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Artigo do Jornal: Jornal Outubro 2017

Sobre o autor

Cláudio Conti

Cláudio Conti

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       Na pesquisa científica ocorrem situações em que não existe informação suficiente disponível para se estabelecer uma teoria sobre os processos envolvidos em determinado evento, isto é, definir, com certo grau de certeza, as leis que descrevem o fenômeno. Nestes casos, é possível elaborar postulados decorrentes da observação, em outras palavras, são premissas básicas que descrevem o fenômeno sem, contudo, explicar como ocorre.

       Um dos mais conhecidos conjuntos de postulados na Ciência Acadêmica foi elaborado para descrever um modelo para o átomo e a trajetória dos elétrons nas suas órbitas, são os postulados de Bohr. Apenas para citar um exemplo, um dos postulados deste conjunto diz que o elétron orbita circularmente ao redor do núcleo do átomo, apesar da teoria vigente à época dizer que, nas condições em que se encontra, o elétron deveria descrever uma trajetória em espiral, em decorrência da irradiação de energia, até colidir com o núcleo. 

       Assim, os postulados são utilizados para evitar contradições entre aquilo que se é observado com as teorias vigentes e podem ser aplicados nos diferentes setores da Ciência, inclusive na Ciência Espírita.

       Em O Livro dos Espíritos, Kardec apresenta a seguinte pergunta: Em que se funda o dogma da reencarnação? [1]. Se por um lado, a conceituação para a palavra “dogma” é de ser um preceito inquestionável de uma crença religiosa; por outro lado, a Doutrina Espírita nos conduz ao questionamento, tal como colocado pelo espírito Erasto ao dizer que "Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom senso reprovarem” [2]. Importa, portanto, compatibilizar os conceitos.

       A análise da pergunta de Kardec e, mais adiante, a resposta dos espíritos, fornece material para algumas reflexões, possibilitando, por assim dizer, a atualização da interpretação do termo “dogma” naquilo que estiver relacionado com a Doutrina Espírita.

       Podemos perceber que o questionamento de Kardec consiste em definir uma base, um fundamento para o dogma. Desta forma, a partir do momento em que se busca uma explicação, o dogma deixa de ser interpretado pelo seu significado, por não ser considerado como sendo “inquestionável”.

       Na resposta, os espíritos responsáveis corroboram com a abordagem de Kardec a partir do momento que apresentam uma explicação, uma lógica para a aceitação da reencarnação. Dizem eles: “Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o Bom Pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento…” [1].

       Assim, temos que o princípio da reencarnação é baseado na justiça Divina que, por sua vez, também possui um fundamento, a bondade de Deus, que pode ser percebida pela possibilidade dos espíritos se redimirem das suas faltas.

       Percebe-se uma sequência de conceitos que culminam em um ponto observável, isto é, do fato de ser um senso comum, apesar de não ser aplicado amplamente em todos os pontos do planeta, que os faltosos, tais como os criminosos, merecem uma segunda chance após um período de correção. Nos casos mais simples, como infrações de trânsito, a correção pode ser através de uma multa e perda de pontos, por exemplo.

       Na continuação da resposta à pergunta de Kardec, os espíritos demonstram esta ideia ao dizer: “Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão” [1].

       Apesar do que muitos pensam, a reencarnação ainda não foi comprovada cientificamente, os diversos relatos de pessoas que aparentam lembrar de eventos em outras existências corpóreas ou de talentos precoces são indícios de possibilidades além do conceito comum, dentre elas, a reencarnação.

       Todas estas questões tratadas neste texto (a reencarnação, a Justiça de Deus e a Sua Bondade), colocando-as em uma terminologia mais atual, podem ser apresentadas como Postulados Basilares da Ciência Espírita, frutos da observação e passíveis de virem a ser confirmados.

       A alteração de paradigma sobre a abordagem do dogma, conforme trazido pela Doutrina Espírita, apesar da terminologia utilizada na época ainda ser a mesma, mas com a interpretação de postulado, estabelece uma importante mudança no tratamento de temas muito importantes, correspondendo a gradual transformação da fé, de fanática para raciocinada.

              

Notas bibliográficas:

[1] Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, questão 171.

[2]  O Livro dos Médiuns, Cap. XX, item 230.

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