Espiritismo e Culturalismo
No escrito precedente focalizamos a independência do Espiritismo em relação às Escrituras ditas Sagradas, onde o abordaremos tendo em vista o Culturalismo infiltrado em suas fileiras.
Como é sabido, nosso movimento ideológico se debate, moderna e literalmente, entre duas correntes doutrinárias adversas: a dos irmãos místicos, denominada “evangélica” e a dos confrades intelectualistas autointitulada “laica”, mas no fundo agnóstica.
Caminhamos, ou nos arrastamos, aos tropeços, pisando em pedras traiçoeiras, imprensados entre o Biblismo e o Culturalismo. Do primeiro já nos ocupamos no artigo anterior; com o segundo vamos, hoje, perder o precioso tempo...
Os culturalistas do nosso meio, encantados com o conhecimento universitário, sem perceber que há grande distância entre o saber e a sabedoria, desdenham da prece, dos serviços de caridade e se interessam apenas pela discussão do caráter essencial do Espiritismo, achando que da discussão nasce a luz, quando no geral quebram-se as lâmpadas. Querem que ele seja só ciência e, para isso, argumentam em seus ensaios críticos sofismáticos, arrimando-se em uma ou outra expressão isolada de Allan Kardec, valendo-se de ambiguidades semânticas.
Se eles pelo menos respaldassem as teorias iconoclastas que constroem, astuciosa e ateisticamente, com o pensamento dos luminares da ciência espírita, ainda dava para a gente engolir os sapos que nos servem no prato do esnobismo intelectual. Mas quase sempre citam somente autores acadêmicos ou materialistas, menosprezando tanto as ideias de Kardec quanto as pesquisas experimentais de fenômenos mediúnicos de William Croches, Paul Gibier, Oliver Lodge, César Lombroso, Alfred Russel Wallace, Friedrich Zoelner, Alexander Aksahof, Ernesto Bozzano, Camille Flammarion, Gabriel Delanne, Albert de Rochas, Gustave Geley e outros.
Como a filosofia espírita possui caráter apenas científico e não também religioso se começa defendendo a existência de Deus e discorrendo sobre os seus atributos infinitamente sábios e perfeitos (Capítulo I de O Livro dos Espíritos), e se completa mostrando que o Criador da vida e do universo, afora ser onipotente, pode ser unipresente em sua obra, isto é, encontra-se em toda parte e tudo conhece sobre nós, inclusive escuta nossas preces? (A Gênese, Capítulo II, itens 20 a 37.)
E tem mais: além de escrever e editar o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, assumindo sem restrição o ensino moral de Jesus, Allan Kardec fez, em O Livro dos Médiuns, Capítulo XXIX, item 350, esta solene declaração que os laicos do nosso movimento não podem apagar com a borracha do seu esperto mas não inteligente culturalismo:
“A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário”.