Eduardo Anandadeva é espírita e escritor vegano
Embaixador da ONG Mercy for Animals no Brasil
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De janeiro de 2012 a julho de 2016, o volume de buscas no “Google” pelo termo “vegano” cresceu 1000% no Brasil, já o crescimento do mercado de produtos veganos no Brasil tem sido da ordem de 40% ao ano, apesar da crise econômica. Quais seriam as causas e qual a sintonia desse fenômeno com a Doutrina Espírita?
Em primeiro lugar, é salutar mencionar que em julho de 2012, a conhecida “Declaração de Cambridge” foi assinada por um proeminente grupo internacional de cientistas para atestar que todos os mamíferos, aves e outras criaturas como, por exemplo, o polvo, possuem substratos neurológicos capazes de produzir estados afetivos, comportamentos intencionais e consciência de si e do mundo externo. Trata-se de inédito posicionamento da ciência sobre o misterioso mundo interno dos animais. Quando questionado sobre o manifesto, o neurocientista Philip Low, um dos mais importantes articuladores do manifesto, explicou que “isso quer dizer que esses animais sofrem” e que tal declaração “é uma verdade inconveniente”, afinal, segundo o cientista, “sempre foi fácil afirmar que animais não têm consciência”. A sua frase mais forte, de essência moral, e que ressalta o divisor de águas provocado pelo novo consenso científico foi a seguinte: “Não é mais possível dizer que não sabíamos”.
Portanto, hoje, admite-se que os animais, sejam os domésticos, sejam os ditos de consumo, como galinhas, porcos, peixes ou moluscos em geral possuem sentimentos como o medo, a alegria, a solidão, a ansiedade etc. Tal constatação, desta forma, está em harmonia com aqueles que adotam um estilo de vida que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade com os animais – filosofia de vida vegana. Ocorre que tanto as descobertas científicas quanto o crescimento do veganismo, nos últimos anos, apenas estão confirmando o que os espíritos, há décadas, já veem alertando a humanidade, por meio da mediunidade de Chico Xavier. Senão vejamos.
Na obra Emmanuel, que leva o nome do autor, ele vai revelar: “Os animais têm a sua linguagem, os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com atributos inumeráveis. São eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por isso, a sua proteção e amparo (...) Recebei com obrigação sagrada o dever de amparar os animais na escala progressiva de suas posições variadas no planeta. Estendei até eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá, mais profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e doces mistérios da vida”.
Especificamente quanto à nossa alimentação, o espírito Emmanuel foi questionado e no livro O Consolador respondeu: “A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivam numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos”. O que Emmanuel revela aqui é revolucionário, já que apenas ao final do século XX foi declarado pelas academias científicas, oficialmente, que a dieta vegetariana é saudável.
Acrescente-se, acerca do tema, trecho de igual ou maior profundidade, extraído da obra Missionários da Luz, em que o mentor Alexandre fala a André Luiz: “A pretexto de buscar recursos proteicos, exterminávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os tecidos musculares, roíamos os ossos. Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valores educativos, para melhor atender a obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência (...) Mas, na qualidade de filhos endividados para com Deus e a natureza, devemos prosseguir no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos para a nova era em que os homens cultivarão o solo da terra por amor e utilizar-se-ão dos animais com espírito de respeito, educação e entendimento”.
O espiritismo, portanto, nos informa que é nosso dever moral proteger e amparar todos os animais. Inclui-se aqui, pela similar atribuição de responsabilidade, a frase do neurocientista Philip Low, quando da “Declaração de Cambridge”: “A sociedade agora terá uma discussão sobre o que está acontecendo e poderá decidir formular novas leis, realizar mais pesquisas para entender a consciência dos animais ou protegê-los de alguma forma”.
Para reflexão final, registramos o alerta dado à humanidade pela espiritualidade no livro A Gênese (Capítulo VII, item 32): “O orgulho levou o homem a dizer que todos os animais foram criados por sua causa e para satisfação de suas necessidades”. Assim, propõe-se o seguinte questionamento aos leitores: O que dentro de nós está buscando justificar a manutenção de hábitos que prejudicam nossos irmãos mais próximos? Esta é uma resposta íntima e profunda, que cabe apenas a cada um, em seu momento de reflexão, buscar encontrar e superar, dentro de suas possibilidades pessoais e espirituais.
Notas:
1 http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1787773-pequenas-empresas-de-produtos-vegetarianos-crescem-40-ao-ano.shtml
2 http://fcmconference.org/
3 http://veja.abril.com.br/ciencia/nao-e-mais-possivel-dizer-que-nao-sabiamos-diz-philip-low/
4 Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel. O Consolador. FEB, 1941.
5 Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel. Emmanuel. FEB, 1938.
6 Francisco Cândido Xavier, pelo espírito André Luiz. Missionários da luz. FEB, 1945
7 Allan Kardec, A Gênese, 1868.