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Artigo do Jornal: Jornal Agosto 2020

Sobre o autor

Cláudio Sinoti

Cláudio Sinoti

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Fora da caridade não há salvação!1

Escutamos repetidas vezes esse lema, que mostra que não será através do proselitismo, da instituição de rituais e dogmas religiosos que as almas do mundo encontrarão a salvação. Certamente que, sendo o amor o sentimento por excelência, será através de sua expressão que encontraremos um propósito nobre para nossas vivências, no âmbito individual e coletivo.

No entanto, embora algumas pessoas e instituições do mundo venham se ocupando com ações e causas humanitárias importantes, será que essas ações foram capazes de debelar o egoísmo? Será que estamos fazendo nosso papel enquanto cidadãos do mundo?

A julgar pela injustiça social que reina em nosso planeta, infelizmente estamos distantes disso, pois a realidade que se apresenta é assustadora demais para nos permitir iludir. E a recente pandemia que estamos enfrentando escancarou ainda mais esse triste cenário.

No Fórum Econômico Mundial de 2019 foi divulgada a pesquisa que revelou que “os 2.153 bilionários do mundo possuem uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, aproximadamente 60% da população global2”. E o Brasil “tem maior concentração de renda do mundo entre o 1% mais rico”3. E não precisamos ser especialistas para comprovar essa triste realidade; basta olhar ao nosso redor e constatar que há muito a ser feito para transformar as paisagens do planeta.

Esse trágico retrato revela que as dimensões do egoísmo se encontram enraizadas em bases resistente e será necessário um esforço muito intenso, individual e coletivo, para que possamos fornecer condições de vida dignas a todos os habitantes do nosso planeta. As dimensões culturais, sociais, educacionais, religiosas, econômicas, entre outras, necessitam ser revistas, porquanto vêm mantendo um sistema cruel e arbitrário.

Um passo importante é rever o entendimento que temos de caridade, assim como desenvolver mecanismos para que sua prática seja multiplicada. A doação de alimentos e outros itens são importantes, mas as ações não podem permanecer restritas a esse estágio, pois, se ao lado delas não se promovem esforços educacionais, de forma a dar dignidade aos que recebem, até para que possam tornar-se aptos a doar em algum momento, não há engrandecimento do ser e mudança de cenário. O que se veem, na prática, quando a assistência se limita ao fator material, são gerações de famílias que se sucedem na condição de carência. E esse indicador é preocupante.

Ao lado da educação, é importante atentar para as escolhas políticas. Não se trata de apoiar o candidato ou partido A ou B, mas conferir se os valores que os sustentam, e principalmente suas práticas, estão em consonância com valores nobres. É contraditório, por exemplo, dizer-se cristão e apoiar políticas promotoras de violência, ódio e exclusão social.

Além disso, é importante que os cidadãos, além de fazer sua parte, cobrem dos governantes a postura ético-moral condizente com o cargo para o qual foram escolhidos. Muitos são os que dizem querer se isentar da política, esquecendo-se de que todos os nossos atos, de certa forma, são políticos, desde a escolha do que se come, vê, lê, consome, dentre outras coisas, porquanto tudo reflete o sistema e os valores que desejamos ver reproduzidos.

Nesse sentido, a reprodução e a manutenção da injustiça social também são frutos das más escolhas políticas realizadas.

E enquanto indivíduos, o exercício da empatia é essencial para tornar o exercício da caridade mais pleno. Do grego, in = para dentro; pathos = sentimento. Se dá quando nos aproximamos da percepção dos sentimentos de uma outra pessoa e, no caso de encontrar o sofrimento presente, a caridade possibilita minorar essa dor. E essa caridade será ainda maior quando, além das necessidades materiais que possa satisfazer, encontrar a própria doação do sentimento, pois doar de si mesmo é a maior das doações.

A Terra é próspera, e as divinas leis generosas e justas demais para que tantas pessoas passem privações em nosso Planeta. Que sejamos aqueles que fazem a diferença e, aproveitando o momento por que passamos, invistamos em nossa transformação, auxiliando a modificar as tristes paisagens da injustiça social que ainda se fazem presentes.

1 Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XV
2 Oxfan.org.br
3 www.ufjf.br

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