Virtudes são qualidades que enobrecem o ser humano dentro da vida e perante DEUS, tornando-o digno da admiração de seus semelhantes.
Adquiridas pelo esforço próprio do Espírito no processo natural da sua evolução, através do estudo e da experiência no trato com os problemas existenciais, são múltiplas e de variadas espécies, umas de natureza preponderantemente sentimental, outras mais ligadas ao intelecto, todas importantes e igualmente úteis dependendo isso da ocasião e da situação.
Há virtudes populares e também quase desconhecidas. Aquelas que todo mundo elogia e as que raramente são citadas e ainda menos valorizadas. As tidas em alta conta, como teologais: a fé, a esperança e a caridade, e as tidas como suspeitas, ou consideradas desprezíveis pela religião, como a franqueza e a coragem.
Existem as virtudes que geralmente passam despercebidas, como a temperança, a paciência, a parcimônia, a serenidade, a cautela e virtudes que não são reconhecidas como tal, e sim identificadas como temperamento: otimismo, calma, bom humor, perseverança, espontaneidade, etc.
Não é muito fácil distinguir a virtude, que possui conteúdo ético, do temperamento, que depende da constituição biológica, do sistema nervoso, e nada tem a ver com moral. Os dicionários a definem como “disposição firme e constante para a prática do bem”, e nesse conceito há um detalhe que reclama atenção especial: se quisermos ser virtuosos nossa disposição para praticar o bem não deve ser apenas firme, mas também constante, ininterrupta, sem intervalo produzido por indiferença ou comodismo.
Cumpre-nos ser virtuosos?
Pascoal achava que sim e defendia a tese com desconcertante pragmatismo, argumentando mais ou menos deste modo na sua condição de irreverente monge católico: viva virtuosamente e estará fazendo um grande negócio, porquanto se após a morte houver sobrevivência você receberá de Deus a compensação; se não existir imortalidade você terá vivido uma existência neste mundo melhor de que teria não sendo virtuoso.
A lógica de Allan Kardec não é cínica como a de Pascal, contudo é de igual maneira convincente: o codificador da nossa doutrina mostra que, revelando a vida depois da morte, e a explicando com lucidez filosófica o Espiritismo nos conduz a uma fé religiosa raciocinada e com ela poderemos conquistar todas as virtudes.
Ainda sobre a questão das virtudes, convém destacarmos duas sutilezas. Uma é a de que, como diziam os pensadores na Antiguidade clássica, quando ensinavam a prudência, a virtude é comedida e nunca se associa ao exagero, ao extremismo. Excesso de humildade é covardia, de tolerância é convivência. A verdadeira virtude está sempre “no meio termo”? “Nem tanto nem tão pouco”. Outra sutileza é que, embora na teoria todas as virtudes sejam igualmente importantes, porque o valor de cada uma depende da ocasião e da situação conforme já ressaltamos, há ou pode haver na prática virtudes mais meritórias perante DEUS.
Quais são elas?
A resposta a esta pergunta encontra-se na página 411 da 80ª edição feita pela FEB de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, de Allan Kardec. Ei-la:
“893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?
“Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”
Amigos leitores, este artigo foi escrito em vida pelo já saudoso Nazareno Tourinho.
(*) Nazareno Tourinho foi decano da Academia Paraense de Letras, premiado como escritor fora do Brasil, autor de vinte e oito obras espíritas, uma publicada também na Alemanha, outra em parceria com o dr. Carlos Imbassahy na obra O Poder Fantástico da Mente, editada há cinquenta anos, em 1967. Suas últimos obras foram publicadas e estão sendo distribuídas pela Editora LACHÂTRE .