O homem sempre recusou que a morte fosse o fim. Os paleontólogos, descobrindo cavernas funerárias em diversas partes da Europa, descobriram a existência de um verdadeiro ritual cercando o fenômeno da morte. Nesses túmulos pré-históricos, ficou demonstrado que o cadáver era enterrado, amarrado, pintado de ocra vermelha e com a cabeça voltada para o lado onde o sol nasce. Todas essas coisas apontam para crenças mais ou menos robustas na continuidade da vida em outro plano. No Antigo Egito, depois da morte, a alma segue para o outro mundo a fim de ser julgada pelos quarenta e dois juízes de Osíris. Ali ela recitava a confissão negativa e tinha seu coração pesado, em uma balança, pelo deus Anúbis. Se passasse bem por esta prova, seguia para o Amenti, uma espécie de cópia do Egito objetivo, onde poderia viver de um modo bastante semelhante ao que viveu na Terra. No Amenti, a alma pode pescar, caçar ou ter o seu campo para cultivar.
Na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, as crenças não eram diversas. Ali se acreditava na existência de um lugar subterrâneo chamado Aralu, onde reinava a temível deusa Ereskigal. Ali viviam os mortos privados de alegrias da luz solar.
Os antigos judeus acreditavam que, depois da morte, as almas mergulhariam no Sheol. O profeta Isaias descreve acremente a chegada do rei da Babilônia a este mundo pavoroso: “O Sheol subterrâneo anina-se por tua causa à evolução da tua chegada. Em tua homenagem despertam as sombras de todos os potentados da Terra. Todos tomam a palavra para te declararem: Eis tu, assim, tão humilhado como nós, tornas-te-nos semelhante. O fausto é precipitado no Sheol, com a música das tuas harpas. Sob ti, estende-se uma camada de podridão, estás coberto de larvas”.
Na Grécia Antiga, as almas, depois que abandonam o corpo, partem para um lugar chamado Hades, que é também o nome do deus que ali governa. No Hades, os seres humanos vivem na forma de sombra, conservando, entretanto, a completa individualidade. No Hades, as almas continuam sofrendo ou tendo os prazeres, sentindo frio ou calor, tendo fome e sede. No Hades, as almas prosseguem preocupadas com aqueles que ficaram. No Canto IX da Odisséia, Ulisses se encontra com a sua mãe no Hades e o espírito se mostra muito bem informado sobre o que acontece com a sua família em Ítaca, principalmente quanto ao seu esposo Laertes, que continuava encarnado.
As religiões da Índia, tanto o Hinduísmo quanto o Budismo, admitem também que a vida não acaba com a morte. Para eles, depois da morte, as almas vão para uma outra dimensão chamada Reino de Yama, de onde, após um espaço de tempo indeterminado, voltarão à Terra em um novo corpo.
Os japoneses que cultuam o Shintoísmo, cultuam e veneram os espíritos de seus antepassados que eles chamam de kamis, um termo que equivale ao romano manes. O Shintoísmo é, portanto, uma religião doméstica e cada família possui em casa o seu altar. Os kamis, não raro, influenciam fortemente na vida dos encarnados.
As três religiões orientais do Irã (Pérsia), Masdeísmo, Mitraísmo e Maniqueísmo, acreditavam também que a vida não se acaba com a morte e apontavam para a possibilidade de um julgamento no outro mundo. Tais crenças imprimiam a essas religiões um forte caráter ético.
As religiões chamadas cristãs (Catolicismo e Protestantismo) são, por assim dizer, lagos onde deságua toda esta tradição, o Céu e o Inferno são, como se pôde ver, adaptações das respostas dadas aos povos antigos sobre a questão da outra vida. A Igreja Cristã primitiva, antes de Lutero, absorveu todos os aspectos mitológicos que não fossem conflitantes com sua doutrina e, com isso, plasmou umas respostas, mas que, de um certo modo, não tem a menor novidade em relação ao paganismo.