Aprendemos, tradicionalmente, a acreditar que existe uma força transcendental chamada destino que regula e orienta a nossa vida em um sentido alheio à nossa vontade. Os gregos chamavam essa força de Moira, palavra derivada de um verbo que significa dividir, partilhar. Desse modo, a moira de cada um, segundo os antigos gregos, seria a parte, o quinhão que cabe a cada ser humano na luta pela existência. Segundo este ponto de vista, tudo em nossa vida está determinado: o dia de nosso nascimento, do casamento, da morte e o tipo de trabalho que vamos exercer; ser pobre ou ser rico; ter esta ou aquela doença grave. Todas as coisas que nos acontecem é obra do destino e não há como mudar.
Uma pessoa que acredita nesta concepção rígida de uma lei inexorável que conduz nossa vida tende a se acomodar, já que seria impossível ao homem modificar os decretos do destino. Para que lutar contra o impossível? Pensa uma pessoa crédula no destino ante a uma dificuldade que ela acredita ser intransponível. Muitas vezes, ela poderia buscar uma solução para o seu problema, contudo, por acreditar que o seu destino é aquele renuncia à luta e se acomoda.
Uma outra dificuldade de quem acredita nesta ideia de destino é tornar-se presa fácil de charlatães que exploram a credulidade alheia em proveito próprio. O crente no destino, por acreditar que a sua vida e determinada por forças invisíveis, mas poderosas, procura se aproximar de pessoas que possuem “poderes” especiais que as faz conhecer o futuro por meio de cartas, bolas de cristal, movimento dos astros, consultas a espíritos através de búzios e outros recursos semelhantes.
Assim, essas pessoas ao invés de tentarem elas mesmas modificar as suas vidas, procuram conhecer o futuro por meio dessas técnicas mágicas, muitas delas fraudulentas, e são vítimas de engano ou mesmo de grosseira exploração. Tais pessoas infelizmente alienam o melhor de si mesmas e delegam o poder de mudar suas vidas pessoas outras que, em verdade, nada de real podem fazer por elas. Esquecem-se de que só nós podemos modificar a nossa vida realmente, se temos coragem para fazê-lo e determinação para enfrentar as dificuldades que iremos encontrar em nosso projeto de mudança.
Quem decide o destino do Homem? A resposta a esta pergunta, em geral, é Deus. Esta resposta, entretanto (já criticada na República de Platão), não possui o menor sentido, principalmente, para aquele que já possuem uma imagem mais depurada da Divindade. O Deus dos cristãos segundo o Evangelho de João é um deus de Amor e não pode nos impor um destino ruim, uma vida de sofrimentos injustificados.
Além disto, como poderia nos punir se, conforme a ideia de destino não temos escolha entre o bem e o mal, já que esta ideia elimina o livre-arbítrio. Em verdade, porém, Deus nos deu liberdade de escolha e o homem, nesta vida, colhe os frutos que plantou em outra. Somos autores e atores do drama da existência. Só assim podemos ser responsabilizados pelos maus atos que praticamos e recompensados pelo bem que fazemos.
A esta altura podemos perguntar: pior que o homem acredita no destino? A resposta nos parece bem simples: este tipo de crença tira do homem toda a responsabilidade por seus fracassos durante a vida. Desta maneira, se alguém fracassa pode dizer: o meu destino é este; desde menino não tenho sorte, só me dou mal e, por mais que eu faça, nada acontece de bom comigo. Destino é destino. Uma outra vantagem desta crença é que ela diminui a minha sensação de culpa.
Com isso o fracassado pode dizer: eu não fracassei por ser uma pessoa mal preparada, negativa, desajustada, preguiçosa, de modo nenhum. Eu fracassei porque estava escrito no meu destino que eu fracassaria. Assim, o ego do fracassado fica protegido, já que ele projetou o seu fracasso no destino e com isso diminui a culpa.
É claro que, se uma pessoa abandonasse esta ideia de destino cego e inexorável e passasse a encarar a sua vida como um processo conduzido por ela própria, ficaria mais atenta e mais competente para reorientar sua vida em um sentido mais positivo. À medida que uma pessoa faz bom uso de sua liberdade e não mais aceita o destino com um gigante pavoroso que a mantém encarcerada em uma vida medíocre ou improdutiva, aumenta a sua estatura psicológica e se torna verdadeiramente dona de si.
Tomando esta atitude, a pessoa jamais não mais temerá as forças ocultas que, supostamente, dirigiria a sua vida e não choramingará quando a sua vida estiver menos prazerosa. Ao contrário, deverá parar e perguntar a si mesmo: O que está acontecendo comigo? Onde estou errado? O que posso fazer para mudar este estado de coisas? Com esta atitude, a pessoa retoma o leme do barco da vida e enfrentará com galhardia o mar tempestuoso sem naufragar.
Sobre a pessoa que decidiu conduzir ela mesma o barco da vida, poderão soprar os ventos da desarmonia; a neblina da dúvida poderá cobri-la; os rochedos das paixões poderão ameaçar seu barco; mas ela está no leme firme, segura, resoluta, sem medo, sabendo para que direção deseja ir. Esta pessoa terá por certo de enfrentar uma dura luta contra as intempéries da existência, contudo, por ter um projeto de vida e um mapa que a oriente, alcançará um porto seguro.