Alguns setores científicos, sobretudo ligados à psicologia e à educação, diuturnamente alertam a respeito dos cuidados indispensáveis aos infantes, principalmente quando se verifica, nos dias atuais, acentuada mudança nos hábitos familiares, principalmente pelo reduzido tempo que os pais têm para dar a atenção devida aos filhos.
Grande parcela de genitores, apegado ao trabalho fora de casa, na maior parte conquistado às custas de muito estudo e dedicação profissional, vivenciam intenso sentimento de culpa, principalmente as mães, dotadas do sublime instinto maternal, o qual as pressiona para ter contato mais abrangente com os filhos.
Como compensar, então, essa terrível ausência? Alguns pais receiam perder o afeto das crianças e se descuidam das tarefas educativas, sem exercer controle direto sobre os filhos, não ministrando regras ou limites, descuidando da imposição da disciplina, não exercendo autoridade e deixando os infantes entregues ao prazer exagerado. Muitos pais tentam compensar a ardente culpabilidade, ofertando impulsivamente para seus filhos brinquedos, jogos, literatura infantil, CDs e DVDs em profusão.
Infelizmente induzem as crianças ao hedonismo, acostumando-as na satisfação de suas vontades, estimulando-as para obtenção do que desejam, facultando-lhes a sensação de reizinhos ou cernes do universo. Contudo, esses infantes vão crescer e, acostumados a receber até além do essencial, certamente na fase adulta se depararão com intensas dificuldades nos relacionamentos amoroso e profissional, não sujeitos aos revezes, sem persistência e esforço nos afazeres do dia a dia, frágeis ao mínimo revés.
O livro de Eclesiástico já alertava: "Aquele que estraga seus filhos com mimos terá que lhes pensar as feridas...” (1).
Kardec perguntou aos Espíritos: Pode-se considerar como missão a paternidade? A resposta, pronta e sábia: “É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem” (2).
Além da conduta de liberação total, levando os filhos em seus colos, sem deixá-los a caminhar por si próprios, transformando as crianças em adultos egoístas e orgulhosos, muitos pais adotam conduta cerceadora, ignorando infelizmente os filhos, os quais, na maior parte das vezes, são educados por outras pessoas.
Como é importante a educação fundamentada no equilíbrio. Primeiramente, é essencial a demonstração de amor, oferecendo afeto, procurando estar com os filhos o máximo de tempo possível, participando dos passeios, das brincadeiras e dos eventos escolares. Mesclar todos esses cuidados, com a imposição dos limites e das regras de conduta social, exercendo o poder, a autoridade, sem confundi-lo com autoritarismo, ensinando os infantes a respeitar os direitos alheios. Essencial para os religiosos cristãos transmitir e exemplificar os ensinamentos de Jesus para que os filhos recebam, além da instrução intelectual, a educação do coração e do caráter, isto é, tenham maior facilidade de apreender ensino moral.
O magnânimo educador Allan Kardec, discípulo de Pestalozzi, inquiriu à espiritualidade: Qual a utilidade de o espírito passar pelo estado de infância? Os seres superiores assim responderam: “Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo” (3). Portanto, Deus concede aos pais a oportunidade de colaborar com os seres que reencarnam, no âmbito familiar, ajudando-os na superação de suas provas ou expiações.
Assim disse Khalil Gibran: “Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da vida, anelando por si própria. Vem através de ti, mas não de ti E embora estejam contigo, a ti não pertencem” (4).
Bibliografia
- Livro de Eclesiástico, 30:7 - Bíblia Católica Online;
- O Livro dos Espíritos, questão 582, FEB;
- O Livro dos Espíritos, questão 383, FEB;
- O Profeta, Poesia de Khalil Gibran, Associação Cultural Internacional Gibran.