No já distante artigo de abertura desta coluna, eminentemente doutrinária, comprometida com absoluta fidelidade à codificação de Allan Kardec, dissemos que o Espiritismo, entre nós, está sendo prejudicado por duas correntes de ideias conflituosas, e não apenas discordantes, ambas merecedoras de rejeição pelo seu extremado radicalismo.
De um lado temos o Espiritismo “evangélico”, que alardeia ser cristão, mas é tão somente cristólatra, do outro lado defrontamos o Espiritismo “laico”, que deseja ser científico, mas é unicamente agnóstico em seu comportamento materialista.
Espiritismo na realidade cristão e científico é o decorrente da obra de Allan Kardec. O resto não passa de conversa fiada, vendida aos ingênuos para pagamento à vista da alienação cultural de uns e da vaidade desmedida de outros...
Infelizmente caminhamos imprensados entre a cruz e a espada: a cruz do fanatismo religioso de roustainguistas, e a espada do cientificismo presunçoso de intelectuais que desprezam a ética, certamente não por desonestidade ou cinismo e sim por frivolidade e esnobismo.
Precisamos jogar fora o computador do devaneio e nos libertar dessa internet negativa, tanto da sua banda larga e fina de suspeito deísmo, quanto da sua banda curta e grossa de disfarçado ateísmo.
Almejando contribuir para tal libertação utilizaremos doravante o presente espaço para pôr à mostra, conforme convém, erronias vicejantes em nosso movimento ideológico a começar por uma aparentemente inofensiva que muito nos incomoda e entristece, por representar não apenas falta de amor e admiração à obra de Allan Kardec, mas também falta de respeito.
Trata-se de tola invenção dos companheiros laicos nos últimos tempos, a de escrever sempre a palavra Espiritismo com letra inicial minúscula, quando isto só é justificável se nos referimos a coisas concernentes, ou relacionadas, aos espíritos que nada têm a ver com a doutrina espírita.
Tal invenção dos novidadeiros de plantão começou em textos de jornal timidamente, foi se espalhando aos poucos, conseguindo a cada dia mais aceitação, e hoje é adotada até em livros de Editoras respeitáveis. Quando perguntamos certa vez a um dos seus criadores o porquê do modismo ele respondeu que Kardec igualmente grafava o termo Espiritismo, cunhado por ele como neologismo, com letra inicial minúscula.
Mentira!
Peguemos a mais importante obra do codificador de nossa doutrina, O Livro dos Espíritos, em traduções diferentes e consagradas, como a da FEB, de Guilhon Ribeiro, em sua 13ª edição, e a da Lake, de J. Herculano Pires, em sua 3ª edição.
No primeiro dos citados volumes, logo no início (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita), depois de lermos o vocábulo Espiritismo com letra inicial minúscula vemo-lo com inicial maiúscula duas vezes na página 15, uma vez na pág. 25, outra na p. 28, duas na p. 29, uma na p. 37, outra na p. 38, outra na p. 40, outra na p. 44 e finalmente mais uma na p. 47, em que termina a mencionada Introdução.
No segundo volume, a palavra Espiritismo aparece também na página 15 com letra inicial minúscula, porém a seguir surge escrita repetidamente com inicial maiúscula nas páginas 41 (cinco vezes), 50, 52, 53 e 59.
A nós se afigura, claramente, um menosprezo à Codificação de Allan Kardec, e à sua pessoa, escrever a palavra Espiritismo sempre com letra inicial minúscula, e não é verdade que ele agia desta forma. Saibam todos os irmãos de crença que, se isso está acontecendo na atualidade do movimento espírita brasileiro, o fato não decorre de qualquer falha ou descuido do nosso mestre de Lyon, e sim acontece por obra e graça dos companheiros laicos. Como já disse alguém, mais obra do que graça... Porquanto não são de graças nem gracejos os ilustres companheiros laicos, surgidos em nosso meio como reação à ação dos confrades “evangélicos”, quais galos de briga opostos às pombas da paz... Que Deus abençoe uns e outros, e se possível os afaste de nós, pois deles só devemos desejar uma coisa: distância...