
“Jesus olhava em torno de si para ver quem havia feito aquilo. Então, a mulher amedrontada e trêmula, sabendo o que lhe havia sucedido, foi e caiu-lhe aos pés e contou-lhe toda a verdade. E Ele disse-lhe: ‘Minha filha, a tua fé te salvou; vai em paz e fique curada desse teu mal’.” (Marcos 5, 32-34)
André Monteiro
Programa Debate na Rio
Rádio Rio de Janeiro
A passagem retrata o caso da mulher hemorrágica, que durante doze anos fora vitimada pelo fluxo de sangue, sem nenhuma cura pela medicina da época. Ouvira falar de Jesus, buscou encontrá-lo e, no meio da multidão, por detrás do Mestre, tocou o seu manto, pois pensava: “se ao menos tocar suas vestes, serei salva”. E logo em seguida ao toque, sua hemorragia estancou e ela se sentiu curada. O Doce Rabi da Galileia, sentindo a emanação fluídica que lhe havia escapado, pergunta aos discípulos, no meio da multidão: “Quem tocou minhas roupas?”. Os discípulos disseram-lhe: “Vês a multidão que te comprime e perguntas: ‘Quem me tocou?’”. A resposta chegou a ser cômica. Entretanto, o evento é de singular reflexão. Mesmo de forma inconsciente, mas tendo em vista o poder da fé da mulher, Jesus a curou.
O Fluído e o Magnetismo
Em o capítulo XIV da obra A Gênese, item 14, o insigne codificador esclarece sobre a ação dos espíritos na manipulação dos fluídos pela força do pensamento: “Pelo pensamento e a vontade, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual”.
No processo de cura, em especial, naquelas em razão da aplicação de passes, a mesma se opera com base na manipulação fluídica narrada acima por Allan Kardec, ou seja, pela força do pensamento, o magnetizador, auxiliado também pelos espíritos desencarnados, manipula o fluido necessário ao paciente para que as células do corpo físico prejudicadas sejam substituídas. Neste caso, identificamos a vontade e o pensamento do agente intervindo diretamente no processo. Entretanto, na passagem narrada, não houve a intervenção do Mestre (curador) pelo seu pensamento e pela sua vontade, já que sequer havia notado a presença da mulher no meio da multidão.
Ainda em A Gênese, agora no capítulo XV “Os Milagres do Evangelho”, Allan Kardec questiona e esclarece o fato ocorrido: “Mas, por que essa irradiação se dirigiu para a mulher e não para outras pessoas, uma vez que Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão?”. O próprio codificador responde a sua indagação, pois, para ele o caso era simples, pois o fluido, nos processos de cura, “pode ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra pela fé do doente”. Esclarece ainda o codificador que em alguns casos é necessário a simultaneidade dos dois fatores: a vontade do curador e a fé do paciente, em outras basta uma só, como foi o caso que estudamos.
Correntes Mentais Com As Quais Nos Associamos
Em o livro Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, o espírito Emmanuel, ao prefaciar a obra, informa que todos nós estamos ligados por faixas de sintonia: “E, na grande romagem, todos somos instrumentos das forças com as quais estamos em sintonia. Todos somos médiuns, dentro do campo mental que nos é próprio, associando-nos às energias edificantes, se o nosso pensamento flui na direção da vida superior, ou às forças perturbadoras e deprimentes, se ainda nos escravizamos às sombras da vida primitivista ou torturada”.
Aqui retrata o benfeitor o problema da afinidade mental. A nossa personagem do Evangelho, buscou através do pensamento, da vontade, a cura. Não sabemos como era o seu comportamento tampouco sua edificação moral, mas a mesma obteve permissão através das leis divinas para a cura, mesmo Jesus agindo de forma inconsciente. Afirma ainda o benfeitor que “Cada criatura com os sentimentos que lhe caracterizam a vida íntima emite raios específicos e vive na onda espiritual com que se identifica”. No caso em tela, a mulher hemorrágica entrou em sintonia com as correntes benéficas do Mestre Jesus.
A mesma deveria possuir méritos para isso. Conforme afiançou Emmanuel, entendemos que para entrarmos em sintonia com os benfeitores espirituais, para conseguirmos o seu auxílio, como o que ocorreu com nossa personagem, é necessário a prática no bem, o amor, o estudo, e o esforço permanente no nosso burilamento moral. Assim, ter fé não é apenas acreditar, ou querer, é ter mérito para atingir o objetivo almejado, é agir com um comportamento Cristão, por fazer merecer o que queremos.
Notas bibliográficas
- Luiz, André (Espírito). Nos Domínios da Mediunidade; [psicografado por] Francisco Cândido Xavier. – 34. ed. – 4. Imp. – Rio de Janeiro: FEB, 2011.
- Kardec, Allan, 1804-1869. A Gênese / Allan Kardec; tradução de Guillon Ribeiro. – 2. ed. – Rio de Janeiro: FEB, 2011.
- Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada. – 1 ed. 1 reeimp. – São Paulo: Paulus, 2013.