Desde as mais priscas eras, o homem terrestre interroga a si mesmo a respeito do espírito imortal, esse viajor incansável da eternidade, esse nômade do espaço, esse andarilho infinito, que, apesar de invisível aos olhos humanos, existe em toda sua plenitude, confirmado por livros antigos, de povos que falam de seres invisíveis que habitam mundos etéreos, e que se comunicam com os homens, fazendo, assim, uma espécie de intermediação com Deus. As histórias a respeito das materializações de espíritos são de todos os tempos.
A Bíblia Sagrada é recheada de fatos e historias, relatando a comunicação de espíritos com os homens, através do fenômeno da mediunidade, começando com Adão, que ouviu advertências de Javé, a respeito do pecado e do trabalho; Ló recebe a visita de dois espíritos, que o advertem sobre o vulcão que arrasaria a cidade onde morava; Moisés, um médium judeu, também recebia orientações do espírito Javé, que o orientou a retirar o povo judeu do Egito e ir para o deserto, a fim de conquistar a terra prometida.
Através da escrita direta, uma modalidade mediúnica difícil de ser exercida, Moisés recebeu de Javé as Tábuas do dos dez mandamentos, que seria o código de honra ou uma espécie de Constituição Legislativa do povo judeu; mais a frente, o Rei Saul consulta a médium vidente da cidade de Endor, a respeito da guerra entre os judeus e filisteus, tendo como resposta a previsão, de que ele morreria em batalha juntamente com seus dois filhos, ficando claro que os espíritos podem se comunicar com os vivos, desde que possam contar com a intermediação de pessoas sensitivas, vulgarmente chamadas de médiuns.
O espírito imortal, criado simples e ignorante por Deus, é o princípio inteligente do Universo, necessitando de experiências no campo da carne e no campo mental, a fim de que possa individualizar-se, crescer, superar e transcender para Deus, seu criador de toda a eternidade. Na sua forma primitiva, o espírito percorre primeiro o reino mineral, depois o vegetal e, finalmente, o reino animal. Quando atinge a forma humana, recebe de Deus dois instrumentos maravilhosos: O Livre Arbítrio e o Pensamento Contínuo. E com esses instrumentos de trabalho, ele parte para conquista do Reino Angélico, ou seja, o encontro com Deus.
O espírito imortal é uma partícula infinitesimal do pensamento divino, sendo indestrutível, imaterial, e não está sujeito à ação da morte, unindo-se à matéria para crescer e evoluir no campo físico e espiritual, através de reencarnações sucessivas, estagiando no mundo físico e no mundo mental, até chegar a um ponto em que não precisa mais reencarnar, passando então a viver dentro da eternidade de Deus. Enquanto isso não ocorre, o espírito percorre diversos mundos do universo de Deus, na procura de alguma coisa que já se encontra dentro dele mesmo, coroando as palavras de Jesus, que afirmou: “ O Reino de Deus está dentro de vocês”.
A estrutura íntima do espírito imortal não é conhecida do homem terreno, mas alguns filósofos afirmam que ela seria formada por partículas de “maidons”, do inglês “mind”, ou seja, partículas da mente, uma espécie de complexo de energia mental, sutilíssima em relação à matéria bruta, a tal ponto que é necessário um intermediário entre o corpo físico e o espirito. Essa energia intermediária que separa o corpo físico do espírito, Alan Kardec, chamou de Perispírito, e o Apóstolo Paulo denominou “corpo espiritual”. Depois de criado por Deus, o espírito jamais poderá se desligar ou ser desligado de seu criador, mantendo uma ligação constante, através da consciência imortal, que, em síntese, é o juiz interno da alma humana.
Estagiando entre o mundo físico e o “mundo mental”, o espírito avança para o seu destino na procura de sua felicidade, que certamente não está no mundo físico, nem no mundo espiritual, e sim dentro dele mesmo, e somente as experiências nobres e éticas, junto aos seus semelhantes, poderá lhe dar o aval para novas conquistas, em mundos cada vez mais evoluídos, onde realmente existe a felicidade, que é, em síntese, a liberdade de locomoção através do pensamento contínuo, em todas as dimensões do espaço infinito de Deus.
Talvez uma das maiores dificuldades do homem terrestre seja a aceitação da existência do “mundo mental”, esse plano vibratório diferente do nosso, onde vivem os espíritos sem a roupagem carnal, e muitas perguntas se fazem necessárias: onde ele se encontra? De que matéria ele é formado? Como os seres ali estacionados praticam suas atividades? Através das comunicações mediúnicas e de livros espíritas e espiritualistas, recebemos muitas informações a respeito dos “mundos mentais”, mas são apenas notícias esparsas, que não são suficientes para uma análise completa, do que realmente ocorre do outro lado da vida, porque cada espírito comunicante, vê o mundo onde se encontra, de acordo com seu ponto de vista.
A “morte”, que é o elo de ligação entre o mundo físico e o “mental”, não transforma as pessoas em sábias ou santas, mas apenas as transporta para o além, onde cada um tem o conhecimento que levou da Terra, e mesmo as informações que chegam pelos médiuns; desprendimentos sonambúlicos, provocados ou natural, também não acrescentam grande coisa, pois carecem de veracidade, e assim os mistérios e enigmas do “mundo mental”, continuam e continuará conosco durante o tempo que for necessário, afim de que possamos nos desvencilhar, dos vícios, desejos e paixões, que são os entraves maiores; que nos impedem de alcançar os patamares iluminados da evolução infinita.
Muitas das informações que nos chegam do “mundo mental” são produtos de êxtases ilusórios, programados por entidades inferiores, através de médiuns incautos, que se deixam iludir com quadros inverídicos, e muitas dessas entidades fascinadoras de médiuns sabem menos do que nós, mas são especialistas na arte de seduzir, enganar e fascinar, deixando muitas vezes uma ideia de que já descobrimos tudo, já sabemos tudo, quando na realidade estamos apenas começando a descortinar esse mundo novo, essa paragem vibratória etérea, onde vivem os espíritos na sua essência pura, sem a corrupção da carne.
Os espíritos superiores que já alcançaram níveis altíssimos de evolução poderiam nos dar informações mais exatas do “mundo mental”, mas não o fazem porque não temos estrutura moral para entender segredos que só o tempo e a perfeição do espírito podem administrar, mas algumas informações importantes podemos dizer, como por exemplo: não existem locais circunscritos ou fixos para os espíritos, que se locomovem com liberdade no “mundo mental”, com exceção dos criminosos de toda a espécie, que se sentem coagidos a permanecer em locais criados por eles mesmos, e nada comprova que esses lugares sombrios e escuros sejam o inferno, o umbral as trevas ou o purgatório, mas estados mentais de cada infrator diante de sua consciência imortal.
O espaço de matéria “mental” e rarefeita, onde todos vivem no espaço, é sempre o mesmo, e a separação dos espíritos está na “energia mental” que cada um ostenta depois da “morte”, formando faixas vibratórias diferentes, estabelecendo uma hierarquia moral, obedecendo as leis da Atração e da Afinidade, que unem ou separam, agregando os espíritos uns aos outros fluidicamente. As construções que existem do outro lado da vida, no “mundo mental”, são temporárias e fluídicas, edificadas através da força do pensamento contínuo, e só consegue construir no além quem aprendeu a construir na Terra, não ocorrendo milagres, gratuidade, automatismo.
O espaço infinito do “mundo mental” vai desde a atmosfera que envolve a Terra, até as campinas siderais do infinito, onde moram os espíritos iluminados, que conquistaram o direito da paz e da felicidade, e nas faixas vibratórias pouco acima da Terra estacionam espíritos ainda apegados aos vícios, desejos e paixões; milhares deles ainda necessitados de tudo o que o mundo físico proporciona. A dor, o sofrimento ou a aflição, fica por conta da culpa que cada um carrega consigo, e que se estratifica na consciência imortal, aflorando no remorso e no arrependimento. O certo é que todos os espíritos estão fadados à evolução infinita, e mesmo os mais rebeldes um dia vão se reconciliar com Deus, coroando uma frase do espírito Emannuel no livro Fonte Viva: “ O criminoso de hoje pode ser o benfeitor de amanhã”.
Fontes de consulta:
O Livro dos Espíritos (Alan Kardec), Evolução em Dois Mundos ( André Luiz) Céu e Inferno (Alan Kardec) Universo e Vida (Espírito Àureo - F E B)