Como vimos no texto anterior, o pensamento filosófico possui características peculiares, próprias, diferentes do devaneio artístico, da meditação religiosa e da racionalidade científica. Sendo a doutrina por nós professada uma Filosofia (embora de base científica e de consequência religiosa), não temos outra alternativa, senão aprender a pensar filosoficamente, orientados pela Codificação de Allan Kardec.
Façamos então isto, embora não seja fácil, começando pelo início de O Livro dos Espíritos, primeira e principal obra de nossa crença, que consoante vimos no texto anterior classifica e define o Espiritismo como Filosofia (vide folha frontal e registro de abertura intitulado Prolegômenos).
Tal início trata de Deus, o mais importante dos três assuntos de maior relevo para as cogitações do ser humano, segundo já salientou alguém (os outros dois seriam o amor e a morte).
Deus, criador da Vida e do Universo, sendo absoluto em todos os sentidos está fora do relativo entendimento humano, mas nem por isso devemos abandonar a intenção de concebê-lo através da reflexão pautada na lógica.
Em primeiro lugar cumpre-nos levar em conta, conforme ensina a Codificação de Kardec na fonte retrocitada, que Deus “é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, e não um ser antropormórfico parecido com os homens, que se consideram vaidosamente feitos “à sua imagem e semelhança”.
Em segundo lugar devemos admitir que a existência de Deus é provada não por velhas escrituras tidas como sagradas, e sim por um axioma (verdade evidente por si mesma que carece de demonstração, segundo o dicionário Lello Universal), conceito científico inquestionável, exatamente este:
“Não há efeito sem causa.”
Assim sendo, pergunta-se:
– De onde vieram a Vida e o Universo, cuja existência ninguém pode negar?
São efeitos de que causa?
Do nada não podem ter saído, porque se o nada gerasse alguma coisa não seria o NADA.
Do acaso também não podem ter vindo, porque as leis da Natureza são espantosamente perfeitas, como os físicos reconhecem, e só podem ter sido inventadas por uma inteligência infinita, jamais resultando de um acidente, até porque qualquer acidente é efeito de uma causa que o produziu.
A teoria do Big-Bang, com a qual o ateu Stephen Hawking, que foi considerado gênio, continua fazendo sucesso e encantando os tolos que concedem à Ciência o direito de opinar sobre a existência de Deus, que não lhe pertence porque é da Filosofia, a teoria do Big-Bang, repetimos, não passa de uma balela, de pura fantasia, pois se a Vida e o Universo surgiram de um colossal explosão decorrente dos átomos contraídos de uma sopa primordial de matéria, indaga-se:
– De onde saiu essa sopa primordial? Em que panela a dita cuja ferveu? Quem a temperou para que pudesse explodir no fogão do nada ou no forno quente do acaso?
A falta de respostas para estas perguntas mostra que a distinta senhora descrente em Deus chamada de ciência oficial, moradora no apartamento luxuoso do saber acadêmico, fala muito bonito mas se veste às vezes mais de ficção do que de realidade.
Aliás, Stephen Hawking não escondeu em sua obra O Fim da Física, publicada em Portugal pela editora Gradiva, que ele e seus colegas às vezes se baseiam em ideias intuitivas de validade duvidosa.
Perdoem os leitores esta nossa digressão que esgotou espaço da coluna antes de completarmos o artigo. Faremos isto no próximo número, podem acreditar.
Amigos leitores, este artigo foi escrito em vida pelo já saudoso Nazareno Tourinho.