Um dos aspectos que reputo de grande importância na Revista Espírita são os “Discursos de Allan Kardec”.
O Codificador, em diversas ocasiões, fez discursos memoráveis, que foram transcritos na Revista Espírita. Esses discursos ocorriam, por exemplo, quando Kardec visitava algumas sociedades espíritas em outras cidades ou quando se comemorava mais um ano de existência da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada em abril de 1858.
Essas lúcidas falas de Kardec servem de orientações vitais para o movimento espírita atual, porque, em algumas abordagens, identificou problemas e desafios que os espíritas ainda vivenciam na atualidade, bem como apresentou as soluções mais viáveis e doutrinárias, fiéis as diretrizes do Evangelho.
Para consulta dos leitores, cito que alguns desses discursos constaram da obra “Um Tesouro Inestimável – volume 2”, fruto da parceria entre a Editora Fráter e a FEB, da qual atuei como compilador.
Para simbolizar a importância desses discursos, trago à baila aquele proferido por Kardec quando a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas completou um ano de funcionamento, que consta da Revista Espírita de julho de 1859.
Allan Kardec identifica o risco da desunião entre as Casas Espíritas e daqueles que se rivalizam, gerando, obviamente, entraves e dificuldades para o movimento espírita local.
Infelizmente, identificamos em algumas cidades essa cisão e disputa, fazendo com que alguns Centros Espíritas se isolem e se preocupem apenas com as atividades que desenvolvem, permitindo, é claro, sintonia com os espíritos inferiores que tentarão atrapalhar ainda mais o funcionamento dessas Casas Espíritas.
Na Revista Espírita de agosto de 1860, o Codificador adverte que as Sociedades Espíritas devem ser uma família, portanto, devem agir em conjunto e em harmonia, superando os conflitos, as disputas e o orgulho.
Devem, por exemplo, realizar eventos em conjunto (palestras, seminários etc.), os seus adeptos devem visitar as demais Casas Espíritas locais, colaborando, inclusive nas palestras semanais, se houver oportunidade, bem como devem somar esforços para melhorar a divulgação do Espiritismo, aprimorar as respectivas tarefas etc.
Se uma Casa Espírita tenta essa aproximação e encontra dificuldades não deve desistir, insistindo nos convites e se fazendo presente nos eventos que outras Casas Espíritas realizem, dando o exemplo da união e da fraternidade que deve viger entre os espíritas, porque, no discurso em foco, Kardec lembra que cabe ao espírita dar o exemplo.
Dessa forma, que possamos sempre estar reavaliando como estão as relações entre as Casas Espíritas, e também como está a convivência entre os adeptos, pois a proposta do Cristo de nos amarmos uns aos outros deve ser vivida, inclusive dentro das instituições religiosas.
160 anos da Revista Espirita – Orientações aos médiuns (NOVEMBRO)
Em sendo a Revista Espírita o desenvolvimento e o complemento das obras básicas do Espiritismo, naturalmente que dela constariam ensinos seguros e vigorosos sobre a mediunidade, que foi tratada de forma exemplar no Livro dos Médiuns por Allan Kardec.
Na época da codificação espírita havia médiuns por toda a parte do mundo e estes se encontravam carentes de informações, de forma que Kardec, na Revista Espírita, aproveitou o ensejo para orientá-los através de belíssimas lições, que explicavam o que é a mediunidade e a forma de vivenciá-la com fidelidade, seriedade e moralidade.
Dediquei um capítulo especial a essa temática (mediunidade e orientação aos médiuns) no livro “Um Tesouro inestimável – volume 3” (parceria entre a Editora Fráter e a FEB).
Uma das preocupações de Kardec foi de orientar os espíritas sobre o exame das comunicações provenientes da mediunidade, cabendo ao grupo mediúnico avaliar com prudência as mensagens ditadas pelos espíritos, tanto que o nobre Codificador chega a citar que de 3.600 comunicações recebidas por ele através de diversos grupos espalhados pela Terra não há 300 passíveis de publicação e apenas 100 são de um mérito incontestável (Revista Espírita de maio de 1863).
Kardec recomenda o uso da razão e da universalidade dos ensinos dos espíritos para nos precaver contra a inserção de ideias que não tenham respaldo doutrinário (Revista Espírita de abril de 1864).
Anoto ser válida a exortação do apóstolo João para não acreditarmos em todos os espíritos, mas para provarmos se eles são de Deus (João 4:1 – Primeira Epístola).
Nesse momento de transição planetária, poder-se-ia perguntar qual será a mediunidade do futuro? Sem dúvida, será a inspiração consciente.
Não mais a mediunidade ostensiva, que poderá haver em proporção mínima, mas o indivíduo consciente do intercâmbio espiritual e esforçando-se intelectual e moralmente para aprimorar a sintonia, recebendo as lúcidas inspirações do mundo espiritual, sem privá-lo, é claro, do esforço próprio.
Indico a belíssima lição “Mediunidade Mental” (Revista Espírita de março de 1866), onde há valiosas sugestões de como aprimorar a inspiração e o contato consciente com os benfeitores espirituais.
A mediunidade é desses assuntos que merece amplo estudo, cabendo ao médium, que somos todos nós, o dever de vivenciá-la com dignidade, seriedade e fidelidade a Kardec e a Jesus.
160 anos da Revista Espirita – mensagens de ordem moral (DEZEMBRO)
A finalidade do Espiritismo é de iluminar consciências e de tornar o indivíduo num homem de bem, tendo Jesus como nosso modelo e guia.
Allan Kardec, em diversos textos da Revista Espírita, mencionará as consequências morais que o Espiritismo produz, e como o espírita deve estar atento a própria melhoria do sentimento, tornando-se amoroso e gentil.
No livro “Um Tesouro Inestimável – volume 3” (parceria entre a Editora Fráter e a FEB), destaco um capítulo para as mensagens de cunho moral que há na Revista Espírita.
Há uma valiosa mensagem do Espírito Luís de França, com o título “O Espiritismo obriga”, na Revista Espírita de maio de 1866, onde ele esclarece que o Espiritismo é uma ciência essencialmente moral.
Diz, ainda, que são duas as obrigações dos espíritas, porque não podemos ser apenas “espírita de nome”, mas as nossas atitudes devem refletir a escolha religiosa que fizemos.
A primeira obrigação moral é autoconhecer-se, a fim de melhor compreender o valor de cada um de seus atos, melhor sondar todos os retalhos de sua consciência, melhor apreciar a infinita bondade de Deus etc.
O citado Espírito diz que a segunda ordem de obrigação do espírita, decorrendo necessariamente da primeira e a completando, é a do exemplo, que é o melhor meio de propagação e de renovação.
Daí, a obrigação moral de conformar sua conduta com a sua crença e ser um exemplo vivo, um modelo, como o Cristo o foi para a humanidade.
O Espírito Luís de França finaliza a bela mensagem dizendo que se nossa vida for um belo modelo em que cada um possa achar bons exemplos e sólidas virtudes, onde a dignidade se alia a uma graciosa amenidade, devemos nos rejubilar porque teremos, em parte, compreendido o que obriga o Espiritismo.
Há outras inúmeras lições dessa natureza na Revista Espírita, conclamando ao exercício da caridade, o combate do orgulho, a superação da preguiça etc.
Por estarmos num mês natalino, que nos remete com mais intensidade à figura incomparável de Jesus, que possamos meditar sobre as nossas obrigações morais, a fim de que auxiliemos na construção do mundo regenerado do porvir.