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Artigo do Jornal: Jornal Janeiro 2019
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Havia, na cidade de Tebas, um rei chamado Laio e uma rainha por nome Jocasta. Como Jocasta e Laio não tivessem filhos, foram consultar o oráculo de Apolo. Lá, depois de fazerem a consulta, ouviram as duras e severas palavras do deus: “Laio, tu terás um filho, porém, melhor seria se não o tivessem, pois ele matará o pai e casará com a própria mãe”.

Laio e Jocasta voltaram para casa muito preocupados com a profecia do oráculo. Não demorou muito e Jocasta deu à luz um menino e Laio, lembrando-se da profecia, mandou que a criança fosse exposta no monte de Citeron, para que alguma fera que, por ali passasse, a devorasse. Assim foi feito, e um criado do rei pegou a criança e a amarrou pelos pés no galho de uma árvore, deixando-a lá, para que morresse.

Ora se deu que por ali passou, logo depois, um pastor do rei de Corinto que, vendo a criança, se apiedou dela e a levou consigo para a sua cidade, entregando-a ao rei Políbio, que o adotou.

Quando Édipo se tornou adulto, teve uma discussão com um dos nobres coríntios que, a título da ofensa, lhe atirou ao rosto a sua origem desconhecida. Édipo, envergonhado, foi ao oráculo de Apolo, para saber a origem do seu nascimento. Assim que fez a consulta, ouviu o deus raivoso: “Saia daqui, parricida e incestuoso”. Édipo, ouvindo essas palavras, saiu do lugar aturdido e, imaginando que seus pais fossem os reis de Corinto, Políbio e Peribéia, não quis mais voltar para casa, preferindo seguir na direção de Tebas.

No caminho para a cidade, ao passar por uma estrada muito estreita, viu um carro que se deslocava rápido. Nele vinha um velho com seus cocheiros. Sendo o caminho angustioso, o velho parou o carro e ordenou a Édipo que lhe dessem passagem. O herói, entretanto, disse que não sairia de onde estava. O velho que, em verdade, era Laio, rei de Tebas, desceu do carro para castigar o jovem ousado. Entraram em luta e Édipo matou o soberano, além de pôr em fuga os homens que o acompanhavam.

Édipo prosseguiu a viagem e, na entrada de Tebas, encontrou um animal monstruoso, chamado Esfinge, que tinha o corpo de leão, cabeça de mulher e asas de águia. Assim que o viu, o monstro lhe propôs um enigma que ele deveria responder pois, em contrário, seria morto: “Qual o animal que no começo da vida anda com quatro pés, no meio com dois e, no final, com três?”

Édipo respondeu: “É o homem, que, no início da vida, engatinha, na fase seguinte anda em dois pés e no final da vida, já velho, se vale de um bastão ou terceiro pé. A esfinge, vendo-se decifrada, atirou-se em precipício e desapareceu.

Ao chegar a Tebas, governava Creonte, irmão de Jocasta, em lugar do Rei Laio, que havia morrido em circunstâncias estranhas. O rei interino decidiu dar, como presente a Édipo, o benfeitor da cidade, matador da terrível Esfinge, a mão da rainha viúva. Édipo casou-se com Jocasta e teve com ela quatro filhos: Eteocles, Polinices, Ismene e Antígona. Com isso, cumpria-se a terrível profecia que o oráculo havia feito anos atrás a Laio e Jocasta.

A história de Édipo é muito interessante do ponto de vista da concepção de destino que havia na velha Grécia. Reparem que a fórmula grega é “ninguém foge a seu destino”. Laio, por exemplo, tenta burlar o destino, mandando matar o filho. Édipo, por seu lado, tenta evitar que o destino se cumpra, mas ignora a sua real origem. Quando tenta escapar, não voltando a Corinto, está, em verdade, contribuindo para que o destino se realize. Assim, a moira grega, ou destino cego, era uma força asfixiante da qual nenhum mortal (e nenhum deus) poderia escapar.

O que o Espiritismo pensa do destino? Será o determinismo uma doutrina perfilhada pelo Espiritismo? A resposta é não. O Espiritismo defende o princípio do livre arbítrio, segundo o qual fica descartada a possibilidade do destino, conforme o modelo grego.

O espírito reencarnante faz um projeto que se esforçará para cumprir, entretanto, tal projeto não tem o mesmo sentido do destino. Muitas vezes, o espírito estabelece para si mesmo determinadas condutas para a sua vida na Terra, mas não consegue cumpri-las pelas mais diversas razões. Segundo a Doutrina Espírita, a vida nasce de Deus, mas destino nasce de nós.

O destino é, em última análise, uma forma bastante cômoda de justificar o próprio fracasso ou erros cometidos. Um homem, por exemplo, atravessa uma rua sem prestar atenção ou com o sinal aberto. É atropelado e morto. Diz alguém: “Que destino cruel teve esse homem!” De fato; porém, ele foi morto pela própria imprudência. Por certo, se houvesse esperado o sinal fechar ou tivesse reparado melhor, não teria sido morto.

Uma jovem se casa mal, com um homem que bate nela e a faz sofrer cruelmente. Passa por privações juntamente com seus filhos. Uma pessoa conhecida faz um comentário: “Coitada da Dulce, que destino horrível! Tanta gente boa pra casar, tanto rapaz direito gostou dela e ela foi se casar com aquele sujeito.”

Será que, realmente, a Dulce tinha que se casar com aquele sujeito? Penso que, necessariamente, não. Ela fez uma má escolha e, ainda que fossem conhecidos de outra vida, não devemos acreditar que ela teria sido obrigada por uma força maior do que ela a se casar com um homem mau e tirano. Ela casou porque quis casar, porque foi irrefletida, porque não deu ouvidos às pessoas que lhe disseram que o rapaz não era uma flor que se cheirasse.

A ideia do destino é muito negativa, pois ela implica a existência de um deus cruel e vingativo, que distribuiria maus destinos para uns e bons para outros. Não há uma coisa assim. Colhemos o que plantamos. Deus não nos quer sofredores; nós é que, com nossa insensatez e invigilância, buscamos com os próprios pés o sofrimento.

Um outro problema que essa ideia nos traz é a da impossibilidade de mudar as nossas vidas. Se a minha vida não me agrada, nada posso fazer para mudar, porque está no meu destino? Quem nasce para dez reais não chega à vintém, diziam os antigos. Esta concepção estática de destino gera a acomodação e mata em nós o desejo de progresso, à medida que nos diz ser esse o seu destino, devendo permanecer quieto nesse lugar e aguentar o sofrimento.

Não se pode acreditar nisso. A vida é mudança, é progresso, é evolução, e não se pode ficar parado no meio da estrada sob qualquer alegação. Avançar, caminhar sempre, acreditar que é possível melhorar, são obrigações humanas, não importa o tipo de religião que tenhamos.

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