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Artigo do Jornal: Jornal Agosto 2020
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A primeira coisa que nos impressiona, na última das dez leis naturais ou divinas que estão expostas em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, é o fato de que a mesma junta no título, de forma integrada, a justiça, o amor e a caridade.

Isto quer dizer que para a nossa filosofia o amor e a caridade são inerentes à justiça, e esta tem necessariamente como predicados as duas virtudes referidas.

Quando o codificador da doutrina espírita declarava, repetida e enfaticamente, que fora da caridade não há salvação, sabia o que estava ensinando, e o que ensinava era o seguinte, sem qualquer sombra de dúvida: ou nos voltamos com ternura e compaixão para os sofredores e pecadores, a fim de ajudá-los, sem humilhar uns e sem julgar os outros, como sugeriu Jesus, querendo tão só socorrê-los e orientá-los para o bem de maneira fraternal e não professoral, sacerdotal; ou não estaremos na realidade sendo espiritistas.

Esta verdade pode ser dolorosa para os nossos companheiros de crença místicos e laicos, que vivem agarrados à Bíblia ou chaleirando o saber acadêmico; mas é irrefutável por uns e por outros, visto que tanto os argumentos do dogmatismo fanático, quanto o cientificismo ateu são desprovidos da racionalidade lógica existente em todos os escritos assinados por Allan Kardec.

A parte 3ª – Capítulo XI de O Livro dos Espíritos, na 80ª edição da FEB começa assim na página 403:

873. O sentimento da justiça está em a natureza, ou é resultado de ideias adquiridas?

Está de tal modo em a natureza, que vos revoltais à simples ideia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que frequentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas da injustiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”

874. Sendo a justiça uma lei da Natureza, como se explica que os homens a entendam de modos tão diferentes, considerando uns justos o que a outros parece injusto?

É porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso.”

875. Como se pode definir a justiça?

A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.”

Mais à frente, no mesmo volume, deparamos com preciosas observações. Como estas sobre justiça social, nas páginas 406 e 407:

883. É natural o desejo de possuir?

Sim, mas quando o homem deseja possuir para si somente e para sua satisfação pessoal, e que há é egoísmo.”

a) – Não será, entretanto, legítimo o desejo de possuir, uma vez que aquele que tem de que viver a ninguém é pesado?

Há homens insaciáveis, que acumulam bens sem utilidade para ninguém, ou apenas para saciar suas paixões. Julgas que Deus vê isso com bons olhos? Aquele que, ao contrário, junta pelo trabalho, tendo em vista socorrer os seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade, e Deus abençoa o seu trabalho.”

884. Qual o caráter da legítima propriedade?

Propriedade legítima só é a que foi adquirida sem prejuízo de outrem.”

Proibindo-nos que façamos aos outros o que não desejáramos que nos fizessem, a lei de amor e de justiça nos proíbe, ipso facto, a aquisição de bens por quaisquer meios que lhe sejam contrários.

885. Será ilimitado o direito de propriedade?

E fora de dúvida que tudo o que legitimamente se adquire constitui uma propriedade. Mas, como havemos dito, a legislação dos homens, porque imperfeita, consagra muitos direitos convencionais, que a lei de justiça reprova. Essa a razão por que eles reformam suas leis, à medida que o progresso se efetua e que melhor compreendem a justiça. O que num século parece perfeito, afigura-se bárbaro no século seguinte.”

Finalmente, para fechar com chave de ouro nosso estudo relativo às leis naturais ou divinas, eis a definição da virtude de maior valor, pinçada da página 411:

893. Qual a mais meritória de todas as virtudes?

Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”

Amigos leitores, este artigo foi escrito em vida pelo já saudoso Nazareno Tourinho.

(*) Nazareno Tourinho foi decano da Academia Paraense de Letras, premiado como escritor fora do Brasil, é autor de vinte e oito obras espíritas, uma publicada também na Alemanha, outra em parceria com o dr. Carlos Imbassahy.

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