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Artigo do Jornal: Jornal Fevereiro 2018

Sobre o autor

Cláudio Conti

Cláudio Conti

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       Em um mundo de expiações e provas, o espírito se vê a braços com inúmeras experiências, consistindo uma considerável parcela de situações aflitivas as quais, na grande maioria das vezes, não consegue lidar adequadamente, surgindo, desta forma, o sofrimento.

       Pode-se considerar que o sofrimento é decorrente da limitação de entendimento do espírito relativo à sua condição de encarnado e às questões materiais envolvidas. Portanto, o sofrimento está atrelado aos mundos nos estágios iniciais de desenvolvimento. Somado a isto, ainda existe uma intensa falta de aceitação dos eventos relacionados com a encarnação.

       Dentre os eventos que acarretam sofrimento, pode-se citar o fenômeno da desencarnação em crianças.

       O hábito de considerar as crianças como “inocentes”, que nunca fizeram o mal, mesmo que seja por não terem atingido a idade adulta ou falta de condição física, é um dos fatores para o sofrimento. Contudo, não se pode estabelecer uma relação entre infância e evolução do espírito [1].

       Outro fator é o apego. Joanna de Ângelis diz que “o apego à forma transitória, que se decompõe, produz a perturbação emocional, dando ideia de que tudo se consumiu, nada mais restando como finalidade da existência humana” [2].

       Em decorrência destas dificuldades e conflitos, a tendência é buscar alguém para culpar. Como desde os tempos remotos, a divindade é considerada como tendo características humanas, observa-se que, diante de perguntas muito comuns de se ouvir nos momentos de aflição, tais como: “Oh, Deus, por que eu?” e “Por que isto aconteceu comigo?” o culpado passa a ser o deus mau e vingativo.

       Se Deus fosse realmente mesquinho e vingador, o mundo estaria em estado caótico. Deus agindo com vingança ou sem motivo sobre cada um, mudando as regras de forma insana, conduziria-o ao caos eterno.

       A base para a avaliação acertada sobre os acontecimentos da vida de encarnado são as características atribuídas à Divindade, mesmo com todas as limitações de entendimento na qual a humanidade terrena se encontra. Para os espíritas, em particular, tal base se encontra na Codificação.

       Kardec explica e enumera as qualidades de Deus: inteligência suprema e soberana, único, eterno, imutável, imaterial, onipotente e, o que é de extrema importância para a compreensão da vida, infinitamente justo e bom [3]. A interiorização, no ser, da justiça e da bondade infinita do Criador é de capital importância para que se possa olhar para este mundo sem que, na melhor das hipóteses, se choque e, também, aceitar os fatos que não se pode mudar.

       O processo reencarnatório é decorrente da justiça de Deus [4] que viabiliza condições adequadas para o desenvolvimento do espírito em qualquer situação em que se encontre. Kardec diz que a justiça de Deus concede, aos espíritos, “realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova”.

       Desta forma, o espírito que desencarna na infância, mesmo os natimortos, ou na fase adulta,  mesmo na total decrepitude, o destino é a possibilidade de continuar com o seu processo evolutivo durante o período na erraticidade e, depois, em uma nova encarnação.

       Joanna de Ângelis informa que “não há prazo, nem determinismo absoluto de tempo, dependendo de inumeráveis razões para que o ciclo que começou se encerre... Assim, a morte é inevitável e o sofrimento que ela gera resulta somente de má interpretação dos objetivos da vida” [2].

       Não há como negar que a partida para o plano espiritual do espírito seja doloroso para os pais e a família em geral. Contudo, apesar da saudade, o consolo que se deve buscar é através da gratidão, primeiramente por ter tido a oportunidade de conviver com aquele espírito em particular, mesmo que tenha sido por período tão curto quanto o da gestação, e, segundo, por ter sido instrumento para a caminhada evolutiva daquele ser que aprendeu a amar.

       Mas, se e quando, por ventura, surgir a situação em que uma pessoa amada não esteja mais presente, seja qual for a idade, criança ou adulto, e que apesar de todo o conhecimento que  esclarece de forma a não sentir revolta, o sofrimento ainda estiver ardendo no coração, deve-se lembrar de Jesus que, há mais de dois mil anos disse: “Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo” [5].

 

Notas bibliográficas:

 

1. Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, questão 197.

2. Divaldo Franco (Joanna de Ângelis); Plenitude, Cap. 12.

3. Allan Kardec;  A Gênese, Cap. 2,

4. Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, questão 171.

5. Allan Kardec; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI.

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