Há alguns meses iniciamos uma série de pequenos comentários em torno do livro A Gênese, de Allan Kardec, que é considerada uma das obras básicas de estudo da Doutrina Espírita e que, em janeiro do corrente, completou 150 anos desde sua publicação em Paris.
Haveria ainda muito o que compartilhar a respeito do conteúdo abordado no referido livro e não pretendemos dar por encerrado o assunto. Pelo contrário, esperamos que nosso singelo contributo tenha servido de força motriz capaz de instigar o estudo aprofundado de cada um dos temas brilhantemente organizados pelo codificador lionês. E como última colaboração de nossa parte, relembramos aqui o capítulo apresentado com o título “São Chegados os Tempos”.
Muito tem sido comentado nas fileiras espíritas sobre a transição planetária que estamos vivendo. Ela não começou ontem e nem terminará amanhã, mas de fato necessitamos atentar para a parte que nos foi confiada na obra da criação.
No desenrolar do capítulo percebemos que o fato de caminhar para um estágio melhor, qual seja, de mundo de expiações e provas para mundo de regeneração, não significa que o mal desaparecerá da noite para o dia. Em verdade, quando fazemos uma grande reforma na casa, aquelas bagunças e acúmulos que deixamos passar precisam vir à tona para serem devidamente reorganizados.
Ocorre assim também com os grupamentos humanos. À medida que a transição se concretiza, o mal parece mais evidente, alarmante e fora de controle. Dissemos parece porque é o que nos ocorre ao olhar estritamente material. A ilusão da matéria não nos permite enxergar o cenário como um todo. Os avanços éticos e a quantidade de pessoas que trabalham verdadeiramente a serviço do bem, nadando a favor da irresistível correnteza divina necessitam ser vislumbrados pelo nosso olhar espiritual. Necessitamos ter olhos de ver as inúmeras mãos operosas na construção de um mundo melhor, guardando a certeza de que todo esse barulho feito pelos que dormitam na matéria é passageiro e no tempo certo o bem reinará absoluto.
Resta ainda uma importante questão. Diante desse cenário de transição, o que nos cabe fazer? Como contribuir sendo ainda tão imperfeitos? Tão egoístas, vaidosos, orgulhosos… Kardec nos fornece a orientação: “A regeneração da humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo”1
.
Tornar-se um ser purificado na presente reencarnação realmente seria tarefa muito difícil, mas modificar nossas disposições morais é absolutamente possível. Exige serviço desinteressado e autotransformação diária. Iniciemos, ainda hoje, os nossos trabalhos a favor da obra divina no coração das criaturas. Sejam os nossos passos a divulgação da Boa Nova de Jesus.
1 Kardec, Allan. A Gênese. Cap. 18 - São Chegados os Tempos. [trad. Guillon Ribeiro]. Brasília: FEB, 2013