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Artigo do Jornal: Jornal Agosto 2017

Sobre o autor

Jacob Melo

Jacob Melo

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O estudo do Espiritismo pede, entre outras coisas, que estejamos atentos à base e abertos às reflexões que daí promanem. Todavia, nem sempre é tão simples tal caminho, pois o achismo parece ter presença mais forte do que a lógica, e o empirismo se fazer mais constante do que a confirmação de teses. E quando, como argumentação de primeira linha, se advoga “recados espirituais” para justificar algumas coisas pouco plausíveis, então a trilha fica repleta de areia movediça, provocando escorregos e lama naquilo que deveria ser límpido e equilibrado, tal como deve ser uma vera doutrina.

Quiçá uma leitura mais atenta abra novas reflexões, ou polêmicas, como preferem alguns.

Em O Livro dos Espíritos, na questão 388, temos algo que nos faz refletir:
388. Os encontros, que costumam dar-se, de algumas pessoas e que comumente se atribuem ao acaso, não serão efeito de uma certa relação de simpatia?

Ao que os Espíritos responderam:

“Entre os seres pensantes há ligação que ainda não conheceis. O Magnetismo é o piloto desta ciência, que mais tarde compreendereis melhor” (grifei).

 

Geralmente, quando se questiona acerca dos encontros de almas, é muito comum e quase definitivo que a resposta terá como base a reencarnação. Curiosamente, os Espíritos optaram pelas explicações que o Magnetismo poderá oferecer, advertindo, inclusive, sobre a potencialidade futura dessa alavanca bendita. Em cima disso, se alguém se aventura a dizer que uma pessoa se encontrou com outra, com a qual se afinou ou sentiu repulsa de forma quase instintiva, de imediato se pronuncia que são reencontros, como a se eliminar a possibilidade de encontros.

Ora, se o Magnetismo pode oferecer outras explicações, por onde anda a lógica que não busca essa vertente explicativa? Será porque os Espíritos deixaram isso muito superficial ou decorre do fato de não nos satisfazer esse aprofundamento? Essas perguntas surgem naturalmente, mas nada melhor do que buscar o que os Espíritos responderam a Kardec no quesito anterior:

387. A simpatia tem sempre por princípio um anterior conhecimento?

“Não. Dois Espíritos, que se ligam bem, naturalmente se procuram um ao outro, sem que se tenham conhecido como homens”.

 

Simplificando: nem todo encontro é reencontro; nem toda explicação de simpatia ou antipatia se assenta nas hipóteses reencarnacionistas.

A mim me parece que isso está muito claro, todavia há quem prefira dizer se tratar de tema duvidoso, ainda que a base seja e esteja na principal obra do Espiritismo: O Livro dos Espíritos.

Vamos caminhar um pouquinho mais.

Na Revista Espírita de dezembro de 1862, no artigo Estudo sobre os Possessos de Morzine, As causas da obsessão e os meios de combatê-la, encontramos uma preciosidade a respeito do que estamos tratando:

“Suponhamos agora duas pessoas perto uma da outra, envolvida cada uma de sua atmosfera perispiritual – que se nos permita ainda esse neologismo –. Esses dois fluidos vão se pôr em contato, penetrar um no outro; se são de natureza antipática, se repelirão, e os dois indivíduos sentirão uma espécie de mal-estar com a aproximação um do outro, sem disso se darem conta; sendo ao contrário movidos por um sentimento bom e benevolente, levarão consigo um pensamento benevolente que atrai. Tal é a causa pela qual duas pessoas se compreendem e se adivinham sem se falarem. Um certo não sei o quê diz frequentemente que a pessoa que se tem diante de si deve estar animada de tal ou tal sentimento; ora, esse não sei quê é a expansão do fluido perispiritual da pessoa em contato com o nosso, espécie de fio elétrico condutor do pensamento” (grifei).

 

A atmosfera perispiritual – que Allan Kardec se permitiu tratar como neologismo – certamente aponta para as relações magnéticas aludidas nas questões de O Livro dos Espíritos acima tratadas, deixando a consideração reencarnatória de fora da explicação dos fenômenos de antipatia e simpatia – que bem se pode deduzir estão diretamente vinculadas a atos e ações magnéticas.

Mas se assim o é, então resta um ponto crucial: como se poderia resolver ou atenuar essas relações quando forem percebidas como antipáticas? E se isso é questão magnética, o que o Magnetismo poderia nos indicar para tal solução?

Reflitamos. Quando nossos “campos de irradiação” estão muito densos, o que quer que eles projetem será percebido como muito mais intenso do que se estes fossem menos concentrados. Assim importa reduzir ou atenuar esses campos a fim de que suas repercussões não sejam tão fortes ou, quiçá, se ajustem para que sejam evitadas as relações antipáticas.

E como se faria isso em termos magnéticos? Haveria técnica?

A resposta é afirmativa.

A grande maioria dos ajustes que se busca com o auxílio do Magnetismo se dá através de uma técnica bastante conhecida: os chamados dispersivos. Senão vejamos isso: quando iniciamos um passe e se, por algum motivo, esse passe não “responde” como seria de se esperar, até mesmo instintivamente se procede sequência de dispersivos, os quais quase sempre resultam em favorecimento dessa relação e da melhoria do que se busca obter. Isto é uma evidência por demais consistente de que pelos dispersivos se obtém alterações nos campos dessa “atmosfera perispiritual”. Ora, se esse procedimento altera essas estruturas, lógico se pensar que atitudes de dispersão magnética alterarão os campos daí promanados. Todavia, como são dois elementos em relação, em tese será necessário que ambos façam incidir suas dispersões de um sobre o outro.

Os mais apressados certamente questionarão se passes dispersivos, por si só, terão o condão de alterar substancialmente o perispírito, o que, convenhamos, não deve provocar alterações em sua forma absoluta, porém há sim uma considerável alteração na “frequência” e na “ondulação” dessa atmosfera espiritual, daí resultando que seus efeitos serão diretamente modificados.

Disso tudo, para quem pretenda refletir em cima das propostas espíritas, fica evidente que as relações humanas têm muito a ver com o Magnetismo e que estudar essa Ciência, compreendendo-lhe os enunciados e buscando aplicá-los ao cotidiano, certamente propiciará para que ocorra o que o Espírito E. Quinemant escreveu e Allan Kardec publicou em sua Revista Espírita de junho de 1867:

“De tudo isto, concluo que o Magnetismo, desenvolvido pelo Espiritismo, é a chave da abóbada da saúde moral e material da humanidade futura”. Recebido na Sociedade de Paris, 17 de maio de 1867, pelo médium, Sr. Desliens (grifei).

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