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Lúcia Moysés

Lúcia Moysés

"O bem que praticas em qualquer lugar será teu advogado em toda parte." Emmanuel
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A notícia saiu em toda parte: "morreu o menino Diego do violino, do grupo AfroReggae." Também nós havíamos ficado comovidos ao vê-lo tocar, chorando, no sepultamento do seu antigo professor, meses antes. Aquelas lágrimas se constituíram em uma das mais emocionantes cenas do nosso noticiário recente. Não era, pois, de se estranhar, que o seu prematuro retorno à pátria espiritual causasse tanta comoção. Foi matéria de primeira página de jornal e mereceu destaque especial nos principais telejornais do dia.
Sites da internet rapidamente apresentaram um apurado levantamento da sua vida, sua arte e da sua partida. Assim ficamos sabendo que Diego era um menino feliz, que gostava muito do que fazia. Tinha tido uma vida difícil. Aos 4 anos, teve meningite, agravada por uma pneumonia. Sobreviveu à doença e ao crime que o rodeava, no lugar onde cresceu. Mesmo com a memória comprometida por problemas de saúde enfrentados na infância, destacou-se na Orquestra de Cordas do AfroReggae. Diego do Violino, como se tornou conhecido, foi aplaudido por onde passou.

O seu violino era tocado com a alma.

Esta história, só a conhecemos depois que o seu estado de saúde se agravou e se tornou notícia nos jornais. O sentimento que ele despertou nas pessoas, no entanto, veio antes, na hora em que o vimos chorar enquanto tangia o seu violino em homenagem ao mestre que partia. O que nos tocou o coração foi perceber a sua extrema sensibilidade, seu sentimento puro, cristalino, algo que em sua curta vida, ele dera provas de haver aprendido. E foi essa sensibilidade que encontrou eco no fundo do nosso ser, levando-nos a refletir sobre os sentimentos infantis.

Pestalozzi: o mestre dos sentimentos

Nós, educadores, quase sempre estamos mais preocupados em passar informações e desenvolver o intelecto das nossas crianças do que ajudá-las a trabalhar os seus sentimentos. Muitos chegam até mesmo a afirmar que a educação da afetividade não é tarefa nossa. Ledo engano. O verdadeiro educador está, também, atento para este aspecto. Sabe que é ele, por meio de um trabalho cuidadoso, que nos faz mais humanos.

Trabalhar a sensibilidade é tarefa que exige esforço, dedicação, valendo-se das oportunidades que a vida apresenta. Lembro-me de um relato de Pestalozzi, o grande educador suíço, acerca de uma experiência por ele vivida numa época em que dirigia um internato destinado a abrigar crianças muito pobres da região de Stanz, um vilarejo situado na zona rural do seu país. Ali, com muito amor, tentava compensá-las das privações que passavam, uma vez que a instituição era mantida muito precariamente pelo governo. O fato narrado teve origem em um grande incêndio ocorrido nas redondezas da aldeia, o que levou um grande número de famílias ao desabrigo. Em face dos acontecimentos, reuniu seus meninos, explicando-lhes a situação. Falou-lhes do seu desejo de abrigar cerca de vinte crianças que estariam, naquele momento, sem teto, sem alimentação e sem vestimenta. Como essa medida implicaria em fazer com que as crianças passassem mais dificuldades materiais, decidiu questioná-las a respeito, deixando claro quais seriam as consequências dessa decisão. A resposta positiva que recebeu, tocou fundo a sua emoção. Sim. Elas estavam dispostas a ter que trabalhar mais nas aulas, a comer menos e a dividir suas roupas com as crianças desabrigadas. Tudo por amor.

Aprender pela ação

Este é, sem dúvida, um belo exemplo de como deve ser a educação do sentimento: por meio de ações.Se, portanto, queremos ter filhos sensíveis, precisamos levá-los a vivenciar conscientemente situações nas quais os bons sentimentos possam ser exercitados. Há, no dia a dia, inúmeras situações que se prestam a isso. Basta um olhar a nossa volta para constatarmos as lutas e dificuldades que enfrentam parcelas significativas da nossa população. Seria bom que a criança aprendesse a ver no outro, um igual; um filho de Deus que, por razões que ignoramos, passa por provações. Cabe, sobretudo aos pais, manter suas antenas ligadas para detectar situações que se prestam ao exercício das boas ações, da expressão dos bons sentimentos e da sensibilidade, ajudando seus filhos no desenvolvimento da afetividade.

O menino Diego, tocado pela música, teve algo a dar ao seu mestre naquela despedida. O seu caso ficou para nós como um exemplo a ser seguido. Conforta-nos imaginar que agora, onde se encontra, o som do seu violino enche de encantos e suavidade o seu caminhar.

Publicado no Jornal Correio Espírita edição 59 / Maio 2010.

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