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Artigo do Jornal: Jornal Janeiro 2019

Sobre o autor

Djalma Santos

Djalma Santos

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Talvez, um dos problemas mais intrincados que acometem a mente humana seja o sentimento de culpa e a dificuldade do ser humano em lidar com o perdão dos outros e de si mesmo. Quando cometemos faltas leves médias ou graves, elas ficam gravadas no nosso perispírito e, até mesmo, no nosso DNA, que possui um mecanismo secreto de reparações, que, obrigatoriamente, teremos de realizar – não para satisfazer desejos dos outros, mas os da própria consciência imortal.

       O perispírito, que funciona como um gravador, registrando toda a nossa vida terrena, é também uma espécie de molde do corpo físico e apresenta-se do outro lado da vida, depois da morte, com as características humanas. E, numa próxima reencarnação, deságua no novo corpo físico todo o acervo de realizações, boas ou más, podendo ser chamado de “modelador e organizador biológico”. Por ocasião da concepção, através do ato sexual ou inseminação artificial, o espírito, que está reencarnando, ajusta o seu perispírito ao óvulo materno, que lhe se enraíza, comandando a evolução do feto até o nascimento.

       Os erros cometidos em vidas passadas não desaparecem por encanto e necessitam ser reparados, porque, ao contrário, eles passam a nos incomodar aqui ou no além. A esse respeito, existe um refrão de uma música do cantor Fagner, que diz o seguinte: “Se você errou, tem que se cuidar, sentimento ilhado, justo e amordaçado, volta incomodar”. E volta mesmo: tudo que arremessamos para fora de nós tem um retorno certo e, se não for uma coisa boa, vai nos desequilibrar.

       Perdoar ou ser perdoado não é difícil, mas perdoar a si mesmo passa por um trabalho de paciência, resignação e humildade, como forma inevitável de se perdoar pelos erros cometidos e seguir em frente de maneira melhor, mais ética, mais social e compartilhada, mudando hábitos, tendências e pendores, afastando-se dos vícios, desejos e paixões. Na esfera da alma mortal, devemos entender que existem fatores funcionais internos e externos, que, na realidade, comandam nossa vida terrena e, ao mesmo tempo, ditam as normas de convivência com os nossos semelhantes.

       As influências externas que recebemos diuturnamente são muitas, mas não têm o poder de decisão, que deve ser nossa, por meio do nosso livre-arbítrio e de um processo de escolhas, que devemos aprimorar. Ainda não sabemos escolher, e a vida é um eterno processo de escolhas; escolhemos todos os dias, desde que levantamos até hora de dormir, e vive melhor e feliz quem aprende a escolher. Quando cultivamos baixos padrões vibratórios, instalamos em nós mesmos uma espécie de ímã do pensamento, que automaticamente cria uma sintonia vibratória doentia de desencontro, provocando em si mesmo uma contaminação fluídica, ligada a entidades inferiores, que estão sempre à espreita da nossa falta de vigília.

       A questão da culpa pode parecer simples, mas ela fere agressivamente a autoestima, leva ao remorso e ao arrependimento, impelindo muitas vezes o infrator a autodestruição, causando, ainda, um travamento nas nossas atitudes, além do medo que ronda a nossa personalidade, impedindo que sejamos felizes, ou possamos fazer a felicidade dos outros.

       O perdão para os outros deve ser total e irrestrito, sem nenhuma exigência que possa humilhar o outro. E quando é concedido de coração, é muito melhor para quem perdoa, que retira dos ombros um peso difícil de carregar. Quem não consegue perdoar anda de cabeça baixa, com o olhar parado, não consegue sorrir, não consegue ser feliz, e o pior, não consegue fazer os outros felizes. Quando Jesus adverte para perdoar setenta vezes sete, ele elevou o perdão ao máximo, ou seja, perdoe sempre, porque todos nós somos de alguma forma infratores da vida e necessitamos do perdão.

       Quando estabelecemos um sentimento de culpa, que necessita de reparação, estabelecemos uma tela mental de grande resistência, levando-nos a reviver constantemente o erro praticado, que muitas vezes não conseguimos aceitar, mas está registrado em nossa memória de forma irrefutável. Podemos esconder dos outros, não de nós mesmos. O estado mental que nos indica o lado ruim de nossa personalidade gera desequilíbrio enquanto estamos vivendo aqui na Terra e depois de atravessarmos as águas enigmáticas do rio da morte, no desencarne.

       Do outro lado da vida, depois da morte, continuamos com todo o acervo que amealhamos quando vivos e, no além, fica ainda mais visível a nossa culpa diante dos outros. A maior parte dos espíritos percebe logo isso e aceita os conselhos do irmãos maiores, que supervisionam o mundo dos espíritos, estabelecendo regras e trabalhos que possam auxiliar na reparação, enquanto outros, rebeldes e indisciplinados mentalmente, se recusam ao trabalho e à mudança de comportamento, preferindo aceitar as sugestões de criaturas infelizes do Umbral, das Trevas e do Abismo, fazendo parcerias com encarnados viciosos e viciados, numa simbiose espiritual, que vulgarmente chamamos de obsessão.

       Para os espíritos rebeldes, e avessos a qualquer tipo de conselhos e admoestações, só mesmo a reencarnação, como única maneira de reajustar esses devedores da vida, que, depois de anos e anos de sofrimento na vida mental, pedem, pelo amor de Deus, para receber nova oportunidade, num novo corpo, iniciando outro recomeço, muitas vezes doloroso, porque voltam sem as pernas, sem os braços, cegos, mudos, surdos, sem a visão, autistas e loucos, desaguando no corpo físico todas as mazelas que implantaram nos outros.

       Perdoar a si mesmo é entender que o nosso próximo é a matéria prima com a qual temos de trabalhar para a nossa própria felicidade. Dificilmente, seremos felizes, se não estivermos dispostos a fazer a felicidade dos outros. Quando conseguirmos plantar nos corações daqueles que nos cercam a alegria e a felicidade, a felicidade dos outros nos buscará, aqui ou do outro lado da vida, a fim de implantar, em definitivo, a suprema ventura.

 

Fontes bibliográficas:

Bíblia Sagrada

O Evangelho segundo o Espiritismo

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