
Jesus, o Cristo de Deus, trazendo a lei do Amor, como a Segunda Revelação da lei de Deus, valorizou o trabalho como uma lei universal: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”. (2)
Até a Idade Média, o trabalho era visto como meio de sobrevivência para os pobres e seus descendentes. Os artesãos, como eram denominados, trabalhavam em casa. A burguesia, a classe nobre, não trabalhava. Somente no século XVIII, na Revolução Industrial, com o surgimento do ferro e do vapor, as fábricas começaram a precisar de mão de obra. No ano de 1903, o engenheiro americano Frederick Winslow Taylor iniciou seus estudos sobre a Ciência da Administração. Desenvolveu técnicas de racionalização do trabalho operário, especializando a mão de obra e reduzindo o custo. Posteriormente escreveu o livro Os Princípios da Administração Científica.
Nesse mesmo período, Henry Ford criou a indústria automobilística com a produção de automóveis em série e, no dia 5 de janeiro de 1914, começou a pagar aos seus empregados, cinco dólares por dia, instituindo o novo horário de trabalho, de 9 horas, para 8 horas por dia, durante cinco dias da semana, respeitando e valorizando o ser humano.
O trabalho foi classificado por Allan Kardec como a segunda lei entre as dez leis morais necessárias ao nosso aprimoramento; entretanto, em sua raiz etimológica, o trabalho é uma tortura, do latim tripaliare, martirizar com o tripalium, um instrumento composto por três varas unidas para a punição.
Kardec, como sempre fazia na Codificação, perguntou aos Espíritos sublimados, responsáveis pela Terceira Revelação, o que pensavam dessa divisão da lei natural em dez partes e recebeu como resposta:
“Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e de natureza a abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial”. (3)
Os animais trabalham para o progresso da vida. As abelhas constroem colmeias e fabricam o mel, o castor constrói diques, a formiga transporta folhas, o joão-de-barro constrói sua casa, assim como todos os vegetais e animais funcionam como uma unidade para o equilíbrio do ecossistema. Os animais e os vegetais executam as suas obras, atendendo às necessidades da evolução, como instrumentos de Deus.
Quando há um desastre na natureza, como o ocorrido em Mariana, Minas Gerais, em 2015, com a destruição da barragem do Fundão, em que o deslocamento do barro contaminou as águas do rio Doce e, com isso, os peixes e os sapos morreram deixando de executar o seu trabalho – o de comer os mosquitos, inclusive os mosquitos Aedes aegypti, responsáveis pela febre amarela –, segundo a bióloga da Fiocruz Márcia Chame, causa-se um desequilíbrio ecológico.
O trabalho é lei da natureza, é lei universal. Tudo trabalha, em nós e fora de nós para o progresso e elevação do Espírito. Trabalham os átomos, as células, os animais internos e externos. “Temos mais bactérias dentro do intestino do que células no corpo”. (4)
“E no fluido cósmico, hausto do Criador, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano”. (5)
Estamos escrevendo sobre o trabalho no momento em que há um grande número de desempregados em todo o mundo. O Brasil, com doze milhões de desempregados, tornou-se o sétimo país no ranking de desemprego do planeta. Entretanto, mesmo sabendo da necessidade do trabalho remunerado, para angariar o nosso sustento e o sustento da nossa família, o trabalho existe de outras formas. Por isso, ele é considerado lei moral.
O insigne Allan Kardec perguntou aos Espíritos superiores, no surgimento do Espiritismo, no período da concepção de O Livro dos Espíritos:
“— Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais? ”
E as Entidades Sublimadas lhe responderam, categoricamente:
“— Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho”. (6)
Nesta resposta “toda ocupação útil é trabalho”, os Espíritos nos informam, com clareza, que precisamos ocupar o nosso tempo, que é um patrimônio divino à nossa disposição, em trabalhar pelo bem do próximo, o “que constitui o objetivo único da vida”. (7)
Servir ao próximo é a interconexão de todos os seres nas alegrias da liberdade de escolha.
André Luiz conta, no livro Nosso Lar, como foi o seu primeiro dia de trabalho nas Câmaras de Retificação da Colônia: o assistente Tobias abriu a porta de uma grande enfermaria com trinta e dois homens, iniciou a aplicação de passes de fortalecimento nos dois primeiros, quando começaram ambos a expelir negra substância pela boca, espécie de vômito escuro e viscoso, com terríveis emanações cadavéricas. Narcisa, a servidora daquele local, fazia o possível para atender prontamente à tarefa da limpeza, mas debalde. Grande número deles deixava escapar a mesma substância negra e fétida.
“Foi então, que, instintivamente, me agarrei aos petrechos de higiene e lancei-me ao trabalho com ardor. O serviço continuou por todo o dia, custando-me abençoado suor, e nenhum amigo do mundo poderia avaliar a alegria sublime do médico que recomeçava a educação de si mesmo, na enfermagem rudimentar”. (8)
O psiquiatra Frank Caprio, no livro Ajuda-te Pela Psiquiatria!, afirma: “O trabalho, tal como o amor, é medicinal, cura as enfermidades da alma”. (9)
Muita paz!
Notas bibliográficas:
1 – A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Gênesis, 3, 19.
2 – Idem, ibidem, João, 5,17.
3 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3ª, capítulo I, questão 648 – Feb.
4 – O Cérebro Desconhecido – Helion Póvoa – Cap. 5, pág. 37 – Ano 2002 – Ed. Objetiva.
5 – Evolução em Dois Mundos – André Luiz – Chico Xavier – 1ª parte – Feb.
6 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3ª – Cap. III – Q. 675 – Feb.
7 – Idem, ibidem, cap. X, Q. 860.
8 – Nosso Lar – André Luiz – Chico Xavier – cap. 27 – página 151 – Feb.
9 – Ajuda-te Pela Psiquiatria – Frank S. Caprio – Ed. Ibrasa.