O termo “pensamento” é empregado de forma geral para indicar tudo que ocorre na mente. Contudo, em decorrência da complexidade envolvida, isto é uma simplificação que dificulta o entendimento de várias questões.
Certamente ainda estamos muito longe de compreender, ou mesmo de identificar, tudo o que envolve a mente, porém, pouco a pouco, com o auxílio desta doutrina que tanto esclarece, podemos ir galgando os diversos patamares, um de cada vez, até alcançarmos o conhecimento pleno.
Um dos itens abordados no Cap. IX da Segunda Parte de O Livro dos Espíritos [1] é intitulado “Faculdade, que têm os Espíritos, de penetrar os nossos pensamentos”. Diante do entendimento comum acerca do pensamento, conforme apresentado, tem-se a impressão que os espíritos penetram na nossa mente. Contudo, isto é uma falácia.
Nos casos em que um espírito interage diretamente com a mente de outro espírito, seja encarnado ou não, pode ser motivo de grande perturbação, tais como em processos obsessivos, como a subjugação, ou em alguns tipos de processos mediúnicos quando o médium ainda não alcançou a necessária educação mediúnica. Note-se que utilizamos o termo “interagir” e não “penetrar”.
Na seguinte questão formulada por Kardec: Podem os eespíritos conhecer os nossos mais secretos pensamentos?[2], podemos perceber que houve uma alteração da palavra “penetrar” por “conhecer” os pensamentos. Esta é a configuração da pergunta que foi apresentada aos espíritos responsáveis pela Codificação, a qual responderam que “Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular” [2].
É preciso estarmos atentos para o fato de que a capacidade de utilização da mente, no sentido de elaborar processos envolvendo informação dos mais variados tipos, pode ser interpretado como inteligência. Quanto maior a capacidade de processamento e de concatenação de informação, maior seria a capacidade intelectiva. Por sua vez, a inteligência é um atributo essencial do espírito [3] e, por isso, inalienável.
Por ocasião do artigo publicado neste jornal sobre transmissão de pensamento [4], apresentamos uma distinção entre pensamento e processo mental no intuito de identificar duas componentes de um evento, sendo o pensamento decorrente de um processo mental.
Desta forma, podemos afirmar que o espírito, fazendo uso de seu atributo essencial - a inteligência - elabora processos mentais, sejam lembranças, decisões, ponderações, aprendizado, sentimentos, emoções, etc. Em decorrência, há uma repercussão destes processos no fluido - o pensamento. Poderíamos, então, considerar o pensamento como a resultante relacionada com o processo mental, isto é, a repercussão.
Para fins de comparação, pode-se pensar que o fenômeno principal em uma lâmpada seja a produção de luz, mas isto não é uma verdade. O fenômeno principal ao se ligar o interruptor de uma lâmpada é a ionização do gás que, por sua vez, transfere energia para a camada de material na parede interna do tubo por fótons na faixa do não visível para, a posteriori, emitir fótons na faixa da luz visível. Em outras palavras, em decorrência de processos internos na lâmpada, há repercussão na região externa da lâmpada, luz visível, repercussão esta que é percebida pelo olho humano.
Em uma simples lâmpada há a ocorrência de uma sequência de fenômenos quânticos que culminam na produção de luz visível. Similarmente, na mente ocorre uma sequência de fenômenos quânticos que culminam em uma repercussão no fluido que pode ser percebido por outro espírito.
Em o livro A Gênese, Kardec esclarece sobre esta ação no fluido pelo pensamento, apresentando o conceito de que o pensamento é algo que ocorre, por assim, dizer, fora da mente, ou que é exteriorizada por esta, quando diz que “para os espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis” [5].
Sob este ponto de vista, o pensamento pode ser concebido como um tipo de energia, a energia mental, capaz de realizar trabalho, isto é, capaz de alterar as propriedades do fluido ao qual é direcionado, imprimindo neste as características do próprio pensamento, ou seja, segundo a informação por ele carreada.
Por um processo natural, o fluido adquire as qualidades do pensamento, assim, os espíritos chegam a conhecer o que desejaríamos ocultar de nós mesmos [2].
Notas bibliográficas:
Allan Kardec; O Livro dos Espíritos.
Ibidem; questão 457.
Ibidem; questão 24.
4. Claudio C. Conti; Transmissão de Pensamento, Jornal Correio Espírita, edição de setembro de 2019.
5. Allan Kardec; A Gênese; Cap. XIV.