Se há nesse mundo uma coisa democrática no sentido de repartida entre todos igualmente, essa coisa é o sofrimento. Na Terra, todos sofrem, todos têm o seu quinhão de dor física ou moral. Por que isso acontece? A resposta é simples: a Terra é um planeta de provas e expiações e ninguém vem aqui para se divertir ou passar um agradável fim de semana. Todos nós viemos na Terra para concluir as nossas provas, e tudo o que nos acontece é consequência de nossas vidas anteriores, em outras palavras, estamos colhendo exatamente aquilo que plantamos, nem mais nem menos. Não se trata, porém, de um castigo divino, mas da existência da lei de causa e efeito. É como diz o povo: aqui se faz, aqui se paga.
Esta doutrina, quando mal compreendida, costuma dar origem a duas atitudes equivocadas. A primeira gera uma forte insensibilidade, pois os defensores deste ponto de vista parecem acreditar que não se deve interferir no sofrimento alheio e deixar que as provas sigam seu curso. Assim, passam por uma criança que dorme ao relento, com frio ou como fome, e dizem para si não auxiliar os que sofrem, mas, ao contrário, devem fazê-los sofrer ainda mais, julgando que, desse modo, prestam um serviço ao sofredor. Este é um erro ainda maior que o primeiro. É verdade que as provas por que passam devem seguir o curso traçado por Deus, entretanto, será que nós conhecemos esse curso? Por certo que não.
Sabemos nós que a providência divina não nos escolheu para agravar o sofrimento de alguém, mas para lhe servir de bálsamo. Será que Deus não nos está usando para cicatrizar aquelas chagas, para enxugar aquelas lágrimas? Não devemos, portanto, vendo uma pessoa em sofrimento, dizer: “É a justiça de Deus; o que importa é que ela siga seu curso. Que tenho eu com isso?” Antes, deveríamos perguntar: “Que meios Deus pôs à minha disposição para ajudar esse companheiro caído? Como posso, por meio de consolo, conselho, carinho, dizer ao meu irmão que sofre que eu estou com ele? Quem nos fez juízes de nosso próximo? Não julgueis para não serdes julgado, porque na medida em que julgares, sereis julgados, disse Jesus. Não devo ser carrasco nem juiz de meu irmão”.
Leiamos as palavras de um Espírito protetor:
Ajudai-vos, pois sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações, e nunca vos considereis instrumento de tortura de vosso irmão. Contra essa ideia, deve se revoltar todos os homens de coração, principalmente o espírito, por quanto que, melhor do que qualquer outro, deve compreender que a sua vida toda tem que ser um ato de amor e de devotamento; que faça ele o que fizer para se opor as decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços para atenuar o amargor da expiação, certo porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente.
O espírita, mais do que qualquer outro religioso, deve estar cônscio de que só o amor nos redime e de que fora da caridade não há salvação.