Conta-se uma história de um homem sábio que, certa vez, voltando de uma viagem, encontrou sua casa depenada por ladrões. Um amigo, indignado com o que havia acontecido, lhe disse:
- Você não vai se queixar à polícia?
- Não, respondeu o homem tranquilo.
- Não? Mas roubaram tudo o que era seu! - falou o outro admirado.
- Não, o que era meu não roubaram - falou a vítima do roubo.
- Como não? Essa casa não é sua?
- Há um engano de sua parte, disse o outro.
- Engano? Não estou entendendo...
- É impossível roubar o que é meu, falou o homem muito calmo.
- Agora é que eu pirei por completo, disse o outro espantadíssimo.
- Eu explico. Escute bem. O simples fato de o ladrão levar as coisas que haviam aqui mostra que tais coisas não me pertenciam, não eram minhas, mas empréstimos que a vida me fez. O que é verdadeiramente meu, nenhum ladrão pode me roubar. Ele não poderia me roubar a minha pequena bondade, alguns valores morais que eu cultivei, o saber que acumulei ao longo de minha vida, certas habilidades que adquiri. Isso nenhum ladrão pode roubar, são coisas minhas. Repito Jô: “Deus me deu, Deus me tirou. Louvado seja o nome do Senhor”.
O outro silenciou por acreditar que não valeria a pena argumentar e não por concordar com aquele ponto de vista. E nós perguntamos: Estaria o homem agindo corretamente? Não deveria se queixar à polícia e tentar recuperar os bens perdidos? Pode ser que sim, entretanto, a argumentação dele é irretocável.
Os bens materiais não são propriedades verdadeiras, porque não são incorporáveis ao patrimônio do espírito, são coisas transitórias, valiosas e úteis, mas que ficam confiadas ao espírito por um certo tempo. Quando desencarnado, tudo fica por aí. Tudo o que se acumulou, não raro, passa para outras mãos e, muitas vezes, mãos que não merecem o que vão receber e assim dissipam, em meses, o que foi acumulado em anos de trabalho, de luta, renúncia e mesmo de privações.
Jesus mostra, ao longo de seu Evangelho, muita preocupação com a tendência humana de possuir coisas, de acumular indiscriminadamente como se as coisas materiais fossem verdadeiramente importantes. Em certos momentos de sua pregação, ele diz claramente. “Não ajustei tesouros que os ladrões roubam e a ferrugem que corrói. Buscai primeiro o Reino de Deus em vós e tudo o mais que há de vos vir por acréscimo. Olhai as aves do céu e os lírios dos campos. Eles não tecem nem fiam, mas eu vos garanto que, nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.”
Jesus a todo tempo prega o desapego das coisas mundanas e pede aos homens que busquem as coisas do Espírito, pois estas sim formam o seu verdadeiro patrimônio. Não é, pois, estranho, que ele encerre a conversa dizendo ao moço rico que ele dê tudo que possui aos pobres e, se o seguisse, teria um tesouro no céu.
Em nossos dias, onde a mídia trabalha vinte e quatro horas, o ideário consumista incentivando o homem a ter mais e ser menos, as palavras de Jesus são muito oportunas: “Buscai primeiro o Reino de Deus em vós e tudo o mais há de vos vir por acréscimo”. Ouça quem tem ouvidos de ouvir.