Jesus, o Pedagogo Excelente, ensinou-nos através de parábolas, que são contos curtos, que nos conduz ao valor moral das coisas, a fim de extrairmos o significado espiritual necessário na avaliação da vida.
Na parábola dos trabalhadores na vinha, (1) Ele compara o reino dos céus a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles o pagamento de um denário por dia, a moeda de prata romana utilizada nas províncias.
O dia, naquela época, era dividido em 12 períodos de uma hora. Eram chamados, os períodos, de hora primeira (das 6h as 7h), hora segunda (das 7h as 8h), e assim sucessivamente, até a hora duodécima, equivalente as 18h., da marcação do tempo no nosso relógio.
Conforme a parábola, o dono da vinha recrutou trabalhadores na hora primeira, na hora terceira, na hora sexta e na hora nona, procedendo sempre da mesma forma: “vos darei o que for justo”. E, saindo por volta da hora undécima (17h), convidou-os também para o serviço.
No final do expediente, o dono da vinha chamou seu administrador e mandou que efetuasse o pagamento, começando pelos últimos, os da hora undécima, que receberam um denário. Quando chegou a vez dos primeiros contratados, eles pensaram que iriam receber mais; porém estes receberam também um denário, cada um. Começaram a murmurar contra o dono da casa, dizendo:
“Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo os igualaste a nós que suportamos a fadiga e o calor do dia. Mas o proprietário, respondendo disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu, e vai-te; pois quero dar a este último, tanto quanto a ti. Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros, serão últimos [porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos].”
Como todas as parábolas, nesta, encontramos muitos ensinamentos: Não basta somente estar no local de trabalho, se não há o interesse pelo que faz; se não se dedica com amor a sua atividade. O valor do trabalho é examinado pelo dono do negócio e, uns precisam menos tempo para realizar o melhor. E o que é tratado antes não fica caro para ninguém. Portanto é justo que a remuneração seja igual para os trabalhadores das diversas horas do dia.
Michelangelo Buonaroti, o grande escultor italiano, conviveu com Leonardo da Vinci, Rafael Sânzio e outros grandes pintores no período do Renascentismo Cultural. Entretanto, o Papa Júlio II, o maior contratador de trabalho de arte da época, tinha-lhe preferência. Chamou-o para pintar o teto da Capela Sistina. Ele recusou dizendo:
— “Io non sono um pintore. Sono scultore”.
Ao que o Papa lhe respondeu:
— Você pode e eu quero você!
Mediante essa resposta, Michelangelo não tinha outra saída. Teria de se submeter a fazer o que ele pensava que não podia. Entretanto, sua filosofia era: “O que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem-feito”. Aceitou e foi fazer o melhor.
Graças a esse seu compromisso com a eficácia, temos hoje a belíssima obra da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma. (2)
Não basta fazer. É necessário fazer bem feito. O pagamento é dado de acordo com o empenho em fazer o melhor. Não importa o tempo que se gasta.
Um navio atravessava o Atlântico carregado com importantes produtos. Em determinado momento, o motor enguiçou. O comandante, imediatamente, ordenou buscar o técnico do porto próximo. Ele trabalhou durante uma semana, sem resultados. Mandou chamar um engenheiro naval conceituado. O engenheiro trabalhou três dias, e nada. O navio continuava enguiçado.
A empresa de navegação enviou, então, o maior especialista do mundo daquele tipo de motor. Ele chegou, olhou detidamente a casa de máquinas, escutou o barulho do vapor, apalpou a tubulação e, abrindo sua valise, retirou um pequeno martelo, deu uma martelada em uma válvula vermelha que estava meio solta e guardou o martelo na valise. Mandou ligar e tudo voltou a funcionar normalmente.
No escritório da empresa chegaram as contas dos trabalhadores contratados. Por uma semana de trabalho, o técnico cobrou 700 dólares, 100 dólares por dia. O engenheiro naval, cobrou por três dias, 900 dólares, 300 dólares por dia. E o especialista, por sua vez, cobrou 10 mil dólares pelo serviço.
A direção da empresa quis saber como ele chegou a esse valor por uma hora de trabalho e uma única martelada?
Convocado à discriminação do trabalho, o especialista enviou o relatório para a empresa, da seguinte forma:
“Para dar a martelada: 10 dólares. Para saber onde bater com o martelo: 9.990 dólares”.
O tempo, patrimônio dado por Deus a todos, indistintamente, foi utilizado pelo especialista de motor naval na busca pela excelência em seu serviço procurando sempre fazer o melhor. Daí a sua diferenciação dos outros trabalhadores.
Interpretando o conteúdo espiritual desta parábola, vemos que o dono da casa é Deus; a vinha é o nosso planeta; e o trabalho, a educação dos sentimentos na aquisição de virtudes. O prêmio será dado mediante o esforço empregado com a alegria da evolução conseguida. Os trabalhadores da primeira hora simbolizam os espíritos que contam com maior número de reencarnações, mas que não a aproveitaram devidamente, deixando que a vida os levasse, sem esforço de regeneração. Os trabalhadores da última hora, são os que se esforçaram e colocaram como lema para si: para frente e para o alto, sem se deixarem vencer pelos obstáculos. Assim se explica porque os primeiros podem ser os últimos, e os últimos serem os primeiros a conquistar o reino dos céus.
Muita paz!
Dados bibliográficos:
1– A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida –Mateus, cap. 20, vers. 1 a 16.
2 – Excerto do livro de minha autoria: Século XXI – A Era do Sentimento, pág. 152, 1ª edição, Emican Editora.