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Artigo do Jornal: Jornal Novembro 2018

Sobre o autor

Cláudio Conti

Cláudio Conti

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       Em um olhar pouco atento, ao lermos sobre os mundos transitórios em O Livro dos Espíritos, tem-se a impressão de se tratar apenas de locais de repouso ou “estações" na jornada, entre um mundo e outro, para os espíritos na erraticidade [1,2]. Contudo, no aprofundamento deste tema, podemos chegar à conclusões muito interessantes, demonstrando que, na Criação, tudo tem um motivo muito mais amplo para existir.

       Como poderíamos esperar das Leis de Deus, o espírito está sempre em condições de aprender e evoluir [3] e, sob esta premissa básica, não seria sensato crer que os mundos transitórios sejam locais de “descanso”. Desta forma, assim como o planeta Terra é local de trabalho, apesar do que muitos podem pensar, esses mundos também ensejam o progresso.

       Contudo, podemos inferir que, enquanto servirem de morada para espíritos, por assim dizer, em “trânsito”, não abrigariam em seu seio os processos encarnatórios. Assim sendo, o que caracteriza um mundo de transição é o fato de não propiciar condições para que espíritos possam se expressar materialmente em uma estrutura orgânica, tal como conhecemos ou equivalente.

       A possibilidade de haver a encarnação está intimamente atrelada às condições de habitabilidade material de determinando local, isto é, a vida orgânica, ou equivalente, necessita de determinados requisitos para sua manutenção. Na Terra, por exemplo, necessitamos de água, ar, luz solar, alimento, dentre outros.

       Os mundos transitórios, por sua vez, são estéreis [4]. Apesar da Terra ser um planeta fértil, já foi estéril nos primórdios da sua formação. Assim sendo, por definição, há possibilidade da Terra ter se encontrado na categoria de transitório e é isto o que afirmam os espíritos responsáveis pela Codificação [5,6].

       No processo de elaboração dos mundos que venham a abrigar vida material, há algumas etapas bem definidas: a) formação; b) esterilidade; c) estruturação de matéria condizente com a vida física; d) surgimento da vida física em níveis mais simples e; e) surgimento da vida em níveis mais complexos.

       A formação é decorrente de fatores materiais, obedecendo às leis da Física e da Química, estáveis e constantes para o universo conhecido. Contudo, as condições de habitabilidade, aquelas  condizentes com a vida física, serão decorrentes do tipo de vida em si mesma que, por sua vez, está relacionado com o tipo de espírito que se manifestará na matéria.

       Na questão 234 de O Livro dos Espíritos, encontramos uma informação crucial para o entendimento da função, do motivo pelo qual os mundos transitórios existem, além, é claro, de servir de locais de repouso. A resposta da citada pergunta diz que “são, entre os outros mundos, posições intermédias, graduadas de acordo com a natureza dos espíritos que a elas podem ter acesso…” [1].

       Vemos, portanto, que os mundos transitórios não são todos de uma única categoria, servindo de estação para todo e qualquer espírito, mas estão em níveis intermediários em relação com os outros mundos. Assim, os espíritos que “descansam" neste ou naquele mundo deverão ser de condição específica, compatível com ele.

       A presença destes espíritos dão ensejo para a terceira etapa - estruturação de matéria condizente com a vida física. Como foi dito, a vida física está relacionada com o tipo de espírito, desta forma, é preciso a presença de espíritos para moldar a matéria segundo seu psiquismo, mesmo que inconscientemente, através de um processo natural.

       A quarta etapa - surgimento da vida física em níveis mais simples - é decorrente de um processo de elaboração das formas e que deve ser condizente com os espíritos que utilizarão estas mesmas formas. Por isso, este processo deverá ter como base a etapa anterior de adequação da matéria ao psiquismo dos espíritos para que, a estrutura física de manifestação possa estar adequada. Podemos supor que a matéria que inicialmente se adequou é aquela que foi denominada de “protoplasma" pelo espírito Emmanuel [7], que a descreve da seguinte forma: “Dizíamos que uma camada de matéria gelatinosa envolveu o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos”.

       A partir destes primeiros seres vivos, deu-se início a quinta etapa - surgimento da vida em níveis mais complexos. Emmanuel diz que “milhares de anos foram precisos aos operários de Jesus, nos serviços de elaboração das formas” [7].

       É todo um longo processo de formação e adequação de mundos para que os espíritos nas diversas condições possam encontrar campo propício para sua evolução, a caminho da finalidade da Criação demonstrando que, como disse Jesus, há muitas moradas na casa do Pai [8].

 

Notas bibliográficas:

1. Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, questão 234.

2. Ibid.; 234a.

3. Ibid.; 235.

4. Ibid.; 236a.

5. Ibid.; 236d.

6. Ibid.; 236e.

7. Emmanuel (psicografia de Francisco C. Xavier); A Caminho da Luz, Cap. II.

8.  Allan Kardec; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III.

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