O mestre de todos nós, exatamente o amado Jesus, deixou-nos um ensinamento valioso: “O Reino de Deus está em vós”, correspondendo a algo muito sublime e transcendental, o qual albergamos, desde o momento de nossa fecundação cósmica. Trata- se de um manancial riquíssimo, ainda não explorado integralmente, fecunda energia espiritual até então não utilizada e exteriorizada completamente.
Quando fomos gerados em espírito, recebemos de nosso Criador potencialidades a serem, paulatinamente, afloradas. Saímos de Deus, simples e ignorantes, todos iguais, e retornaremos ao Pai, após milênios de oportunidades reencarnatórias, com todos os nossos potenciais externados e vivenciados, já na condição de espíritos puros.
Portanto, somos realmente deuses, conforme ressaltou Jesus (1) e reafirmou o “Apóstolo dos Gentios”, Paulo, dizendo que o nosso “corpo é templo do Espírito Santo” (2).
O Mestre nos ensinou lições oportunas e nos orientou para seguirmos o verdadeiro caminho, aproveitando nossas estadas na vibração inferior para nosso enriquecimento espiritual, isto é, tomarmos conhecimento pleno da força divina em nós. Esse grande potencial pronto para desabrochar necessita de resistência própria, em meio vibratório mais denso, proporcionando-nos a vivência necessária.
A parábola da figueira estéril
Os evangelistas Mateus e Marcos relatam que o Cristo, tendo fome e vendo uma figueira, à beira da estrada, dela se aproximou, e não achou nela senão somente folhas e disse-lhe: “Nunca mais produzas frutos. E a figueira secou no mesmo instante” (3). Diz o apóstolo Marcos que ainda não era tempo de figos (4).
Certamente, esse ensinamento, trata-se de uma alegoria, devendo ser os textos lidos, não literalmente, mas verificando-os à luz que testifica, porquanto a individualidade espiritual tem avidez em tomar conhecimento de si mesma, tendo no seu interior as potencialidades, prontas para emergir, significando sob o ponto de vista simbólico a folhagem da árvore, a qual revela que, mesmo sem ser tempo de figos, apesar da grande oposição proporcionada pela matéria, todos os espíritos devem aproveitar o ensejo da bendita reencarnação para produzir frutos, sejam quais forem o meio e a época do “nascer de novo”, mesmo que as condições que encontrem sejam adversas.
O secamento da figueira representa a derrocada do ser, em determinada etapa reencarnatória, não havendo o ensejo de ser alcançada a tão esperada e necessária fertilidade espiritual.
A importância do nascer de novo
O meio físico é necessário e indispensável, imprescindível mesmo, para a evolução do espírito, conforme ensinamento espírita, enfatizando: “É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou pelo átomo (matéria). O original francês é bem explícito: “par l´atome” (5). O arcanjo, portanto, não começou “por ser” átomo (tese provinda de erro grave de tradução da primeira obra espírita), e, sim, principiou “pelo” átomo.
O insigne codificador da Doutrina Espírita esclarece que os seres espirituais, em seu estado primitivo, já trazem latente, uma vaga intuição, mais ou menos desenvolvida da presença de um Ente supremo e que “não são seres degradados, mas crianças que estão a crescer” (6), colocando por terra teses espiritualistas equivocadas, relacionando seres angelicais em processo de queda ou de involução. Para o Espiritismo a encarnação não é um castigo. Muito pelo contrário, se faz “necessária a união do espírito e da matéria, para dar inteligência a esta” (7). Em verdade, ensina a Doutrina Espírita que “para ganhar experiência é preciso que o ser espiritual conheça o bem e o mal. Eis por que se une ao corpo” (8). Inclusive, “todos os Espíritos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal” (9). Muito claro que os seres espirituais só distinguem o mal, enquanto encarnados, portanto não foram jogados na arena física como falidos e as potencialidades são exteriorizadas no campo da matéria, diante dos embates das vivências no corpo somático.
O amor como mola propulsora da evolução
Como é gratificante sabermos que somos cidadãos do Universo e, nascendo e renascendo, desenvolvemos todas as potencialidades imanentes em nós. Somos seres imortais, presenteados com inúmeras oportunidades que a reencarnação nos proporciona para nos elevar espiritualmente, procurando praticar sempre o bem, cultivando o amor nas terras férteis do nosso interior.
Paulo clamou a todos os crentes de Coríntios: “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria” (10).
O amor representa a alavanca a ser utilizada para acelerar a evolução espiritual, bradando Kardec que “fora da caridade não há salvação”. Essa máxima vinda da dimensão espiritual ressaltando o amor em ação está amalgamada com o clamor de Jesus, enfatizando que toda a lei está contida em “amar ao próximo como a si mesmo”.
Quando realmente o amor que o Cristo ensinou e exemplificou for vivenciado, vendo o próximo como a si mesmo, não se terá mais a dor compulsoriamente como acicate à evolução espiritual. As infrações do passado serão apagadas, já que, segundo Pedro, “o amor cobre multidão de erros” (11).
Se percorremos trilhas ásperas, fugindo da grande harmonia interior, procurando abrigo onde a luz parece não penetrar, receberemos a dor como nós mesmos granjeamos, até nos conscientizar de que precisamos retornar à estrada, no mesmo ponto em que dela nos afastamos. Quanto mais tempo levamos nos distanciando da luz, mais longo será o retorno, a não ser que consigamos através do atalho do amor, mais depressa retornar.
Nosso destino maior é a perfeição, a qual já existia, em potencial, no momento de nossa concepção na Eternidade.
Bibliografia
- Lucas, XVII: 21;
- “Primeira Epístola aos Coríntios”, VI: 19;
- Mateus, XXI: 18-20;
- Marcos, XI: 13;
- “O Livro dos Espíritos”, Questão 540;
- “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, III: 8;
- “O Livro dos Espíritos”, Questão 25;
- “O Livro dos Espíritos”, Questão 634;
- “O Livro dos Espíritos”, Questão 133;
- “Primeira Epístola aos Coríntios”, XIII: 2;
- “Primeira Epístola de Pedro, IV: 8.