Intrigava-me a resposta dos Espíritos à primeira questão de O Livro dos Espíritos: “Que é Deus?” Não por seu aspecto filosófico, quando corajosamente Allan Kardec trocou o quem pelo que, assim trazendo pensamentos que gerariam reflexões a partir da própria indagação; mas sobretudo pela resposta recebida: “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Não dá para se pensar em Deus sem seus atributos de amor, bondade e todos os demais que aprendemos em nossas primeiras reflexões acerca d’Ele. Mas daí a perceber que os Espíritos Superiores optaram por designá-Lo como a “inteligência suprema” e não como o “amor supremo”, de fato deveria ser intrigante para muitos espíritas, quiçá a maioria. Afinal, o mais comum que se ouve – e até se aprende – é que Deus é Amor!
A verdade é que costumamos repetir, fingir que percebemos, filosofarmos sem profundidade e até passarmos adiante o que entendemos; refletir com acuidade, entretanto, não parece fazer parte de nossas cabeças. E por que digo isso? É bem simples: porque brota espontânea e naturalmente, em muitas criaturas, um certo temor contra atos, fatos e pessoas que atuam de forma inteligente. É como se a inteligência fosse, em si mesma, má. Talvez aí esteja uma das fontes de tanto movimento contrário ao estudo do Magnetismo, pois ele pede dedicação, seriedade, empenho e inteligência; e tudo isso é feito em nome do Amor.
O leitor que me acompanha neste espaço sabe que minhas abordagens estão sempre voltadas a temas associados ao Magnetismo; e esta não seria diferente. Iniciei lembrando a fator Inteligência Divina para dizer que não usar ou não desenvolver esse potencial que temos é algo grave para o nosso progresso espiritual; pior ainda quando levamos outras pessoas ou sociedades a se limitarem em campos de pouca inteligência, como se o amor tudo resolvesse. Se sim, onde estaria Deus em nossa definição espírita? Mas caminhemos para ver a razão dessa colocação tão forte.
Uma casa espírita – fato real – promoveu recentemente um “curso de passes” e insistiu que o amor do passista e a sintonia estabelecida, com reciprocidade, entre ele e o assistido, bastariam para tudo resolver. Então, para desespero geral, surgiram várias perguntas, dentre as quais se destacaram: 1- E se o atendido for um autista inquieto, por isso mesmo não conseguindo estabelecer sintonia com o passista, ele será beneficiado? 2- Se o passista estiver cheio de amor, porém bebe frequentemente ou faz uso regular de medicamentos que atuam fortemente nos sistemas nervoso e cerebral, não haverá algum tipo de risco para o assistido? 3- E se o passista estiver com câncer em metástase, e mesmo assim disser que vai dar passes por amor, isso funcionaria bem?
Antes de saber das respostas que foram dadas, logo se percebe que a generalização pode levar à banalização, com isso desvirtuando profundamente o que é tido e recebido por Ciência, desde Allan Kardec até os estudiosos que usam de bom senso em suas conclusões. Fala-se da força do amor quando, ao que parece, ainda não compreendemos nem mesmo sua fraqueza, já que ele é usualmente confundido com posse, desejo, sensualidade, simpatia e outros.
Mas será que você já deduziu as respostas dadas? Vamos lá!
1- E se o atendido for um autista inquieto, por isso mesmo não conseguindo estabelecer sintonia com o passista, ele será beneficiado? – R- Então ele não será tratado, salvo se o Mundo Espiritual tomar conta dele, pois o passista nada poderá fazer.
2- Se o passista estiver cheio de amor, porém bebe frequentemente ou faz uso regular de medicamentos que atuam fortemente nos sistemas nervoso e cerebral, não haverá algum tipo de risco para o assistido? – R- Se ele beber só socialmente e não beber na véspera dos atendimentos, não terá problemas; e os remédios, como são para o bem de sua própria saúde, não afetará em nada sua tarefa de amor.
3- E se o passista estiver com câncer em metástase, e mesmo assim disser que vai dar passes por amor, isso funcionaria bem? – R- Como já disse, o que vale é o amor. O resto não importa tanto.
Agora eu lhe pergunto: você vê lógica nessas respostas? Serão respostas deveras inteligentes? Será assim mesmo que deveremos agir e cuidar das “coisas divinas”?
Para completar, a mesma pessoa finalizou seu curso dizendo: A casa espírita não tem função de curar ninguém.
Aí fico pensando: se Jesus retornasse à Terra, Ele jamais seria trabalhador de uma casa assim...