Por Cláudio Sinoti
De Salvador/BA

Ao longo da história da humanidade, várias culturas dedicaram-se ao estudo e observação dos sonhos, na tentativa de desvelar o seu significado. Há relatos de templos dedicados à cura na antiga Grécia – em homenagem ao deus Asclépio– que acreditavam que os deuses neles se manifestavam, com as respostas necessárias para que a cura se estabelecesse. Também no Egito, encontraremos o exemplo bíblico de José, que ao decifrar corretamente os sonhos do rei, conseguiu não somente salvar a própria vida, mas poupar o Egito de passar por graves dificuldades.
Milênios mais tarde a psicologia voltaria a se interessar pelo fenômeno onírico, chegando Sigmund Freud a encontrar nos sonhos “a estrada real para o inconsciente.” Percorrendo a trajetória dessa estrada real, o pai da psicanálise chegou a importantes – embora questionáveis – conclusões para a psicologia. Apoiado nas descobertas de Freud, mas chegando a interpretações e conclusões que ampliavam o olhar além da sexualidade humana, Jung concluiu que “dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco através dos sonhos.”
E foi na observação atenta dos sonhos dos seus pacientes (Jung julga ter analisado por volta de 80 mil sonhos) que ele descobriu um papel fundamental dos sonhos na psique: eles estão a serviço do nosso processo de individuação, segundo o qual o indivíduo desenvolve as suas potencialidades e faz emergir à consciência sua personalidade como um todo.
A Psicologia Transpessoal, por sua vez, apresenta uma série de abordagens a respeito dos sonhos. Na avaliação de Owspensky, os sonhos estariam divididos em três categorias: “os sonhos caóticos, os sonhos dramáticos e os sonhos de revelação.” Os sonhos caóticos seriam aqueles desprovidos de sentido, podendo ser hilariantes ou atemorizantes. Os dramáticos incluem uma sequência lógica, muitas vezes contendo características e potencialidades que o ser precisa ou já pode desenvolver. Os revelatórios seriam mais raros, acompanhados normalmente de uma profunda emoção.
Na visão Espírita os sonhos representam, dentre outras possibilidades, o registro do Espírito durante o sono, porquanto “quando afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.” (KARDEC, 2003, Questão 401) . Respondendo ao Codificador, Allan Kardec, os Espíritos estabelecem que o sonho “é amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião...”
A análise de Joanna de Ângelis a respeito dos sonhos, ao longo da sua Série Psicológica, possibilita integrar as abordagens psicológicas e a Espírita, que antes de serem antagônicas estabelecem-se como complementares. Convém recordar que, à época da Codificação, a Psicologia ainda não existia enquanto ciência autônoma, e que as Entidades não se utilizariam de uma linguagem psicológica sem que a humanidade tivesse condição de acompanhar. Sendo assim, os sonhos representam, dentre outras possibilidades:
- Liberação de clichês do inconsciente, muitas vezes responsáveis pelos conflitos psicológicos;
- Representação das pulsões e desejos – correspondentes ao id das concepções freudianas;
- Decorrência de processos fisiológicos – representação das carências e necessidades do corpo físico;
- Desdobramentos do Espírito durante o sono, que participa de encontros, eventos, atividades socorristas etc. Nessas ocorrências pode haver vislumbres do passado e do futuro;
- Processo conduzido pelo Self, impulsionando a individuação.
Os sonhos configuram-se, portanto, nessa rica gama de conteúdos psicológicos e espirituais, de certa forma ainda inexplorados, mesmo considerando que passamos quase 1/3 das nossas vidas “dormindo”. É, pois, o momento de “despertar” para os sonhos, no sentido de estar mais atento às imensas possibilidades de autoconhecimento que eles nos apresentam, e que permanecem ignoradas pela grand