É muito importante, no momento em que o leitor se envolva em tema tão sensível, como o do aborto, canalizar, em estado de prece e de paz, suas vibrações em direção ao nosso excelso Mestre Jesus, pedindo-lhe o amparo necessário, fortificando o pensamento, para que a leitura da matéria se transcorra em clima de muita harmonia, desde que estamos penetrando em uma área bem sensível, onde vigora muito o desentendimento e que se constitui em semeadura de muitos conflitos.
Primeiramente, vamos canalizar nossas vibrações para as irmãs que já praticaram o aborto, dizendo-lhes que tenham a certeza de que Deus é extremamente amoroso e Suas Justas Leis estão inseridas em nossa consciência, sede de um tribunal que nunca condena por toda a Eternidade (1). O excelso Pai, Artífice Maior do Universo, sempre nos outorga a Sua magnânima misericórdia e sempre ampara a todos nós, os Seus queridos filhos, dando-nos sempre a oportunidade da reparação dos erros.
Consequências físicas e psicológicas da prática abortiva
Segundo a ciência, apontando riquíssima literatura, podem advir da interrupção forçada da gestação, mesmo em situações médicas bem regulamentadas, de forma legal, intensas consequências físicas e psicológicas.
A medicina registra a possibilidade de haver acometimento de inflamações uterinas, infecções ou até danos irreversíveis no aparelho reprodutor, acarretando esterilidade. As alterações psicológicas compreendem os sentimentos de culpa, ansiedade extrema, depressão, transtornos alimentares como a bulimia e a anorexia, alcoolismo. Infelizmente, a paciente da esfera ginecológica é encaminhada para acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
Sabendo dos riscos físicos e emocionais graves que possam acontecer em um abortamento, um apoio psicológico é fundamental, precisando a mulher de um ombro amigo que a sustente; inclusive, por ser a decisão de desmancho uterino um processo complicado e doloroso, tudo isso acontecendo porque o bebê não foi planejado ou não desejado.
Como médico pediatra, trabalhando em sala de parto, sabemos como é maravilhoso aconchegar nos braços um recém-nato, em seus primeiros momentos de vida, e reparamos que lágrimas de emoção e alegria surgem nas faces radiantes das mães, quando veem e pegam seus nenéns. É, realmente, um cenário deveras sublime e a comoção vivenciada é muita intensa. As companheiras que já passaram pelos partos podem testemunhar a veracidade de nossas palavras.
Desde o momento em que ficam grávidas, as mulheres vivenciam um sentimento maternal instintivo bem marcante e, no parto, surge o ápice dessa majestosa sensação.
Justificativas aparentes para a interrupção forçada da gravidez
Muitos indivíduos simpáticos ao processo abortivo reforçam suas afirmativas favoráveis, ressaltando que o corpo da gestante pertence a ela, a qual pode fazer uso do seu livre-arbítrio e, pela sua vontade, extrair abruptamente o concepto do seu ninho agasalhador, refúgio sublime de seu desenvolvimento e crescimento. Contudo, a mulher não pode ter esse poder de decisão, já que o feto é um ser à parte, não faz parte do corpo da mãe. Em realidade, o ser que se encontra albergado no útero tem individualidade própria, porquanto o que lá se constitui é propriedade da vida, vigendo transitoriamente na intimidade do abençoado templo materno, o qual lhe cede abrigo, proteção, nutrição e muito amor.
Em verdade, não há qualquer dúvida sobre os direitos da mulher sobre o seu corpo. Contudo, há exceção em relação à maternidade, pois quem tem realmente regalias, sendo dotado de importantes prerrogativas, é, por excelência, o neném, que tem vida intrínseca e jamais se confundirá com o corpo de sua genitora. Inclusive, o respeito a sua autonomia é tão marcante que, mesmo sendo um organismo físico próprio e constituído de tecido estranho, não sofre rejeição pelo sistema imune da mãe, mesmo havendo contato dos antígenos fetais com as células imunitárias maternas.
É verdadeiramente transcendental o processo gestacional, porquanto, na implantação do embrião, os genes responsáveis pelo recrutamento das células do sistema imunológico materno são desativados, inteiramente desligados dentro da decídua (anexo embrionário encontrado nos mamíferos placentários). Assim, os linfócitos T (glóbulos brancos que atuam na defesa do organismo) não se acumulando, não logram atacar o feto e igualmente a placenta. No período da gestação, o próprio mundo natural atesta a independência e a integridade do ser vivo que se encontra no santuário feminino, poupando-o de qualquer rejeição biológica, o que não acontece, por exemplo, nos casos de órgãos transplantados.
A própria natureza, divina por excelência, protege o bebê desde sua gênese na intimidade uterina até o aleitamento materno.
Outra alegação descabida para a legalização do aborto diz respeito à proteção e aos direitos humanos das mulheres pobres que praticam o aborto de forma ilegal. Pela Doutrina Espírita, sabemos que todos os seres são dotados do livre-arbítrio, com a faculdade de escolher, por si mesmo, o caminho a palmilhar, sendo, porém, os responsáveis pelas consequências que poderão advir a partir de suas decisões. Ensinou Paulo: “O que o homem semear, isso colherá” (2).
Como o neném é um ser dotado de vida e com um corpo próprio, à parte de sua mãe, igualmente, é outorgado com os direitos humanos, reforçando para si a garantia das práticas éticas, não podendo ser, de maneira alguma, indicadoras de permissão legal para o infanticídio embrionário ou fetal. Assim, o direito de uma pessoa não pode ser o estopim que leva à morte de outra criatura e ninguém pode ter o poder de assim proceder.
Um indivíduo que se encontra abrigado, no sublime cadinho materno, durante o primeiro trimestre de gestação, não tem valor moral para a sociedade? Ele não é considerado uma vida humana? O fato de se apresentar bem pequenino, em miniatura, o desqualifica como ser humano, podendo ser exterminado? Está faltando-lhe apenas o maior desenvolvimento e consequente crescimento dos seus órgãos, para se tornar um bebê como qualquer um. A vida tem valor intrínseco ou não?
Quando o ato sexual sem proteção conduz a uma gestação não desejada, de quem é a culpa? É do neném? A mulher é portadora de seus órgãos genitais; contudo, o ovo fertilizado corresponde a outra pessoa. Não cabe ao ser em formação a responsabilidade do ocorrido.
Deveriam os que ressaltam, na discussão do aborto, os direitos da mulher, dispender todos os esforços para que os instrutores em saúde e educação priorizem a informação de que o mesmo empenho empregado pela mulher no relacionamento sexual seja também dirigido para o conhecimento e uso dos métodos contraceptivos. Se há meios de se evitar uma gravidez, não há necessidade de assassinar o encantador hóspede do abrigo materno, um inocente, imolado, sem qualquer culpabilidade, sem sequer ter cometido alguma transgressão. É necessário e premente que as mulheres exerçam o direito de não engravidar, preocupando-se essencialmente com a prevenção de uma prenhez.
Muito chocante que, em vez de focar-se no implemento da cultura, principalmente de educação sexual nos jovens, muitas instituições alardeiem a destruição, a violência no claustro sagrado uterino, com orientações desastrosas, pleiteando o aborto como um “direito humano” fundamental e com a garantia de acesso gratuito para todas as mulheres e meninas. Em verdade, a liberação da prática abortiva propiciará que uma desnaturada ética amalgamada com o poder sejam fatores de promoção de assassinatos de desprotegidos seres, sem possibilidade de defesa ou fuga, confinados em uma abençoada e amorosa cela, onde a vida exuberante se revela na pujança do desabrochar do belo, constituído de duas sementes, masculina e feminina, unidas, em processo de fecunda exteriorização, fazendo surgir uma frondosa árvore humana, a qual não possa, de maneira alguma, sofrer o processo de abate, a desastrosa destruição de uma gigantesca obra de magnitude porte, essencialmente transcendental, enigmática e poética.
Algumas gestantes recebem dos que são adeptos do aborto a informação de que o ser que está em seu claustro uterino é constituído apenas por um punhado de células e não se trata de um ser humano. Se as mulheres tivessem acesso ao estudo da embriologia humana, constatariam a significância e a grandiosidade da gametogênese, ou seja, fertilização (união das células sexuais) e desenvolvimento do embrião. Até estar completamente formado, o ser passa por diversas etapas: segmentação, blastulação, gastrulação, neurulação e organogênese.
É um processo tão fantástico que os pesquisadores ficam extasiados, desde que não ocorrem apenas divisões celulares isoladas, sem orientação e controle. O que se constata é uma solene organização de um arcabouço físico, realmente seguindo as diretrizes de um molde essencialmente divino, uma planta de construção exemplar. No sexto dia da fecundação, o embrião, na forma de blastocisto, encontra-se no endométrio do útero, iniciando a fase de implantação e a formação dos tecidos e órgãos. Através de um fenômeno essencialmente maravilhoso, uma única célula dá formação a um pequenino indivíduo constituído de milhões de células.
Portanto, o embrião é uma pessoa, um ser divinamente humano, apresentando-se como uma maravilhosa e enigmática miniatura do homem. A mulher tenta autoconvencer-se de que o que está gerado dentro de si não é gente, apenas células, o que a faz sentir maior sentimento de culpa, porquanto teve que se anestesiar a partir de um argumento inteiramente falso, para justificar uma atitude violenta, a qual sua consciência não estava prontamente inclinada a aceitar.
A execução do aborto, sendo admitida juridicamente, pode parecer para toda a sociedade, principalmente entre os jovens, como uma prática sem inconvenientes físicos, nem espirituais, quando, em realidade, se revela como um expediente assaz cruel, matando seres sem a capacidade da resistência e sem que tenham condições de manifestar reação.
Todos os brasileiros sabem da precariedade notória da assistência médica pública, com doentes, inclusive, tratados em corredores, devido à falta geral de leitos. Podemos imaginar o que aconteceria se o abortamento fosse legalizado e as gestantes procurassem assistência nos hospitais já saturados. Aliás, em realidade, por falta de esclarecimento, pela ausência de educação sexual, muitas grávidas, aproveitando a permissão legal para o desmancho, utilizarão de rotina esse malsão procedimento, ignorantes que são dos procedimentos preventivos.
Como seria importante que as mulheres, desde a puberdade, fossem instruídas a respeito das questões sexuais, enfatizando a eficiência dos anticonceptivos e alertadas a usar do direito de não engravidar; inclusive, recebendo instruções contrárias ao aborto, desde que as consequências físicas e psíquicas que dele acontecem são marcantes.
Essencial, até mesmo, a informação de que, por ser indesejável a gravidez, há a possibilidade de o recém-nato ser entregue à doação, porquanto muitas mulheres inférteis desejam, ardentemente e dotadas de muito amor, hospedar em seu coração um estimado e bem-vindo “forasteiro” (3).
Infelizmente, a Terra, sendo orbe ainda inferior, um mundo de provas e expiações, é palco de tamanha desgraça e desventura, tudo isso estimulado por criaturas destituídas de compaixão e discernimento.
Bibliografia
Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, questão 621.
O Livro de Gálatas, 6:7.
Evangelho Segundo Mateus, 25:35.