambulei por todos os lugares. Casa de Pedro, as ruinas das casas dos habitantes daquela época em que Jesus viveu e as da antiga sinagoga pareciam me falar de sua história, de seus ensinamentos, de suas curas, de suas parábolas, do centurião, da coletoria onde Mateus trabalhara, antes de ser escolhido discípulo e de tudo mais que aconteceu naquela cidade. Tudo estava muito vivo e não era em um livro, mas na geografia do local onde brotou a semente do Evangelho de Jesus.
Eu revia um filme mental que me prendia na alegria de um coração que revivia um grande sonho do qual só restavam ruínas. Senti vontade de ressuscitar Cafarnaum, só para reencontrar Jesus ali, com todos os seus discípulos. Uma grande vontade me invadia de poder abraçá-lo e reviver sua linda e milenar história. Palavra nenhuma será capaz de descrever as sensações daquele dia 24 de setembro do ano 2000.
Deixei Cafarnaum olhando para trás e rogando a Jesus que me fizesse voltar pelo menos mais uma vez, para que o meu outro filho que não a conhecia pudesse também visitá-la. Jesus me concedeu essa graça por meio do meu reencontro com as irmãs e amigas Marcia Valente e Wanda Guerreiro da RW Turismo, que, desde 2009 até hoje, temos retornado todos os anos, não só a Cafarnaum, mas a toda Israel.
Como descreveria essas vivências do ponto de vista espiritual?
SC: As experiências e sentimentos são diversos e sempre parecem sofrer a influência da história e da geografia do lugar por onde passamos. Cada lugar, tem uma história e um sentimento espiritual agregado a ele. É como se nós encontrássemos com Jesus na geografia em que revivemos naquele determinado momento. O que nos parece é que Jesus deixou sua luz em cada lugar. E assim, estando em Jericó, Cafarnaum, Betânia, Jerusalém, Monte das Oliveiras ou outro lugar qualquer, cada ponto nos revela um sentimento diferente em torno da vida que Jesus viveu e o que realizou e ensinou naquele lugar. São sensações imprevisíveis e ligadas ao lugar em que nos encontramos e parecem se desprenderem com nossa chegada.
Como os erros nas traduções bíblicas impactam na compreensão da mensagem de Jesus?
SC: É muito gratificante a descoberta de uma nova verdade. Ela, realmente, sempre nos liberta, como nos fala Jesus. Encontro sempre uma resposta em minhas pesquisas em Israel. Algumas pessoas me criticam, sobretudo de outras correntes cristãs, por eu levantar as questões de erros de tradução que são apontadas em nossos trabalhos de pesquisa. Contra-argumento que Jesus era judeu e busco a filosofia judaica em seus ensinamentos e a ela acrescento o AMOR do Cristo. Com isto consigo superar as dificuldades inerentes. Acrescento que até hoje, com todas as novas descobertas, os erros descobertos nunca diminuíram meu amor e minha admiração por Jesus, pelo contrário, tem aumentado, e muito.
A reencarnação também faz parte dos ensinamentos da Torá ou Bíblia Hebraica e, por isso mesmo, Jesus nem precisou ensiná-la, apenas demonstrava a existência deste princípio judaico pelos exemplos entre os judeus do seu tempo. Em muitas situações de convivência com os discípulos, Ele abordou o assunto REENCARNAÇÃO. Falou dela quando se referiu a João, o Batista, em Mateus 11:7-15. Citou ainda a mensagem reencarnatória em Mateus 16:13-16, em Cesareia de Filipe. Refere-se ao assunto em Mateus 17:9-13, após a transfiguração no Tabor. Falou ainda quando conversou com Nicodemos em João 3. Acrescentou em João 5:28 e 29 que todos os que dormem no pó despertarão e alguns retornarão após julgamento para recomeçar reencarnando nos locais onde falharam.
Como foi participar do documentário Nos Passos do Mestre?
SC: Foi uma experiência de vida que representa um grande marco em nossa vida. Juntamente com a RW Turismo (Márcia e Wanda) e com a TV Mundo Maior (André Marouço), vivemos uma trajetória de milhares anos de história. Do Egito: começando no Cairo, deserto de Gizé com as pirâmides, depois fazendo todos os caminhos de Moisés pelo deserto do Sinai, passando pelo Mar dos Juncos, Poços de Mara, Elim, Rafidim, planície do Sinai e finalmente Monte Horeb com 2282 metros de altura. Passamos de meia noite às 6h da manhã, para chegar ao topo do monte Horeb, o que foi uma experiência inesquecível.
Depois do Egito, foi a experiência em Israel, cheia de bênçãos espirituais. De Eilat até a Alta Galileia, foi um conjunto de experiências riquíssimas. Foram, aproximadamente, oito anos de pesquisas e buscas na terra de Jesus. A Galileia foi um reencontro de Amor, o Mar da Galileia, Cafarnaum, Tiberíades, Magdala, Tabga, Monte das Bem-aventuranças, Caná, Nazaret, Monte Tabor e Vale do Jordão. Tudo foi revivido com emoção e alegria. Na Judeia, tivemos Monte das Oliveiras, Belém, Betânia, Jericó, Monte da Provação e finalmente Jerusalém, coroando as nossas buscas.
Tudo foi colhido com muito Amor e busca incansável e minuciosa, para chegarmos o mais próximo possível da verdade. Finalmente, conseguimos trazer para aqueles que não podem ir a Israel o melhor que podíamos e registramos no filme Nos Passos do Mestre.
Nos conte sobre sua experiência junto a RW Turismo, acompanhando diferentes grupos nessas viagens, aproximando-os do Mestre à luz do espiritismo?
SC: A RW Turismo foi um presente de Jesus em minha vida. A convivência respeitosa e fraternal com a Marcia Valente e a Wanda Guerreiro, levando anualmente pessoas para a terra de Jesus, tem sido uma experiência importantíssima. Comungamos com os mesmos objetivos e pensamentos: proporcionar às pessoas a possibilidade de sentirem-se mais próximas de Jesus. Acredito que o meu encontro com Marcia e Wanda foi, na verdade, um reencontro. Parece que tínhamos uma missão a realizar nos caminhos de Jesus.
Inicialmente, o pensamento era fazer uma viagem, levando um grupo com 90 pessoas, em parceria com a TV Mundo Maior e com o Dr. Adão Nonato. No entanto, quando retornamos, fomos instigados por outras pessoas, sobretudo espíritas, que manifestaram o mesmo desejo, e mais uma vez recebi convite de Wanda e Marcia, o que prontamente aceitei. Vieram outras e outras viagens, que nunca deixamos de aproveitar para aproximar Jesus das pessoas e, ao mesmo tempo, aprofundar nossas pesquisas. Já estamos realizando a 9ª viagem e o interessante é que ainda não realizamos uma viagem igual à outra. São sempre novas experiências e novos aprendizados. Parece-nos que Jesus reserva uma emoção ou presente espiritual diferente para cada grupo que levamos a Israel.
Lembro bem dos acontecimentos ocorridos com o primeiro grupo que levamos. Quando chegamos em Cafarnaum, eu sentia uma sensação muito forte da presença de Jesus. E diante da experiência vivida por mim lá, na primeira viagem, me envolvi em prece e convidei a todos para a implantação do Evangelho no Lar nas ruínas da casa de Pedro. Durante o Evangelho, eu me dirigia a Jesus como se estivesse ali cumprindo uma promessa e apresentando todos os presentes a ELE. Em minha mente, repetia entre lágrimas: EU TROUXE TODOS PARA LHE VISITAR, JESUS. Aquilo me envolveu de tal forma que não conseguia controlar a energia e as lágrimas. Foi realmente muito forte e ainda hoje revivo aquele momento culminante e que se repetiu em outras experiências durante aquela e as outras viagens.
Como podemos compreender com mais profundidade as mensagens de Jesus?
SC: Jesus deixou o caminho: basta viver o seu Evangelho. Não é necessário fórmulas mágicas, basta SERVIR e AMAR, os dois grandes verbos do cristão. Jesus nos espera e Ele já fez o convite: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Basta que ouçamos o Seu convite e pratiquemos os requisitos indispensáveis para isto. Não se compra uma oportunidade de aproximação com Jesus. Nós a conquistamos pela prática do amor, seguindo o caminho deixado por Ele: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8:34). Ele não é inacessível. Ele nos ama. Sua história e atitudes têm demonstrado todo o seu carinho para conosco. Ele recebeu de Deus a responsabilidade de cuidar de todos nós (João17:1-5). Declarou que não se perderia nenhuma das ovelhas que o pai Lhe confiou (João 10:16). Ele é paciente e amoroso. Recordemos seu encontro com Pedro (João 21), depois de o negar três vezes, no pátio da casa de Caifás, antes que o galo cantasse uma vez. Neste novo reencontro, às margens do Mar da Galileia, Jesus não recorda o episódio ocorrido, nem condena Pedro. Sua atitude é de compreensão e AMOR. Ele pergunta três vezes se Pedro o amava, dando-lhe a chance de se redimir das três vezes que o negara. Não vejo exemplo mais digno do AMOR que Jesus tem por nós. Sigamos ao seu encontro, ELE NOS ESPERA. ELE NOS AMA. Para tanto, é necessário recordar a sua orientação: “quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos” (Mateus 20:26 e 27).
Em uma de suas entrevistas, ouvi uma resposta muito interessante: "Jesus nos ensinou o amor, Kardec nos ensinou a pensar".
SC: Eu gosto desta frase: “Jesus nos ensinou a amar e Kardec nos ensinou a pensar”. Isso nos leva a uma reflexão que une o Evangelho de Jesus à Doutrina Espírita. É a fé com AMOR e RAZÃO. Jesus nos trouxe numa época em que a lei de Talião ainda vigorava, o AMOR como forma de superar a vingança e o ódio. Os defensores da Lei afirmavam que era necessário amar os amigos e odiar os inimigos. Jesus chega trazendo um conceito novo e uma nova forma de interpretar a Lei. Afirmava que a nova justiça deveria ser superior à Lei Antiga.
Assim, Ele acrescentou: “Ouviste o que foi dito aos antigos: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; desse modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus” (Mateus 5:43-45). Esse ensinamento é uma interpretação que Jesus coloca no Talmud, que vem quebrar uma conduta material baseada numa lei vingativa. Sua lição de amor nos toca profundamente.
Na sequência, vem a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, trazendo, pelo Espírito da Verdade, uma fé baseada na RAZÃO. Uma fé que não se prende a dogmas criados pelos homens e pelos concílios, nem é cega, que nos possa levar ao fanatismo, mas uma fé que se baseia na pura RAZÃO, LÓGICA E BOM-SENSO. A Doutrina Espírita expõe sem impor, esclarece para nos libertar e consola pelos postulados racionais que apresenta.
Assim, justifico a minha colocação: “Jesus nos ensinou a amar e Kardec nos ensinou a pensar”.