Não se pode negar que o movimento espírita brasileiro é uma árvore dadivosa, relativamente florida, que oferece bons frutos aos famintos de paz e luz, mas nem por isso devemos ignorar que nela estão enroscados dois parasitas, duas ervas daninhas chamadas BIBLISMO e CULTURALISMO, sugando e adulterando com fins inconfessáveis sua seiva vitalizadora, e KARDECISMO.
Neste artigo vamos tratar do biblismo, tão caro aos companheiros adeptos da mistificação roustanguista, no próximo cuidaremos do culturalismo, fascinador dos irmãos laicos.
Em início de conversa diremos que o Espiritismo respeita a Bíblia, para os judeus livro sagrado, como respeita os livros também sagrados para outros povos: o Lend-Avesta dos hindus, o Livro do Caminho e da Virtude dos chineses, o Alcorão, o Bagvad-Gita etc, mas não presta reverência a nenhum deles porque tem princípios próprios, universais, incompatíveis com revelações dogmáticas, sendo tais princípios sem dúvida de natureza religiosa contudo abertos para o conhecimento científico.
Quanto à Bíblia, ninguém desconhece que sua interpretação literal produz fanatismo e deploráveis crenças, como a de que os hebreus constituem o povo escolhido de DEUS, que historicamente inaugurou neste mundo o racismo, pior e mais injusto feito dos seres humanos.
Todos sabem que o Velho Testamento apresenta para os seus leitores múltiplos conceitos e preceitos absurdos, alguns até moralmente condenáveis, outros ridículos, e os mais estudiosos do assunto não ignoram que o Novo Testamento possui contradições insanáveis como estas:
Mateus, no versículo 44 do capítulo 27, informa que, no episódio da crucificação, dois salteadores proferiram impropérios contra Jesus; Lucas, nos versículos 39 e 40 do capítulo 23, garante que apenas um deles blasfemava enquanto o outro defendia o Cristo, aliás censurando o companheiro; João, no versículo 31 do capítulo 5, nega que Jesus tenha dado testemunho de si mesmo, e depois afirma o contrário no versículo 14 do capítulo 8; adiante, no versículo 30 do capítulo 16, afirma que Jesus sabia de tudo, entretanto Marcos faz uma ressalva a isso, no versículo 32 do capítulo 1.
O problema maior para a aceitação da Bíblia pelo Espiritismo é que, enquanto a Codificação de Allan Kardec ensina reiteradamente, de maneira enfática, incisiva e direta, a fé racionada, produto do pensamento lógico, os profetas judeus propõem aos seus seguidores a atitude mental oposta, uma fé mais do que vesga, ou estrábica, inteiramente cega.
Provaremos o que acabamos de dizer no próximo escrito, porque o espaço deste também acabou.