Na mesma linha do texto de Outubro de 2020 que apresentamos neste Jornal [1], trazemos uma avaliação das bênçãos e do seu oposto, as maldições. Este tema merece certa atenção, pois Kardec dedicou um item em O Livro dos Espíritos para uma questão apenas, que está transcrita a seguir [2]:
Podem a bênção e a maldição atrair o bem e o mal para aquele sobre quem são lançados?
“Deus não escuta a maldição injusta e culpado perante ele se torna o que a profere. Como temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, pode a maldição exercer momentaneamente influência, mesmo sobre a matéria. Tal influência, porém, só se verifica por vontade de Deus como aumento de prova para aquele que é dela objeto. Demais, o que é comum é serem amaldiçoados os maus e abençoados os bons. Jamais a bênção e a maldição podem desviar da senda da justiça a Providência, que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção não acoberta senão aquele que a merece.”
Para sermos capazes de entender esta resposta apresentada pelos Espíritos responsáveis pela Codificação Espírita no melhor da nossa capacidade será necessário analisá-la em parte, frase por frase, no intento de identificar todas as nuances do tema.À primeira vista, pode parecer que Deus não escuta maldições, mas não é isso que é dito. Na resposta apresentada a Kardec consta que “Deus não escuta a maldição injusta”[2]. A palavra "injusta" faz grande diferença. Contudo, antes de falar sobre este ponto, é preciso salientar que, por “Deus escuta”, não devemos interpretar como Ele, ouvindo como nós ouvimos, quando alguém fala conosco e que podemos prestar atenção ou não. Seria mais correto interpretar como, no caso a maldição, trazendo algum efeito ou não, pois os efeitos dos nossos atos e pensamentos sejam bons ou não, são regidos pela Providência, onde as Leis são impressas, por assim dizer e que regem nossa existência, Leis essas a que todos estamos submetidos.
Após esta colocação, interpretando os efeitos como decorrentes de Leis bem definidas, podemos compreender a questão da palavra “injusta”. Caso o desejo de causar dano a alguém em decorrência de uma possível má ação que este não haja realmente realizado, as Leis, em si mesmas, não contemplam a receptividade deste. Em outras palavras, como o suposto malfeitor, não teve intenção de causar qualquer dano ou que seja apenas uma interpretação equivocada da suposta vítima, o “malfeitor" não carrega consigo a informação de uma má ação, portanto não estabelece receptividade.
Assim, na perfeição das Leis, apenas o verdadeiro culpado sofrerá as consequências de suas faltas, sem necessidade de qualquer julgamento. Desta forma, o ensinamento apresentado por Jesus de não julgar traz importante lição, pois aquele que julga erroneamente sofrerá as consequências da falta cometida - o equivalente a ser julgado, por isso o “Não julgueis, para não serdes julgados”[3].Espíritos ligados a um mundo de expiações e provas apresentam duas componentes: uma relativa ao bem e outra ao mal. Desta forma, é difícil considerar-se isento da maldição lançada por alguém e, assim, como "temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, pode a maldição exercer momentaneamente influência, mesmo sobre a matéria”[2].
Apesar do que foi dito, não devemos nos considerar presas fáceis ou frágeis diante de possíveis maldições que nos sejam direcionadas. Podemos e, até mesmo, devemos considerar esta questão, como se fosse um vírus, assunto do momento. Todos estamos sujeitos aos vírus que se encontram no ambiente e aos quais não conseguimos um isolamento completo, portanto estamos suscetíveis a eles. Nós temos defesas naturais aos vírus em nosso organismo, contudo nos cabe fortalecer essas defesas, adotando práticas e posturas adequadas, tais como alimentação saudável, exercícios físicos, lazer adequado, mente sadia, dentre outras, que fortalecem as barreiras. Em contrapartida, o contrário dessas práticas e posturas enfraquecem as barreiras, tornando o organismo suscetível à enfermidade.
Interessante verificar que as mesmas práticas que fortalecem o indivíduo contra os vírus são as mesmas que o fortalecem para qualquer maldição, para usar o mesmo termo do título, que lhe seja direcionada, seja por encarnados ou desencarnados.
O motivo pelo qual Espíritos do nosso nível evolutivo são passíveis de tal influência é para servir "como aumento de prova para aquele que é dela objeto”[1], isto é, serve de estímulo para o aprimoramento pessoal.
Apesar de termos tratado, aqui, principalmente das maldições, o mesmo vale para as bênçãos. Na resposta apresentada a Kardec, consta que "jamais a bênção e a maldição podem desviar da senda da justiça a Providência, que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção não acoberta senão aquele que a merece”[1]. Assim sendo, da mesma forma que a maldição surtirá algum efeito apenas nos maus, a bênção também surtirá efeito naqueles que as merece, isto é, são passíveis de sentirem os efeitos benéficos em decorrência das suas atitudes e postura. Contudo, é imperioso o entendimento que o merecedor em questões relacionadas com a ação da Providência não é aquele que faz por merecer, mas aquele que faz sem ter em mente qualquer tipo de recompensa e/ou merecimento.
Notas bibliográficas:
1. Claudio C. Conti. Poder Oculto, Talismãs e Feiticeiros, Jornal Correio Espírita, outubro de 2020.
2. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questão 557.
3. Idem. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. X.