Não apenas em nível teórico, doutrinal, e sim também em termos práticos, fenomênicos, o Espiritismo em terras brasileiras está sendo prejudicado por conceitos e preceitos modernamente psicografados graças a médiuns cujos guias foram padres e freiras, como já dissemos nesta coluna, com todo respeito às inegáveis e piedosas virtudes de tais médiuns.
Hoje queremos demonstrar isso analisando o livro DESOBSESSÃO, ditado a Waldo Vieira e Francisco Cândido Xavier, o qual, em sua 3ª edição feita pela FEB, diz coisas assim sobre sessões desobsessivas:
Pág. 58:
“Os componentes da reunião, que nunca excederão o número de quatorze...”
Pergunta-se, em um questionamento de elementar sensatez:
– Por que quatorze e não quinze, dezesseis ou dezessete?
– O termo NUNCA na frase não é de um radicalismo extremado?
Pág. 119:
“Feita a oração inicial, o dirigente e a equipe mediúnica esperarão que o mentor espiritual se manifeste pelo médium psicofônico indicado.”
Perguntas:
– E se por um motivo qualquer, imprevisível, o mentor não se manifestar?
– E por que indicar um médium para recebê-lo, os outros não merecem confiança? Tal providência não pode favorecer o animismo no médium designado?
– E se no lugar do mentor aparecer um hábil mistificador?
– Devemos atribuir sempre aos mentores espirituais um poder de mando absoluto nas reuniões mediúnicas, ou é preferível, pelo menos em alguns casos e algumas situações, pôr em prática este conselho que Allan Kardec nos dá no Capítulo XXIV, item 266, de O LIVRO DOS MÉDIUNS incisivamente:
“Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes de nossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis sempre ter em mente ao vos entregar aos estudos: a de pesar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes, a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para firmar a vossa opinião.”
Este sábio conselho nos foi ofertado antes de outro assim verbalizado no mesmo Capítulo do citado volume, item 267:
“Os Espíritos bons só dão conselhos perfeitamente racionais. Toda recomendação que se afasta da linha reta do bom senso ou das leis imutáveis da natureza acusa a presença de um Espírito atrasado, e portanto, pouco digno de confiança.”
Finalmente, não é com o critério da lógica que nos cumpre avaliar todas as comunicações espirituais?
Pág. 153:
“Só se deve permitir, a cada médium, duas passividades por reunião.”
Perguntas:
– Os médiuns são iguais como robôs fabricados em série, ou são diferentes, e portanto precisam, e merecem, um diferenciado treinamento?
– A capacidade de cada médium receber espíritos não depende de fatores que, além de naturais são também oscilantes, variáveis de um dia para outro, tais como: saúde, cansaço físico ou sistema nervoso constituído por herança genética, textura psíquica influenciada pela cultura etc.?
O bom senso nos diz que a padronização e a quantificação do transe mediúnico são imprudentes e por isso indesejáveis, pois ele ocorre mais fácil e autenticamente em clima de espontaneidade, sem submissão as nossas exigências caprichosas, até porque os agentes invisíveis controladores dos fenômenos têm vontade própria e nem sempre estão dispostos e obedecer a nossa.
Que estabeleçamos critérios de organização e disciplina para quaisquer trabalhos espíritas, doutrinários e mediúnicos, é um cuidado que se impõe, até por um princípio de responsabilidade e de ética, contudo que sejamos inflexíveis nesta questão é primarismo indesculpável.
Poderíamos ir mais longe, todavia as considerações já feitas parecem bastar. E sobre o assunto, temos dito!...