Discute-se, desde muito tempo e nos mais diversos recantos, se cabe aos espíritas o direito e o dever de curar. Afinal, de algum modo parece que sempre se tentou deixar interdito ao ser humano comum o poder de cura.
A história registra perseguições e mortes nesse campo, desde imemoriais épocas. As grandes religiões reservaram a seus mais destacados iniciados o poder de agir sob a égide dos seres divinos; enquanto outros que pretendiam realizar grandes feitos eram qualificados de bruxos, hereges ou bastardos de satânicas descendências.
É recorrente a nós, os espíritas, relembrarmos a proposta de Jesus quando nos disse podermos fazer tudo o que Ele fizera, e até mais, desde que o quiséssemos. Mas a verdade é que isso tem se limitado a discursos e sermões, pois quando pretendemos arregaçar mangas para realizar as tarefas que nos competem, logo surgem os defensores da imobilidade, da inoperância, do não se pode ter pressa.
Allan Kardec, afora tudo o que está inserido nas chamadas obras básicas, inicia sua Revista Espírita (janeiro de 1858) com a seguinte introdução:
“O que não se fez e disse contra o magnetismo! E, todavia, todos os raios que se lançaram contra ele, todas as armas com as quais o atingiram, mesmo o ridículo, se enfraqueceram diante da realidade, e não serviram senão para colocá-lo mais e mais em evidência. É que o magnetismo é uma força natural, e que, diante das forças da Natureza, o homem é um pigmeu semelhante a esses cãezinhos que ladram, inutilmente, contra o que os assusta”.
E continua:
“Ainda uma vez, quando uma força é da Natureza, pode-se detê-la um instante: aniquilá-la, jamais! Não se faz mais do que desviar-lhe o curso”.
Anátema! Tem sido a palavra de ordem contra os que querem fazer o que Jesus fazia, seguir o que Allan Kardec e os Espíritos Superiores indicaram, alavancar o Magnetismo, como ciência íntima do Espiritismo.
Houvesse tribunais inquisitoriais nos dias de hoje e certamente teríamos que negar o sol, que é a obra kardequiana, para dizer que o giro se dá em torno dos singulares corpos que se julgam estrelas. Há até quem, lendo e raciocinando Kardec, a fim de não molestar a essas entidades poderosas, diga que as obras que vieram pós Kardec são mais relevantes do que a essência deixada pelo próprio codificador, mas também é certo que logo em seguida adicionam aquilo que foi atribuído a Galileu Galilei: “E pur si muove”, ou seja: mas quem é mesmo importante nisso tudo é Kardec.
É, deveras, impressionante como se pretende restringir a tão pouco, toda a pujança do Magnetismo.
Sim, os passes, mesmo os convencionais, são importantes, de igual forma como são muito importantes os auxiliares de quaisquer profissões, todavia isso jamais deveria servir de base para se diminuir o valor e a necessidade dos saberes e dos aprofundamentos que quaisquer ciências requerem; no caso específico, por que não se querer que os passes sejam melhor compreendidos e mais eficientemente aplicados?
Respostas a essas questões deveriam ser dadas por todos aqueles que disseminam que os passes são apenas singelas manifestações, desprovidas de técnicas e recursos para se curar, como Jesus fazia.
Tomando a Galileu mais uma de suas frases, eis como podemos pensar sobre o que vivemos:
“Não consigo acreditar que o mesmo Deus que nos deu inteligência, razão e bom senso nos proíba de usá-los”.
Nessa linha, não dá para acreditar que a obra de Allan Kardec tenha sido escrita/dada como fonte de diletantismo ou destinada a desvios insustentáveis; certamente que o destino dessa obra exponencial é o de que devemos desenvolver melhor nossa inteligência, nossa razão e nosso bom senso.
Este é mais um assunto vasto, mas que, de uma ou de outra forma, sempre se convergirá para a conclusão de que, negando-se ou afirmando-o, o Magnetismo é a grande ciência, em torno da qual devem gravitar os esforços de todos aqueles que pretendem servir com eficiência e sabedoria.