Quem é você?
A capacidade de identificar-se é atributo do Ego.
A palavra “Ego” significa “Eu” e popularmente responsabilizamos o ego sempre que identificamos comportamentos ou atitudes que reprovamos. Equivocadamente, muitos pensam que é necessário destruir o ego para evoluir.
Mas o ego é peça importante para o nosso desenvolvimento psicológico, pois só nos tornamos conscientes porque temos ego. Ele é o centro da consciência e todos os conteúdos psíquicos inconscientes só podem tornar-se conscientes se passarem pelo ego. Desta forma, ele tem uma importante função no nosso processo de individuação[1]. Não existe individuação sem consciência de si. O que aconteceria então se desintegrássemos o ego? Toda a ordem de valores que conhecemos e que compõem as nossas atitudes desapareceriam e nada mais poderia acontecer conforme a nossa vontade, perderíamos a capacidade de responder por nossos atos. Deixaríamos de ser responsáveis por nossas atitudes.
Foi Freud quem aprofundou o estudo do ego. O nobre psicanalista vienense entendia que o ego teria uma função importantíssima de coordenação entre outras duas instâncias, que ele chamou de id e superego. De forma resumida, o id seria responsável pelas pulsões instintivas do indivíduo – por ex: sexualidade e sobrevivência. Podemos considerá-lo como a parte animal inconsciente do ser, governada pelo princípio do prazer. O superego seria um contraponto ao id, no sentido de conter um senso moral. Atuaria como um juiz ou censor que possibilita ao indivíduo sua adaptação à moral e aos costumes para não ceder totalmente às pulsões do id.
Com um novo olhar, Jung nos apresenta o ego como o centro da consciência, que deve estruturar-se para lidar tanto com os desafios externos que a vida nos apresenta quanto com os conteúdos inconscientes que vão sendo incorporados em nossa vida consciente. Além disso, é o ego quem fornece à personalidade a ideia de identidade e continuidade. Só podemos ter consciência de nós mesmos se formos capazes de lembrar o que fizemos ontem e planejar o que iremos fazer amanhã.
Por que, então, ouvimos tanto que devemos “destruir o ego”? O ego não é o mal em si mesmo, o problema é permanecer centrado no ego. Precisamos nos libertar das atitudes egoístas e egocêntricas que ainda predominam na natureza humana, estas sim, responsáveis por inúmeros conflitos e problemas pessoais, sociais e morais. Enquanto estivermos sob este domínio encontrar-nos-emos presos às paixões, o que nos manterá na condição de infância psicológica, retardando o desenvolvimento das infinitas capacidades que jazem em nosso Ser. Como recorda Joanna de Ângelis: “Característica iniludível de imaturidade psicológica, do indivíduo, é a sua preocupação em projetar o próprio ego. Atormentado pela ausência de valores pessoais, quão inseguro no comportamento, apega-se às atitudes afligentes da autopromoção, passando a viver em contínua inquietação, porque sempre insatisfeito.”[2]
Resta-nos, então, conhecer o desconhecido. É na nossa escuridão que encontraremos o nosso resto de humanidade, sabedoria, compaixão e compreensão do significado da nossa vida e a nossa conexão com o espírito que somos. Ele, o ego, não é o “Senhor da Casa”, devendo estar sempre a serviço de uma causa maior; ele é o centro da consciência, mas não é a consciência. Por isso é necessário “estruturar-se para adquirir consciência da sua realidade não conflitando com o Self que o direciona, única maneira de libertar a sombra.” [3].
[1] A Individuação é o processo de desenvolvimento pleno das nossas potencialidades, o vir-a-ser.
[2] Joanna de Ângelis/Divaldo Franco – O Ser Consciente
[3] Joanna de Ângelis/Divaldo Franco– Triunfo Pessoal