Infelizmente, pouco se sabe do druidismo antigo, ou seja, dos sacerdotes que oficiavam os antigos cultos pré-romanos na Gália e na Grã-Bretanha. Em seu livro As Guerras Gaulesas, Júlio César fala dos druidas, mas não só do ponto de vista do conquistador, como em uma fase em que o druidismo já estava decadente.
Os estudos modernos têm nos levado a crer que os druidas foram guardiões de uma antiga tradição oral e que construíam seus santuários nas florestas, praticando a dendrolatria1 e tinham particular apreço pelos carvalhos2. É ainda provável, embora não comprovado que realizassem sacrifícios humanos.
Esse teria sido o motivo de terem sido reprimidos pelos romanos, que, em geral, eram tolerantes com as mais diversas formas de religião. Já no século I de nossa era, alguns estudiosos de Alexandria tentaram descrever os druidas de um ponto de vista menos realista e mais romântico. Esses pensadores transformam os druidas em homens sábios, magos de grande poder, que viviam em lugares mais solitários e improváveis das florestas.
Durante a Idade Média 476 – 1452, os druidas foram praticamente esquecidos em virtude do forte poder exercido pela Igreja Católica. No Renascimento, o interesse pelo druidismo retorna. Na Inglaterra elizabethana eles assumiram um caráter nacionalista, uma vez que foram considerados os primeiros defensores de uma cultura rigorosamente Britânica, em oposição à cultura latina.
No século XVII, arqueólogos britânicos passaram a fazer pesquisas sobre os druidas e um deles, John Aubrey, chegou a sugerir que eles tenham sido construtores do misterioso monumento chamado Stonehenge, que, até aquela época era considerado como uma espécie de memorial das vítimas dos reis saxônicos Hengist e Horsa. A teoria de Aubrey não alcançou grande sucesso e acabou quase esquecida.
No século XVIII, um outro arqueólogo por nome William Stuckley, que era conhecido como o Arquidruida, retomou e defendeu as ideias de Aubrey. Este estudioso, que deve ser considerado o pai do druidismo moderno, via os sacerdotes celtas não só como construtores dos megalitos, mas também como guardiões da mais pura forma de religião patriarcal encontrada no velho testamento.
Estas ideias foram retomadas por escritores dos séculos XVIII e XIX, que passaram a defender a tese de que haveria uma religião chamada helioárquita, que fundia a adoração do sol e da arca de Noé. Esta religião era puramente mítica e imaginária, mas a sua existência servia para explicar algumas semelhanças entre fatos religiosos e culturais de culturas afastadas geograficamente.
Entre os seguidores desta religião, em sua forma mais primitiva, estava Edward Williams, um homem genial, mas muito estranho, que possuía vasto conhecimento sobre os celtas. O entusiasmo desse homem para provar a existência dos celtas, fê-lo falsificar documentos antigos. Graças a isso, em 1792, em Primrose Hill, em Londres, passou a dirigir um círculo ritualista que ele chamou de Gorsedd, círculo que era pura farsa, apesar da sua suposta antiguidade.
No ano de 1819, Edward associou-se a um festival tradicional no País de Gales, chamado Eisteddfod, que envolvia música e poesia. Essa associação dura até hoje. Esses druidas gauleses não podem ser chamados, rigorosamente de ocultistas praticantes, uma vez que parecem possuir um caráter mais folclórico. Na Inglaterra, porém, há dois grupos de druidas com fortes vínculos ocultistas.
A origem exata desses grupos é imprecisa, embora não haja maiores dúvidas de que são verdadeiros descendentes dos druidas antigos. Também é provável que eles se originem de grupos místicos-sociais que se intitulavam druidas.
Em 1762, John Toland organizou uma espécie de conferência druídica, na qual compareceram vários delegados de diversos segmentos desse culto. Seria interessante ressaltar que a conferência de Toland coincide com a fundação da grande loja maçônica na Inglaterra. Assim, é possível que a conferência tivesse por objetivo fundar uma organização rival, baseada mais em tradições inglesas do que nas lendas sobre o Templo de Salomão, que foram adotadas pelos maçons.
O druidismo de hoje se acha envolvido em muitas outras formas e crenças espiritualistas de caráter esotérico. O grupo que foi ancestral direto das duas fraternidades druidas inglesas, por exemplo, teve alguma associação com os rosa-cruzes, seitas templárias, e tradição druídica, que pairavam, por assim dizer, na periferia da maçonaria. O seu líder mais conhecido foi um advogado Irlandês chamado Edward Vaughan Hide Kenealy, homem que ficou famoso por ter defendido, nos tribunais, a causa de um certo Tichborn, um açougueiro que tentou convencer a comunidade de que era Sir Roger Tichborn, herdeiro desaparecido de uma grande propriedade.
O pretendente, cujo verdadeiro nome era Arthur Orton, perdeu a questão. Foi condenado e preso. Kenealy, dono de um temperamento exaltado e capaz de fantasiar com facilidade, defendeu a ideia de que o réu teria sido vítima de uma gigantesca conspiração, que envolvia advogados, promotores, juízes e que todas as testemunhas contrárias tinham ligação com a igreja católica.
Tão destemperado era o comportamento desse advogado, que nem seus colegas lhe deram apoio. Mesmo assim, ele conseguiu se eleger para a Câmara dos Comuns, onde fez um papel não muito correto. Seus debates eram notáveis por causa dos ataques frenéticos contra a Igreja Católica e por sua apaixonada defesa de Orton e da cosmologia druídica.
Os druidas de nossos dias também se encontram ligados à Ordens, não querem maior apoio da mídia, deixando-se apenas fotografar em cada solstício de verão, quando a televisão vai a Stonehenge gravar as suas cerimônias. A cerimônia envolve uma espada meio desembainhada e um grande chifre que serve para beber. O líder faz a pergunta retórica: “É a paz?” Em verdade, esse ritual é e continua sendo uma adaptação do que foi criado no século XVIII por Edward Williams.
Em 1964, a Ordem Druídica dividiu-se em duas partes ou grupos: o primeiro é chefiado por Thomas Maugan, um médico homeopata, e conserva o nome original de Ordem Druídica. O segundo grupo é mais inclinado ao ocultismo. Esse reúne não só na festa do solstício, mas também na tradicional festa das feiticeiras, na noite de Valpurges, que acontece a cada 30 de abril. Essas práticas foram associadas também à moderna bruxaria, conforme a teoria de Margareth Murray, e caíram no gosto do movimento chamado Wicca, que retoma o culto antigo do Deus Cornudo.
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2 Os antigos gregos também cultuavam árvores. Zeus tinha em Dódona, um oráculo sob um carvalho. Na Bíblia diz que Abraão fixou residência junto do Carvalho de Manré.