Cientistas têm se dedicado, com afinco, a encontrar uma vacina que promova a imunização contra o COVID 19, em face das centenas de milhares de vidas que foram ceifadas nos últimos meses, além dos que sofreram danos à saúde, com consequências futuras ainda incertas. Sem dúvidas, essa descoberta trará alívio e tranquilidade, mas não deve ser motivo para nos acomodarmos no que tange à leitura simbólica do momento que atravessamos e da própria compreensão do significado de saúde e cura.
Nesse sentido, é válido questionarmos: o que é a cura? Será que passa somente pelo desenvolvimento de remédios que nos auxiliem a tratar as enfermidades, ou é algo mais profundo?
Na Antiguidade, encontramos a figura misteriosa dos alquimistas. A eles está associada a busca da transformação de metais brutos em ouro, assim como do Elixir da Longa Vida, que seria uma panaceia capaz de curar todas as doenças e prolongar indefinidamente a vida.
De certa forma, a modernidade vem se aproximando dos ideais alquimistas, pois para alguns especialistas em longevidade humana o indivíduo que viverá 150 anos já se encontra entre nós. Exagero ou não, esse dia se aproxima cada vez mais, dados os notáveis avanços na área da medicina e das ciências da saúde em geral, que possibilitam diagnósticos precisos e tratamentos cada vez mais eficazes, além de terapêuticas preventivas com base no histórico familiar e na herança genética dos pacientes.
Esse considerável progresso, no entanto, não impediu ainda o surgimento de novas doenças, epidemias e pandemias, que continuam a se espalhar pela face da terra, atingindo indivíduos e populações, ceifando vidas e desafiando os cientistas e estudiosos a encontrar novos caminhos para combatê-las. Mas muito embora seja importante proporcionar que nossos corpos sejam cada vez mais saudáveis, é necessário dar sentido aos anos a mais de vida que os avanços têm nos proporcionado. Isso passa por uma revisão do próprio conceito de saúde e do significado existencial.
A partir da reformulação do conceito de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde – OMS no século passado, constatou-se que “saúde” não é apenas ausência de doenças, mas o estado de bem-estar que deve estar presente, além da dimensão física, nas dimensões mental e social.
Mesmo sendo um avanço em relação às concepções anteriores, a inclusão dessas dimensões ainda não permite ter a real dimensão da saúde, pois enquanto a realidade espiritual for desconsiderada, poderemos até criar mecanismos para melhorar a condição dos corpos e mentes, e até ampliar exponencialmente a longevidade na Terra, mas permaneceremos sendo doentes, se nosso espírito não for saudável.
Talvez, por isso mesmo, quando analisou de forma profunda a busca dos alquimistas, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung entendeu que a arte à que se dedicavam dizia respeito a um processo que acontece internamente, em nosso psique, que trabalha incessantemente todos os nossos conteúdos sombrios, para que se tornem numinosos, ou seja, sejam transformados, simbolicamente, em ouro, o metal nobre por excelência, na longa jornada de individuação.
Desta forma, toda a busca moderna por encontrar uma vacina que cure o grande mal do momento, que gera pavor em um grande número de pessoas, não pode estar desacompanhada de um movimento de transformação, individual e coletivo, para que nossa vivência e convivência se estabeleçam em novas bases, sustentáveis e saudáveis, em todos os aspectos.
O mundo precisa urgentemente da revolução do amor, que escutamos da boca do Mestre, mas não compreendemos, pois a mente fértil isoladamente nos levou à doença coletiva da atualidade. Somente a Alquimia do Amor, nas bases internas do Ser, conduzirá à cura real.