
“Temei conservar-vos indiferentes, quando puderdes ser úteis”. ESE - Cap. XIII,17.
A questão 674 do LE nos esclarece que o trabalho é uma lei da natureza e por isso uma necessidade, e na resposta à pergunta 675 os espíritos superiores informam que trabalho é toda ocupação útil, portanto, não só o que conhecemos como as ocupações materiais. Daí a pergunta: Estamos ocupando nosso tempo e nossa encarnação com utilidade para nós mesmos e para os outros?
No livro O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, segunda parte, capítulo 7, onde traz as comunicações dos espíritos endurecidos, vamos encontrar Angèle, um espírito que se apresenta espontaneamente e revela que nada fez de útil em sua última existência. Diz não ser feliz, mas não se arrepende de suas faltas, não sente remorso, mas teme o futuro, o desconhecido. Na juventude se ocupou das diversões e depois nada fez, pois tudo a entediava, inclusive o marido e os filhos. Para cuidar da casa, tinha uma criada. Até para orar não tinha disposição.
A vida de Angèle foi inútil ao bem, porque não “basta se abster de cometer as faltas, é necessário praticar as virtudes que lhe são opostas”. O vazio era uma punição para esse espírito.
Para termos paz de espírito nesta e na outra vida, é necessário colocar corpo e espírito em atividade, burilando a inteligência, destinando mãos ao serviço do bem, ajudando os que se encontram na retaguarda e refinando nossos sentimentos.
O mundo de regeneração não nos será outorgado pelo Pai por um decreto divino, vamos conquistá-lo à custa do nosso suor.
Através da psicografia de Chico Xavier, Humberto de Campos nos traz um exemplo do valor do trabalho na história de Cecília, uma moça de sentimentos nobres, mas que tinha aversão ao labor. A mãe a convocava aos serviços da casa, mas Cecília preferia o deslumbre dos mundos felizes, das descrições de beleza dos mundos divinos, esquecendo-se que, para chegarmos nestes mundos, precisamos trabalhar.
Com escusas para o trabalho e apartada da vida real, Cecília voltou à pátria espiritual bem antes dos 30 anos. Despertou sozinha no mundo espiritual, caminhou longos dias até encontrar uma colônia espiritual onde todos trabalhavam. Pediu que a acolhessem, mas o benfeitor esclareceu que só podia trabalhar quem se preparou para tal. Perdida, rogou ajuda à Teresa de Jesus, de quem era profunda admiradora. A prece de Cecília foi ouvida e Santa Teresa a esclareceu que, no mundo espiritual, o quadro de trabalho estava completo, surgindo apenas uma vaga num asilo de loucos na Espanha. Cecília aceitou a oportunidade de trabalho e, naquele mesmo dia, voltava à Terra, convicta de que, “auxiliando os desequilibrados, havia de encontrar o próprio equilíbrio”.
Os casos acima servem para nos deixar bem alertas. Muitos de nós trabalham, se desdobram em dois, três empregos ou mais, mas quantos servem ao bem? Quantos se preocupam em ser úteis, não só num trabalho voluntário, mas até mesmo dentro da família, entre os amigos?
Uma conversa fraterna com paciência, uma ligação para saber se determinada pessoa está bem, um bilhete de bom ânimo. São tantas as formas de servirmos aos bem, fazendo um pouco de luz no caminho do outro. Se olharmos com atenção, vamos achar muitas oportunidades de sermos úteis. E de luz em luz que fizermos, abrimos verdadeira clareira nos caminhos de nosso espírito imortal.
Então, mãos à obra! Há muito trabalho a ser feito!
Bibliografia:
E.S.E. Cap. XIII, 17, FEB.
O Céu e o Inferno, Cap.7
Reportagens de Além Túmulo Cap.XX - Francisco Candido Xavier/ Humberto de Campos (espírito). FEB.