Que é Deus para você? Muito provavelmente, em sendo espírita, o seu primeiro pensamento tenha sido: “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.1 Mas observe, amigo leitor, que nossa pergunta incluiu “você”, antes da interrogação. Isso porque podemos já ter decorado o elevado conceito de Deus, apresentado pelos Espíritos Superiores, por meio da Revelação Espírita, mas não necessariamente já tenhamos conseguido nos relacionar, emocionalmente, com esse Deus.
O segundo capítulo do livro A Gênese2 tem como título “Deus” e aborda os tópicos: “Existência de Deus”, “Da natureza divina”, “A providência”, “A vião de Deus”. Trata-se de uma concepção muito profunda em torno do Criador de todas as coisas. A partir de exemplos simples, Kardec nos aproxima de Deus, demonstra, de forma lógica, que o Pai, por meio da Sua providência amorosa, está sempre perto de todas as criaturas e, ao mesmo tempo, transcende toda a criação. E, se não temos ainda “o sentido” para conhecer a natureza íntima do criador, poderemos melhor compreender as obras da criação pelos atributos divinos, que são bem explicitados no capítulo em destaque.
Ao travar contato com a ideia de um Ser supremo capaz de equilibrar perfeitamente a sua justiça e o seu amor, ficamos deslumbrados e sentimos, em geral, grande dificuldade em transpor o conceito para a vivência. A nossa relação íntima com Deus está muito relacionada ao sentimento que acalentamos pelas figuras de autoridade que já tivemos. Quais foram as suas? E qual sentimento você nutre ainda hoje por elas? Um pai severo e punitivo que, diante dos equívocos de seus filhos, castiga-os sem piedade, possivelmente incuta uma relação de medo. Em outro extremo, uma mãe excessivamente misericordiosa, junto à qual os filhos conseguem barganhar e ser absolvidos das faltas cometidas, induz uma relação de conivência com o erro. Entre estes polos, podem haver vários outros exemplos que influenciam a forma como sentimos Deus intimamente.
Particularmente, ao conhecer a Doutrina Espírita, fiquei encantada com as verdades apresentadas sobre o Criador. E repeti inúmeras palestras em torno do tema, esforçando-me para internalizar a crença nas qualidades infinitas de Deus. Todavia, quando provações dolorosas bateram à minha porta, percebi relacionando-me com um Deus implacável, que mais refletia minha própria imperfeição do que a realidade divina.
Sendo assim, sigamos estudando os atributos divinos e depurando nosso coração, para que possamos nos conectar verdadeiramente com Seu Amor infinito.
1 Livro dos Espíritos. Allan Kardec. Questão n. 1.
2 A Gênese. Allan Kardec.