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Artigo do Jornal: Jornal Fevereiro 2017

Sobre o autor

Iris Sinoti

Iris Sinoti

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Ao nos tornarmos adultos, somos ou deveríamos ser responsáveis por todas as escolhas que fazemos em nossa vida. Essas escolhas trarão, indubitavelmente, consequências que deveremos estar prontos para assumir, e com isso nos tornarmos cada vez mais responsáveis por nós mesmos.

Mas às vezes, essas escolhas conduzem o adulto a um carrossel de obrigações principalmente sociais, onde ele se vê obrigado a atender cada vez mais e mais. A questão é que tornar-se adulto requer, mais do que assumir “novas” obrigações, comprometer-se a um constante processo de mudança interior. Como afirma Joanna de Ângelis 1 : “Ao atingir a idade adulta (o ser 2 ) deve estar em condições de viver as suas responsabilidades e os desafios existenciais. É comum, no entanto, perceber-se que o desenvolvimento fisiológico raramente faz-se acompanhar do seu correspondente emocional, o que se transforma em conflito” . O que se percebe, na maioria das vezes, é o indivíduo chegar à fase adulta sem se conhecer efetivamente. Por conta disso, faz escolhas guiadas por impulsos internos desconectados da consciência, e que inadvertidamente são aceitos pelo ego imaturo, transformando a vida em um palco de ilusões, decepções e frustrações. 

Se ao nos tornarmos adultos não estamos prontos (o que é muito bom em certo sentido), então precisamos continuar o processo de crescimento, o que inclui autoeducação e autoaprimoramento constantes. Quando estamos comprometidos com a educação de uma criança, por exemplo, nos empenhamos para garantir que ela se torne um adulto saudável. Isso significa que não há diferença quando nos ocupamos com o nosso processo de ser saudável, ou seja, é preciso encontrar a criança que existe em nós e educá-la, acolhê-la, curá-la e amá-la. Esse projeto inacabado que somos é decorrente da condição que ainda nos encontramos, conforme apresenta Joanna de Ângelis: “ O ser imaturo psicologicamente não venceu a infância que foi transferida para a idade adulta com toda a carga de conflitos não resolvidos que se manifestam no relacionamento, sempre escondendo a personalidade insegura e doentia” 3 .

Talvez o que a maioria de nós ainda não tenha percebido é que somos responsáveis pela “manutenção do mundo”, e que ser adulto é assumir para si a continuidade e o aprimoramento do mundo em que nos encontramos e, conjugado a isso, o crescimento pessoal, que Carl Gustav Jung chamou de Processo de Individuação. Enquanto não aceitamos que estamos encarregados dessa tarefa viveremos como citado acima, inseguros e doentes, aturdidos com preocupações que na realidade não mereciam tanta importância, por exemplo:

Tornar-se maduro exige que saibamos lidar com as incertezas que a vida nos reserva, compreender que não temos e não podemos controlar a vida, mas que podemos e devemos aprofundarmo-nos no ser que estamos para a conquista do ser que somos, pois, assim como Santo Agostinho, precisamos aprender com a vida, prestando atenção nas nossas experiências pessoais.

E apesar de todas as exigências que o mundo nos faz, é preciso que o ser adulto volte-se para dentro de si, possibilitando assim o crescimento, a mudança e o encontro consigo mesmo. Afinal, é esse o objetivo da jornada.


> 1 O Ser Consciente , cap. 1

> 2 Grifo nosso.

> 3 Psicologia da Gratidão , cap. 2

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