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Artigo do Jornal: Jornal Julho 2016
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A Codificação Kardeciana é riquíssima em informações a respeito das desordens mentais, das patologias tratadas pela psiquiatria e que proporcionam uma gama intensa de sofrimento. A Doutrina Espírita enfatiza que as doenças de cunho mental, sob o ponto de vista espiritual, têm muita similitude com as patologias que cursam com retardamento mental, conhecidas, no meado do século XX, como idiotia e cretinismo, porquanto, durante o sono, no momento da emancipação da alma, nos quais não sofre tanto a influência da matéria, os Espíritos acometidos poderão demonstrar sua inteligência incontestavelmente superior à de seu estado normal, no qual suas faculdades se encontram impossibilitadas de se manifestar (Ver Revista Espírita de janeiro de 1861, O Espírito Batedor de Aube).

 

BOX-1: Dessemelhança entre a loucura e as patologias cursando com retardamento mental

A diferença marcante é descrita por Kardec, na Revista Espírita de setembro de 1864, no capítulo intitulado: Influência da Música sobre os Criminosos, os Loucos e os Cretinos, relatando que “os loucos, quase sempre, foram homens inteligentes; ocorre de outro modo com os idiotas e os cretinos, que parecem votados, pela própria Natureza, a uma nulidade moral absoluta”. Então, o “Mestre de Lion” ressalta que “os portadores de doença mental são providos, no nascimento do corpo, de órgãos cerebrais constituídos normalmente, mas que se desorganizam mais tarde; ao passo que o segundo é um Espírito encarnado num corpo cujos órgãos atrofiados, desde o princípio, jamais lhe permitiram manifestar livremente o seu pensamento”. 

O acometimento cerebral pode ocorrer, nos deficientes intelectuais, englobados no tempo de Kardec como idiotas e cretinos, devido a fatores genéticos, perinatais (na gestação e no parto) e pós-natais. Como causa genética, temos as síndromes (Down, Rett, Tay-Sachs). De origem perinatal, assinalamos as drogas teratogênicas, os traumatismos e as infecções viróticas (rubéola, citomegalovírus) e bacterianas (sífilis). Entre as causas pós-natais, destacamos os traumatismos cranianos, doenças infecciosas como as meningites e as síndromes de abandono, maltrato e desnutrição proteico-calórica nos períodos iniciais do desenvolvimento. Os erros inatos do metabolismo serão causa de lesão cerebral, podendo ser diagnosticados no período pós-natal (teste do pezinho feito após as primeiras 48 horas do bebê e até o 5º dia de vida) e depois devidamente controlados. Importante mencionar que o rastreamento perinatal diagnostica o cretinismo, que é uma doença mental causada por hipotireoidismo congênito e que resultará em retardo do desenvolvimento cerebral, se o paciente não receber tratamento ao longo da vida com tiroxina (hormônio tireoidiano).

 

BOX-2: Mesma causa espiritual dos portadores das doenças mentais e do atraso mental

O que amalgama, em relação à causa espiritual, os chamados loucos aos portadores de deficiência intelectual é o abuso da inteligência perpetrada em encarnações passadas. Assim, a vivência com a limitação evita que as ações abusivas continuem a servir de pedra de tropeço, como, igualmente, pode operar para o afloramento de faculdades positivas, como o reconhecimento do afeto e da amizade a eles oferecidos. A partir daí, há a possibilidade até do desenvolvimento desses atributos. 

 

BOX-3: Situação espiritual dos portadores da loucura e dos deficientes mentais. 

Compulsando a obra básica doutrinária O Livro dos Espíritos, na questão 371, o Codificador questiona à Espiritualidade Superior a respeito de ter algum fundamento a opinião de que os cretinos e os idiotas teriam uma alma de natureza inferior e recebeu a seguinte resposta: “Não. Eles têm uma alma humana frequentemente mais inteligente do que pensais, e que sofre com a insuficiência dos meios de que dispõe para se comunicar, como o mudo sofre por não poder falar”. Na questão seguinte, Kardec, com o brilhantismo de sempre, pergunta: - “Qual é o objetivo da Providência ao criar seres desgraçados como os cretinos e os idiotas? ” Os Instrutores do Além afirmam, com muita propriedade, que “são Espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas e sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos e pela impossibilidade de manifestar-se através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos”.

Interessado no aprofundamento do tema, o “Mestre de Lion” interroga se não é exato dizer que os órgãos não exercem influência sobre as faculdades? Os Benfeitores da Humanidade assim retorquiram: “Jamais dissemos que os órgãos não exercem influência. Eles a exercem, e muito grande, sobre a manifestação das faculdades, mas não produzem as faculdades. Esta a diferença. Um bom músico, com um mau instrumento, não fará boa música, o que não o impede de ser um bom músico” (Questão 372-a). Logo após, o inolvidável Kardec explica que “é necessário distinguir o estado normal do estado patológico. No estado normal, o moral supera o obstáculo material. Mas há casos em que a matéria oferece uma tal resistência que as manifestações são entravadas ou desnaturadas, como na idiotia e na loucura. Esses são casos patológicos, e em tal estado a alma não goza de toda a sua liberdade. A própria lei humana a isenta da responsabilidade dos seus atos”.

Continuando no trabalho majestoso de interpelar os judiciosos Espíritos, o Codificador indaga: “Qual o mérito da existência para seres que, como os idiotas e os cretinos, não podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir”? Os sábios “Pedagogos Extrafísicos” replicaram que “é uma expiação imposta ao abuso que tenham feito de certas faculdades; é um tempo de suspensão” (Q. 373). A seguir, o Professor Rivail inquire “se um corpo de idiota pode então encerrar um Espírito que tivesse um homem de gênio, numa existência precedente?”, recebendo a informação afirmativa e a complementação de que “o gênio se torna às vezes uma desgraça, quando dele se abusa” (Q. 373-a). O Codificador comenta que “a superioridade moral não está sempre na razão da superioridade intelectual, e os maiores gênios podem ter muito a expiar; daí resulta frequentemente para eles uma existência inferior às que já tenham vivido, e uma causa de sofrimentos. Os entraves que o Espírito prova em suas manifestações são para ele como as cadeias que constrangem os movimentos de um homem vigoroso. Pode-se dizer que os cretinos e os idiotas são estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e o cego dos olhos”.

Na questão de nº 374, os Prepostos de Jesus respondem se o idiota, no estado de Espírito, tem consciência de seu estado mental, dizendo que sim e que “muito frequentemente compreende que as cadeias que entravam seu desenvolvimento são uma prova e uma expiação”. Quanto a situação do Espírito na loucura, é dito que, “em liberdade, recebe diretamente suas impressões e exerce diretamente a sua ação sobre a matéria; mas, encarnado, encontra-se em condições totalmente diferentes e na contingência de não a fazer senão com a ajuda de órgãos especiais. Que uma parte ou conjunto desses órgãos sejam alterados, e a sua ação ou suas impressões, no que respeita a esses órgãos, ficam interrompidos. Se ele perde os olhos, fica cego; sem os ouvidos, fica surdo etc. Imagina agora se o órgão que preside aos efeitos da inteligência e da vontade for parcial ou inteiramente atacado ou modificado, e fácil te será compreender que o Espírito, só tendo então a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, deve entrar numa perturbação de que, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso já não pode deter” (Q. 375).

Continuando na tarefa de esclarecimento da Humanidade, os Benfeitores e Instrutores da Dimensão Espiritual ensinam que, na loucura, é então sempre o corpo e não o Espírito o desorganizado. Contudo, respingam que “é necessário não perder de vista que, da mesma maneira que o Espírito age sobre a matéria, esta reage sobre ele numa certa medida, e que o Espírito pode encontrar-se momentaneamente impressionado pela alteração dos órgãos através dos quais se manifesta e recebe as suas impressões. Pode acontecer que, com o tempo, quando a loucura durou bastante, a repetição dos mesmos atos acabe por exercer sobre o Espírito uma influência da qual ele não se livrará senão depois da sua completa separação de toda impressão material” (Q. 375-a).

Kardec, sabendo que a loucura leva algumas vezes ao suicídio, indaga qual ser a razão? Os Espíritos replicam que “o Espírito sofre pelo constrangimento a que está submetido e pela impotência para manifestar-se livremente. Por isso busca libertar-se por intermédio da morte” (Q. 376). A seguir, o Codificador interpela a Espiritualidade Superior se após a morte, o Espírito se ressente da perturbação de suas faculdades? A resposta, pronta e límpida: “Ele pode ressentir-se durante algum tempo, até que esteja completamente desligado da matéria, como o homem que, ao acordar, se ressente por algum tempo da perturbação em que o sono o mergulhara” (Q. 377).

Finalmente, encerrando esse importante diálogo bem esclarecedor, o “Mestre de Lion”, interrogando a respeito de como a alteração do cérebro pode reagir sobre o Espírito após a morte, recebeu a devida explicação de que é apenas uma lembrança e que “um peso oprime o Espírito, e como ele não teve consciência de tudo o que se passou durante a sua loucura, é necessário um certo tempo para que se ponha à corrente. É por isso que, quanto mais tenha durado a loucura, durante a vida, mais longamente durará a tortura, o constrangimento, após a morte. O Espírito desligado do corpo se ressente por algum tempo da impressão dos seus ligamentos”.

As obras mediúnicas, igualmente corroboram a Codificação, citando como causas espirituais dessas graves desordens as experiências vivenciadas de progresso intelectual sem a contraparte moral com graves prejuízos ocasionados a outrem, como também abordam na gênese da desordem mental casos de suicídio, necessitando de premente misericórdia.

Na Introdução de O Livro dos Espíritos, cap. XV, há corroboração de tudo o que foi já assinalado, afirmando Kardec que “a loucura tem como causa primária uma predisposição orgânica do cérebro, que o torna mais ou menos acessível a certas impressões. Havendo a predisposição para a loucura, ela se manifestará como uma ideia fixa”. Em verdade, a alma não está enlouquecida, apenas não consegue normalmente atuar sobre o cérebro, o qual se apresenta alterado, impedindo o contato, a comunicação plena com o mundo exterior.

 

BOX4-      Perturbações Mentais por Influência Espiritual

Na obra O que é o Espiritismo, Dificuldades dos Médiuns, item 74, o professor Rivail ressalta que “na loucura propriamente dita a causa do mal é interior; é preciso procurar restabelecer o organismo ao estado normal. Na subjugação, a causa do mal é exterior; é preciso desembaraçar o doente do inimigo invisível não com remédios, mas com uma força moral superior à sua”. Kardec conceitua esse processo, dizendo tratar-se do domínio espiritual exercido sobre certos indivíduos, apresentando caracteres diversos que é necessário distinguir (O Livro dos Médiuns - Item 237).

O estimado médico espiritual, Bezerra de Menezes, em sua obra Loucura Sob Novo Prisma, escrita ainda como encarnado, relata que, na doença mental, há desarmonia de ação da alma e do cérebro, do ser pensante e do órgão da manifestação do pensamento, o cérebro, inteiramente comprometido, incapaz de captar com fidelidade o pensamento do Espírito. Essa afirmação de Bezerra está de acordo com a Psiquiatria clássica, considerando doença mental igual à doença cerebral. Contudo, o magnânimo mentor vai mais além, acompanhando a Codificação kardeciana, abordando, com ênfase, os casos de importantes perturbações mentais, em que não são encontradas, inicialmente, lesões cerebrais, onde o processo acontece sempre por influência de espíritos ainda não esclarecidos. Com o evolver do quadro, a ação perniciosa do obsessor, contínua, pode lesar a estrutura cerebral da vítima.

Como é importante a contribuição da Doutrina Espírita, oferecendo subsídios para a pesquisa e tratamento das doenças mentais, distinguindo as causas físicas das morais e poder combater a moléstia de maneira mais eficaz. O Codificador nos afirma que “A ciência e a religião são duas alavancas da inteligência, uma revela as leis do mundo material e a outra revela as leis do mundo moral” (Cap. 1, item 8, dO Evangelho Segundo o Espiritismo)

O momento está próximo, em que o Consolador Prometido e a Ciência estarão juntos, falando a mesma língua e de mãos dadas, proporcionando aos doentes de todos os matizes o tratamento médico, acompanhado da presença do doce e amorável Mestre Jesus, em verdade o excelso “médico dos médicos”, com sua ação descrita nos Evangelhos: “Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem(Lucas 7:22).

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